PESQUISA REVELA QUE O RIO SÃO FRANCISCO, ENTRE PETROLINA E JUAZEIRO ESTÁ CADA VEZ MAIS SECO

09 de Aug / 2019 às 13h43 | Variadas

"Olhando a situação do rio São Francisco dá vontade de chorar. Convivo dentro do rio, dia e noite, madrugadas e sinceramente só Deus o vai salvar. A  imagem é desoladora. É dramático olhar o rio. A água acabou em vários pontos do Velho Chico e esse rio está morrendo, vai respirando cada dia menos e devagarinho."

O lamento é do pescador, Tadeu Reis da Costa. Ele já foi presidente da Associação dos Pescadores Profissionais da Ilha do Fogo. Tadeu afirma que vai completar no próximo mês de outubro 63 anos e aos cinco já acompanhava o pai nas pescarias pelas águas do Rio São Francisco. "A  imagem é desoladora. É dramático olhar o rio. A água acabou em vários pontos do rio e esse rio está morrendo, vai respirando cada dia menos devagarinho.".

O que Tadeu e os demais pescadores já anunciavam e pediam providências, torna-se agora uma "verdade cientifica". Os Técnicos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) estiveram esta semana em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, e em Juazeiro, na Bahia, para medir a quantidade de água do rio São Francisco.

O trabalho foi feito a serviço da Agência Nacional de Águas (ANA). Os resultados mostram que o Velho Chico perdeu muita água ao longo dos últimos 30 anos. Situação que preocupa quem depende do rio.

Para fazer a medição, os técnicos utilizaram um aparelho que emite ondas sonoras. Essa medição é feita a cada dois meses e os dados são comparados com os que já foram coletados em anos anteriores. O objetivo é saber a quantidade de água que o rio São Francisco já perdeu, e em quanto tempo isso aconteceu.

Os números atualizados pela equipe do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco apontam para a prática de defluência média de 450 metros cúbicos por segundo (m³/s) em Três Marias até o final do período seco na bacia, ou seja, até o final de novembro e a manutenção de 800 m³/s em Xingó (AL) no mesmo período.

Os primeiros registros são da quantidade de água do Velho Chico datam de 1980. Na época, a vazão de água era de 2 milhões e 250 mil litros por segundo. Em 1990, eram 1 milhão e 700 mil litros por segundo. A média se manteve até 2010. Em 2015, atingiu um milhão de litros. Hoje, passam 900 mil litros por segundo.

No ano de 2016, Um estudo apontou que o bioma caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, está em sério risco de extinção por conta das mudanças perpetradas no Rio São Francisco nas últimas duas décadas.

A caatinga ocupa, ainda, 10% do território brasileiro e, apesar do seu aspecto agreste e seco, é um bioma muito rico em biodiversidade e importantíssimo para a manutenção do equilíbrio ecológico da região à qual pertence.

O estudo de José Alves Siqueira, professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, Pernambuco que resultou na publicação do livro "Flora das caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação", vem acrescentar uma nota de alarme à situação de degradação acelerada que este bioma vem sofrendo desde a década de 1990.

Antes eram os desmatamentos, a transformação do uso da terra para a monocultura de algodão, o uso de maquinário pesado que destrói a estrutura do solo e agora, nos últimos anos especialmente, a redução drástica da vazão do único rio que banha a caatinga, o Rio São Francisco.

“Historicamente falando, realmente existe uma tendência de diminuição da vazão. Especificamente a partir de 2014 pra cá, houve uma diminuição das séries históricas de chuva. Então, uma das principais variáveis neste processo de diminuição de vazão realmente é a diminuição das chuvas nas cabeceiras dos principais afluentes do rio São Francisco”, explica Rebeca de Jesus Barbosa, técnica em geociências do CPRM.

Redação Blog Foto: Ney Vital

© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.