Modelo de educação popular representou avanço em Juazeiro

20 de Sep / 2018 às 16h30 | Variadas

O professor José Roberto Gomes Rodrigues, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Campus III (Juazeiro), lançará o livro de sua autoria “Ensino médio na Bahia e o Ginásio Ruy Barbosa – análise sócio-histórica da criação e consolidação de uma instituição escolar”. O lançamento será no próximo dia 27 deste mês, quinta-feira, às 19h, nas instalações daquele ginásio, hoje, com o nome de Colégio Estadual Ruy Barbosa, fazendo parte das comemorações dos 65 anos da instituição.

O Ginásio Ruy Barbosa, criado no ano de 1953, pelo prof. Agostinho Muniz e destinado à população mais carente da cidade, foi uma instituição revolucionária e contou até com a contribuição do educador baiano Anísio Teixeira, que participou de discussões para definir o modelo, quando lá esteve, pouco antes de ser criado o ginásio.

Tese de doutorado

O livro do professor José Roberto Rodrigues, que leciona a disciplina História da Educação e no Mestrado da Uneb-Juazeiro, é resultado de pesquisas feitas para a tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Entusiasmado, agora, ele afirma que o Ginásio Ruy Barbosa foi um avanço para a educação das famílias pobres, pois a cidade dispunha apenas de um ginásio privado, ao qual somente os mais ricos tinham acesso. Assim, quando da criação do Ruy Barbosa, foi declarada uma “guerra simbólica, institucional, emocional e de nervos, em um campo de relações de forças”. O livro traz toda a análise da história dessas relações e como tudo isso aconteceu.

“Esse ginásio não é uma instituição qualquer, que se cria e se instala, inaugura-se, desenvolve-se, consolida-se, com seu corpo de agentes, alunos, professores, mas, tem uma existência social”, diz o professor José Roberto, na apresentação do livro. A história demonstra que, no princípio, apesar de parecer um simples estabelecimento de ensino público e gratuito, numa cidade do interior da Bahia, foi um caso que mereceu estudos, para demonstrar que ele se inscreveu nos registros históricos da educação não apenas da Bahia, mas, do ensino médio do Brasil.

História e cadeiras

O município de Juazeiro, na época da criação do Ruy Barbosa, tinha cerca de 35 mil habitantes e dispunha do Ginásio Juazeiro (1946), hoje denominado de Colégio Dr. Edson Ribeiro. Apesar da vizinhança com a cidade de Petrolina-PE, interligada pelo rio São Francisco, possibilitar, também, o acesso aos ginásios Dom Bosco e Maria Auxiliadora, todos privados, ali só estudavam os ricos. Em Juazeiro, quando concluíam a chamada escola primária, os filhos das camadas menos favorecidas da população ficavam sem ter onde estudar.

A ideia da criação de um ginásio público surgiu com o prof. Agostinho Muniz, que juntou várias personagens históricas, como professores, médicos, comerciantes, bancários, comerciários, artesãos, fieis de igrejas e outros, que criaram a Cooperativa Cultural de Juazeiro Responsabilidade Ltda. Conta o prof. José Roberto que, no princípio, a escola era carente de tudo. Como não dispunham de instalações, resolveram ocupar um prédio que estava sendo construído pelo Governo do Estado, para outra finalidade, na periferia da cidade, no meio de algumas roças. Nos primeiros tempos, o ginásio não possuía móveis e os alunos levavam as suas próprias cadeiras, usando toscas mesas feitas com lajotas de cimento, sobras da construção do prédio. Os professores, também, não sabiam quando ou como seriam remunerados. Contudo, o então Governador do Estado, Antônio Balbino, admirado com o projeto, estadualizou o ginásio, em agosto de 1956, e pagou os salários atrasados.

Escola diferente

Quando o projeto para a criação do Ginásio Ruy Barbosa começou a ser esboçado, por volta do final da década de 1940, o prof. Agostinho Muniz passou a contar, sobretudo, com o apoio de Expedito Nascimento, que chegara a Juazeiro, para trabalhar na Caixa Econômica Federal. Ele tinha vindo de Recife, onde estudara em seminário católico, e quase se tornou padre. Logo que convidado para ensinar Latim e Português no Ruy Barbosa, ele aceitou, com entusiasmo, e passou a incentivar o projeto, tornando-se companheiro constante. Foi ele quem contou, recentemente, pouco antes de falecer, que acompanhou um longo encontro, em Juazeiro, entre o prof. Agostinho Muniz e o educador Anísio Teixeira, que viria, alguns anos depois, a apresentar o excepcional projeto da escola pública em tempo integral. Disse Expedito que os dois educadores combinavam perfeitamente com as ideias para a criação de uma escola popular, na qual os alunos teriam atividades diversas, curriculares e extracurriculares. Teria havido, apenas, uma pequena divergência.

O ponto de discordância, relembrava o prof. Expedito, admitindo, porém, que nem de tudo se recordava, provavelmente, foi porque, enquanto Anísio imaginava a permanência dos alunos na escola em tempo integral, o interlocutor defendia uma escola na qual os alunos ficassem, durante um período, em tempo integral, mas, no outro, “a escola deveria ir conviver com a realidade dos alunos, sobretudo, nas periferias da cidade e nas roças em que eles trabalhavam, trocando com eles saberes para o enfrentamento das dificuldades e da sobrevivência”. E o Ginásio Ruy Barbosa inovou nesse detalhe, pois, naquela época, era comum ver o prof. Agostinho Muniz dando aulas de ciências aos seus alunos, circulando pelas roças, em estudos sobre a natureza, o meio ambiente e a dura vida no sertão agreste.    

Demissão e gratidão

A criação do Ruy Barbosa sempre foi causa de polêmica e briga partidária em Juazeiro. Alguns líderes e políticos locais fizeram de tudo para impedir o seu funcionamento. Assim, quando da mudança do governador do Estado, já na gestão do general Juracy Magalhães, o prof. Agostinho Muniz foi demitido do cargo, em 1959. Então, professores, alunos e servidores resolveram prestar-lhe homenagem, fazendo uma passeata pela cidade, na qual se destacaram duas faixas: “Preito de gratidão ao prof. Agostinho Muniz” e “O educador deve ser respeitado”. Logo depois, adoentado, tendo sofrido um acidente vascular cerebral (avc), ele morreu, aos 58 anos de idade.

Composto pela Editora e Livraria Appris, do Paraná, o livro é dirigido ao público do meio acadêmico, das ciências humanas e sociais, especialmente do campo educacional e da história da educação. A edição tem 273 páginas e custará R$ 62,00, sendo disponibilizado também em formato digital, e-book, pelo preço de R$ 27,00. Para o lançamento, estão sendo convidados, especialmente, o Reitor da Uneb, prof. José Bites de Carvalho; o Secretário da Educação do Estado, Walter Pinheiro; o Reitor da Ufba, João Carlos Sales, assim como a família do prof. Agostinho Muniz. O autor pretende realizar uma mesa redonda, dia 26/09, 19h, no auditório do DCH da Uneb/Juazeiro, bem como quatro outros eventos, que poderão ser programados, dependendo de acertos com as Secretarias de Educação de Juazeiro e de Petrolina, e mais uma reunião, para interessados, na Fundação João Fernandes da Cunha, em Salvador.

Por Agostinho Muniz Filho - Jornalista Foto Geraldo José

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