Espaço do Leitor: Educação municipal a beira de um colapso.

30 de Jun / 2021 às 06h15 | Espaço do Leitor

Sabe aquele dia em que você acorda e diz: “Chega de silêncio, chega de tanto esperar”!

Há alguns dias em que um formigueiro começou a me atiçar com o pensamento de que algo a mais precisa ser dito sobre a Educação Municipal de Juazeiro. Sim, mais, porque algumas colegas de profissão já iniciaram essa discussão e nada mudou até então, pelo contrário, ficaram figurinhas marcadas “pelas chefias”.

Serei sucinta em minhas palavras, mas levantarei questões óbvias que espero sinceramente, que saiamos da inércia na qual nos encontramos hoje e digo mais: meu propósito aqui não é expor as fragilidades da gestão, mas sim, provocar o sentimento da mudança verdadeiramente significativa para uma rede que já caminhou tanto e não admite retroceder.

Vou iniciar percorrendo um pequeno trajeto em apenas seis meses de administração:

Composição da equipe de liderança municipal – SEDUC E ESCOLAS

- Pessoas da qual eu não questiono a profissionalidade, mas que para ocupar os espaços estratégicos dentro da SEDUC, precisaria ter um aparato melhor para conseguir delegar, monitorar e construir instrumentos que erguesse ainda mais a rede, pelo contrário, temos profissionais que não conseguem tirar uma dúvida do professor. A impressão que dá é que tudo se centraliza em uma ou duas mãos.

- Há ainda uma grande dúvida que paira no ar: na lei Nº 2.218/2011 que institui a EFEP – Escola de Formação de Professores Parlim, art. 5º. diz que a estrutura organizacional será assim composta de Direção Geral / Cargo exercido por um profissional do magistério, com vínculo efetivo na rede municipal de ensino, nomeado (a) pelo (a) Prefeito (a) Municipal e como todos sabemos, o atual Diretor da EFEP não faz parte do quadro efetivo da rede municipal, como assim?;

- Tentei acompanhar as nomeações para Assessores de Formação e me perdi em umas 30. Fazendo uma rápida conta na equipe de formadores, esse número não bate. Será que me equivoquei ou os nomeados estão em outros espaços?!

- Como em todo início de gestão, é comum os Governantes escolherem profissionais que irão lhe representar nos mais estratégicos espaços, e esses tem a autonomia de também escolherem profissionais para compor a sua equipe e administrarem juntos. Até aí nada a questionar, ok? Pois bem. Os critérios para indicações de gestores e coordenadores que não passaram pelo legitimo processo de eleição, já deixa a rede meio que apreensiva, porque alguns desses professionais já traziam em suas malas, algumas marcas negativas quanto a sua profissionalidade.

As formações continuadas hoje são encontros informativos;

As informações veiculadas entre Gestores e Coordenadores estão sendo repassadas a toque de caixa, sem oportunidade de diálogo, de construção coletiva;

A equipe interna da SEDUC não conversa. É nítida a imagem que reflete na rede (Superintendentes e seus colaboradores internos);

Professores contratados em pleno mês de junho com turmas totalmente sem acompanhamento. O que será desses alunos? Quando encerrar o ano letivo para essas turmas?

Todo leigo sabe que não se muda um sistema de avaliação de uma rede com o ano em curso e sem uma análise pedagógica de todos os instrumentos que farão a sistematização dos dados e menos ainda, sem a anuência do órgão que está para acompanhar, normatizar, fiscalizar, mobilizar e deliberar sobre os assuntos educacionais da rede municipal de ensino que é o Conselho Municipal de Educação – CME. A SEDUC assim fez aos 45 minutos após o final da I unidade didática. Mudou de nota para conceito qualitativo. Como assim? E para a minha surpresa, fui informada que deverei mudar novamente a primeira unidade de conceito para nota. Que entendimento sobre o processo de avaliação têm os líderes pedagógicos da SEDUC?

Estamos em um ano totalmente atípico em meio à pandemia da COVID 19 e pedagogicamente denominado, deveríamos está trabalhando em ciclo 2020/2021 com objetivos de aprendizagem básicos para cada série. O que temos é um documento enviado pela SEDUC com imensas habilidades para serem trabalhadas durante a unidade e o discurso das formadoras é que “o professor é quem dará o tom de acordo com o nível de desenvolvimento da sua turma”. Como assim?

Houve alteração do tempo pedagógico de aulas assíncronas de 3 horas para 1 hora no mês de junho, sem comunicação prévia com os professores para reorganizarem o planejamento e pasmem, nem a equipe gestora da escola sabia orientar os professores sobre essa mudança e quais habilidades deveriam ser priorizadas para as aulas síncronas e assíncronas;

Licenças prêmios canceladas;

Muitas famílias passam necessidades financeiras e a merenda escolar era a válvula de escape para as crianças. Por onde anda o kit alimentação?

O que fazer com as crianças desassistidas da tecnologia? Continuar entregando blocos de atividades para que o vírus continue circulando?

Uma plataforma riquíssima, mas sem uso porque o professor não acessa por falta de um aparelho de celular que suporte o aplicativo e também não temnotebook. Pior ainda e a situação dos alunos sem celular, sem notebook, sem internet.  Até quando a SEDUC fechará os olhos para essa situação?

Anunciaram que tudo seria tratado com humanização, até terapeuta foi apresentado. Como? Quando? Onde? Não há equilíbrio emocional que aguente!

E agora o que esperar do segundo semestre?

Acreditem. Não se trata de lado político, se trata de garantia de direitos a um ensino de qualidade e naturalmente, uma aprendizagem de qualidade para os nossos alunos.

Senhora Secretária, ainda temos uma semana de recesso. Chame a rede para conversar, compartilhar ideias, listar ações interventivas por segmento, conversem entre si, promova escutas com os professores, comunidade escolar....

Não coloco em questão a competência técnica de ninguém, mas se faz necessário um repensar no planejamento estratégico da SEDUC. Talvez seja necessário repensar que a rede municipal traz em si a carga de criar seus instrumentos, as suas estratégias de ensino, as suas políticas públicas, tendo por base os documentos normativos nacionais e estaduais.

Confesso que tenho receio de me identificar para não sofrer retaliações, assim como outras colegas da rede já passaram, por isso, solicito apenas que acolham as nossas angústias.

Até quando o barco ficará a deriva?

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