Suspensão de investimentos coletivos pelo BNDES afeta famílias do Semiárido

11 de May / 2021 às 08h30 | Variadas

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) suspendeu os investimentos financeiros em grupos, associações e cooperativas da agricultura familiar, assessoradas pelo Projeto Semiárido Produtivo.

O montante estimado em R$1.800.589,14, deixará de ser investido em 17 unidades coletivas de produção no Semiárido, o que traria impacto positivo para aproximadamente 1.200 pessoas nos estados da Bahia, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Alagoas.

Em carta enviada ao Irpaa, o Banco afirma que a suspensão do apoio é resultado das novas diretrizes estratégicas do BNDES. O Banco está construindo novas prioridades de investimento, a exemplo da educação e da saúde. A carta foi socializada durante um encontro virtual, realizado na última semana de abril. O evento reuniu representantes dos grupos assessorados, do BNDES e da equipe do Irpaa.

A interrupção definitiva dos investimentos acontece no período em que o Brasil retornou para o mapa da fome e segundo o 'Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil', a fome está presente em 12% dos domicílios das populações rurais do país. O corte de investimentos nos empreendimentos que geram alimento e renda para agricultores familiares pode aumentar a situação de insegurança alimentar no campo.

A expectativa de apoio animou as famílias da comunidade Sítio Alegre, município de Palmeira dos Índios, em Alagoas. O projeto "gerou na gente o processo de reorganização dos nossos quintais produtivos em relação à questão das frutas, o plantio de novas espécies. As famílias criaram a expectativa que iriam beneficiar o que já vinham produzindo, mas também aumentaram a sua capacidade produtiva", explica José Hélio Pereira, morador da comunidade e um dos beneficiários do projeto.

A comunidade Sítio Alegre seria beneficiada com a reforma da Agroindústria Comunitária de Beneficiamento de Frutas e aquisição da câmara fria, que otimizaria o armazenamento das frutas e possibilitaria maior produção de polpas. "Há vários anos a gente trabalha com a produção de polpa. Hoje nós temos uma pequena produção, devido a essas condições [ausência da câmara fria] (...) Infelizmente nossas comunidades, nossas famílias, não dispõe de recursos para fazer as melhorias necessárias no espaço da agroindústria, principalmente nesse período, onde a pandemia foi muito prejudicial para os nossos processos de produção", argumenta Hélio. Esse impacto também atinge comunidades de Serra das Pinhas, Monte Alegre e Serra Bonita, que seriam beneficiadas com a reestruturação da agroindústria.

Na Bahia, a suspensão do investimento coletivo adiou o sonho da Cooperativa Agropecuária Familiar de Massaroca e Região (Coofama), em ampliar o escoamento dos seus produtos. A comunidade de Canoa, no Distrito de Massaroca, em Juazeiro, conta com o Entreposto de Ovos da Caatinga. O grupo já comercializa para o mercado atacadista e varejista, mas ainda existem barreiras a serem transpostas, como conta Delma Lino, membro da cooperativa. "Hoje, nosso maior desafio é no escoamento da produção", explica a jovem. O desafio poderia ser superado com a aquisição de um veículo, compra prevista pelo Projeto Semiárido Produtivo. "Criamos uma expectativa com esse investimento (...) é uma tristeza que tudo que se tinha planejado vai ficar pra depois", compartilhou Delma.

O Semiárido Produtivo assessora diretamente 400 famílias, em 27 municípios, nos estados da Bahia, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Alagoas, sendo executado pelo Irpaa, com o apoio do BNDES e execução prevista entre 2017 e 2021. O projeto conta com parcerias locais e tem como objetivos incentivar os sistemas produtivos, melhorar a segurança alimentar, estimular a geração de renda e disseminar a proposta da Convivência com o Semiárido a partir das ações de Assessoria Técnica e Extensão Rural (Ater) e estruturação individual e de grupos produtivos.

O investimento coletivo poderia ser uma ponte para facilitar o escoamento da produção e a geração de renda para as famílias assessoradas, mas a interrupção dos investimentos gerou desânimo. "A gente tá perdendo as frutas, porque não tem como congelar, não tem como fazer polpas pra tá armazenando e fazer um processo de comercialização (...) iria gerar renda, melhoria de vida para famílias da nossa comunidade, diminuindo assim o êxodo rural", argumenta Hélio.

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