Patativa do Assaré 110 anos. Uma poesia que denunciou as injustiças sociais

05 de Mar / 2019 às 23h00 | Espaço do Leitor

Antônio Gonçalves da Silva nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural do município de Assaré, sul do Ceará. 

As penas plúmbeas, as asas e cauda pretas da patativa, pássaro de canto enternecedor que habita as caatingas e matas do Nordeste brasileiro, batizaram o poeta, que passou a ser conhecido em todo o Brasil como Patativa do Assaré. 

Analfabeto, "sem saber as letra onde mora", como diz num de seus poemas, sua projeção em todo o Brasil ganhou uma dimensão quando na década de 1960, a música Triste Partida, toada de retirante foi gravada por Luiz Gonzaga.

Sua verve poética serviu para denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do povo nordestino, que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir a condições climáticas e políticas desfavoráveis.

A esse fato se refere a estrofe da música Cabra da Peste:

"Eu sou de uma terra que o povo padece

Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome.
Olho para a fome, pergunto: que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará."

Cantando para seu povo, brincou poeticamente com o fato de estar sendo gravado em disco na abertura de A Dor Gravada:

"Gravador que está gravando
Aqui no nosso ambiente
Tu gravas a minha voz
O meu verso e o meu repente
Mas gravador tu não gravas
A dor que meu peito sente".

Nota: Patativa morreu em 8 de julho de 2002.

Luiz Nassif

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