ARTIGO - SER MÉDICO, UM MAL SEM REMÉDIO (II PARTE)

15 de Apr / 2019 às 23h00 | Espaço do Leitor

Dr. Carlos Augusto Cruz

Médico/Advogado

A sociedade de Juazeiro tem perdido, ultimamente, alguns dos seus grandes homens.

Quando falo a palavra homem, não estou particularizando antes, porém, generalizando. Estou referindo-me ao gênero humano, consequentemente, nele estão incluídos homens e mulheres.

Um dos últimos a nos deixar, foi o Dr. Antonio Leovigildo de Araújo Costa, popularmente conhecido pelo apelido carinhoso de Dr. ALAC, que são, exatamente, as iniciais do seu nome, apelido este que o mesmo ganhou desde a sua juventude.

Dr. Alac foi um dos percussores da medicina em nossa cidade, mais precisamente da Ginecologia e Obstetricia. Muitos juazeirenses e petrolinenses nasceram pelas suas mãos e, a sua folha de serviços prestados a nossa sociedade e Região é, vastíssima.

Homem empreendedor, junto com um grupo de colegas, fundou o Hospital Semec, que durante várias décadas serviu a nossa coletividade e a região, até que, há cerca de dez anos, quando determinado gestor do município, resolveu acabar com a saúde em nossa cidade, tendo desmontado e fechado os principais Serviços de Saúde, alguns deles existente há mais de um século, o Hospital Semec foi também nessa enxurrada de desmando e absurdo, tendo sido um dos atingidos, obrigando-o a fechar as suas portas.

Posso afirmar, na condição de médico que sou, como também na condição de haver trabalhado naquele Hospital até o seu fechamento, tendo convivido com Dr. ALAC, como eu convivi, que começou alí, no ato do fechamento do Semec, o seu definhar, o seu caminhar para a morte.

Sua paixão por aquele Hospital era tanta que não cabia na sua cabeça porque uma instituição feita com tanto carinho, que funcionava tão bem estava fadada a fechar as suas portas e a deixar tanta gente sem assistência.

Por isso todas as tardes, ele se dirigia para lá, e lá permanecia até por volta das dezoito horas, caminhando pelos corredores vazios, meditando, refletindo, como se perguntasse a si mesmo:

- Onde anda a efervescência deste hospital ?

- Onde anda o Semec de outros tempos ?

Como não tinha resposta, tenho certeza que muitas vezes chorava em silêncio. Ele não se conformava com o fechamento do seu Hospital, do qual ele foi sempre foi o Diretor. Para ele ainda iria ocorrer um milagre que o faria reabrir.

Assim ele se manteve até bem pouco tempo, até quando as suas forças começaram a faltar.

Daí para o seu desenlace com a vida foi um pulo, até que na sexta-feira, dia 05 de abril, o Professor, ou o Mestre, tal como eu lhe tratava, devido ao seu ar professoral para dirigir-se às pessoas, veio a falecer.

Juazeiro toda lamentou o desenlace daquele homem que passou toda sua vida dedicada a medicina e , dentro dela, dedicado a fazer vir ao mundo centena dos juazeirenses, petrolinenses e das demais regiões adjacentes a Juazeiro.

Assim é que se faz um Médico! Assim é que um Médico se realiza, no contato com a comunidade, sem que em cada paciente ele enxergue apenas um cifrão e, sem que ele se avilte em falar em dinheiro diante da doença do paciente que lhe é apresentado, antes de falar no seu tratamento e na sua possibilidade de cura.

Vamos todos sentar muitas saudades sua Dr. ALAC! A comunidade de Juazeiro e Região, desde muito, já sente a sua falta. O Hospital da Cidade Celeste ganhou um técnico, de mão cheia, para ajudar aos que sofrem; porque “ser médico é um mal sem remédio”. Para os que sabem sê-lo.

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