Artigo - É melhor ser feliz ou ter razão?

01 de Nov / 2021 às 23h00 | Espaço do Leitor

 

Desde o meu tempo de criança ouço reclamações do povo contra Juazeiro e vice-versa. Pensei que com o tempo essa arrelia iria passar, mas me enganei. Cinquenta anos se passaram e tudo como dantes no quartel de Abrantes.

Todas as vezes que eu visito a minha mãe Juazeiro escuto os mesmos lamentos, motivo pelo qual decidi escrever a respeito deste assunto e torná-lo público.     

Entre muitas queixas, minhas conterrâneas e conterrâneos dizem que:

- Juazeiro foi má com Aprígio Duarte Filho e Dr. José Inácio da Silva. O primeiro foi Prefeito e intendente municipal em três ocasiões (de 23/03/1912 a 1º/01/1924, de 1º/11/1933 a 19/09/1937 e de 27/02/1946 a 03/05/1946) e quando se candidatou pela última vez a Prefeito para concluir uma grande obra iniciada em seu governo, lhe negaram esse mandato. Morreu em 1º/10/1956, aos 82 anos de idade, magoado. O segundo, além de Médico, já tinha sido Vereador, Intendente Municipal, Deputado Estadual e Deputado Federal, fazendo tudo por Juazeiro. No fim de sua vida, ficou pobre e foi atirado ao ostracismo. Se não fosse a ajuda de poucos amigos que lhe conseguiram um emprego como médico de profilaxia rural, teria tido um final ainda mais triste.

- Juazeiro foi ingrata com o prefeito Alfredo Viana (o único a ocupar este cargo por quatro vezes), quando até o presente momento não colocou o nome dele numa rua, avenida ou praça, enquanto Zé-Manés são presenteados com essas homenagens.   

- Juazeiro foi insensível com Manin Budogue quando não reconheceu o seu talento humorístico e não lhe deu a oportunidade de brilhar num centro maior. Da mesma forma, Juazeiro foi indolente com Raimundo Nobre, conhecido como Ratinho, o qual além de ser cantor e possuir uma voz extraordinária, tocava violão como poucos e compunham como ninguém, a exemplo de “Conceição, Adeus amor, Palavras-palavras e Imenso amor”, as quais estão postadas no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=zwS50iHJb0Q).

- Juazeiro foi negligente com a sua história, cultura e esporte. Por conta disso, muitas de suas filhas e filhos se desestimularam ou deixaram de brilhar nessas áreas. Outras (os) foram isoladas ou esquecidas, a exemplo de Maria Izabel Figueiredo Pontes (Bebela) a qual deveria ser Secretária Municipal permanente.

- Juazeiro que desde 1691 não consegue exterminar as suas muriçocas (conhecidas também como pernilongos ou carapanã), apesar desse inseto viver apenas 30 dias, de voar até 50 metros de altura e não se afastar mais de 300 metros do local de onde nasceu.

- Juazeiro foi indiferente quando mandou derrubar o seu Mercado Municipal (localizado onde atualmente é a praça Santiago Maior) e a sua Estação de Trem, localizado onde atualmente é a rampa da Ponte Presidente, Juvenilson do Cachorro Quente e o Papa´s.

- Juazeiro foi cúmplice quando não deu ouvidos as denúncias de Manoel Novaes (Deputado Federal pela Bahia por 12 vezes consecutivas), o qual declarou na década de 50 que a Ponte Presidente Eurico Gaspar Dutra estava sendo construída mais estreita que o projeto original, perdendo um metro de cada lado.     

- Juazeiro foi estúpida quando deu um pé na bunda de João Gilberto e o expulsou das dependências da Sociedade Apollo Juazeirense, por ele tocar violão e consequentemente, ser taxado de desocupado/malandro.

- Juazeiro foi inábil quando perdeu para Petrolina (PE), as instalações do 72º Batalhão de Infantaria Motorizado e do Aeroporto.

Por sua vez, Juazeiro se defende, declara e diz que:

- É uma mãe cuidadora, independente do reconhecimento ou não de suas filhas e filhos.

- É também é uma boa mãe adotiva e que acolheu por amor, muitas pessoas, independentemente da situação social, nacionalidade, credo ou cor. E cita como bons exemplos: Léa Khoury Hedaye (mãe de Jorge e John Khoury). Gerluce Lustosa (amável e incansável na arte de servir). Luiz de Oliveira Souza (inteligente, íntegro e de ideais comunistas - já falecido), pai de Cosme e Damião Silva de Souza. Paulo César de Carvalho (radialista e ex-vereador do município). Geraldo José (Jornalista, radialista e Blogueiro). Wellington Miranda (músico e cantor). Genival Play Boy (Taxista - já falecido) e Manelão, proprietário de uma lanchonete na rua 28 de Setembro. Não posso deixar de mencionar do mesmo modo, a comunidade Sergipana vinda do baixo São Francisco, que muito contribuiu para o meu desenvolvimento fluvial, com a construção/comercialização de barcas e barcos.

- Sempre esperou pela volta do seu filho João Gilberto (cantor) do Rio de Janeiro, para lhe pedir perdão aos pés do altar de Nossa Senhora das Grotas. Porém, DEUS o levou antes que ela realizasse a sua vontade.

- Espera por muitos anos ações mais concretas de sua filha Ivete Sangalo, cantora. Que fica contente em Ivete reconhecer publicamente que é sua filha e ter-lhe dado o instituto de prevenção, o que não é nada, em comparação ao prestígio que ela tem e o muito que ela poderia ter fazer.

- Espera da mesma forma que o seu filho Daniel Alves (jogador) entre em campo, suba no cavalo e faça alguma coisa por ela. Afinal de contas foi ela quem o tirou do mato e o fez gente.

- Já não espera mais nada de seu filho Luiz Pereira (antigo jogador do Palmeiras e da Seleção Brasileira de 1970), o qual me deixou ainda menino e se mudou definitivamente para São Paulo (SP). Inclusive, uma das raríssimas vezes em que ele me visitou foi em 09/02/1992, quando veio participar de um jogo matinal entre a minha seleção e a seleção brasileira sênior, no meu estádio. E mesmo assim, eu só o vi porque fui ao seu encontro, à noite, no restaurante de “Querido” no bairro Castelo Branco, oportunidade em que o encontrei juntamente com a sua esposa (Silvia), Eliseu dos Santos (amigo do casal) e o poeta Clésio Santos.  

- Espera que alguma de suas filhas (os) prospere na política nacional para lhe presentear com muitos investimentos federais, a exemplo do que fazem os filhos de Petrolina.

- Envergonha-se quando ver alguma de suas filhas (os) enriquecer as custas dela e investir noutras mães.

- Fica triste quando ver alguma de suas filhas (os) reclamar da sujeira e dos alagamentos dela, enquanto continuam jogando lixos em sacos inapropriados, nos logradouros públicos, sujando as ruas/avenidas/praças e entupindo esgotos.

- Sofre quando ver alguma de suas filhas (os) ir embora por falta de oportunidades.

- Atormenta-se quando ver alguma de suas filhas (os) brigar por conta de política partidária.

- Agoniza-se por não poder resolver a questão do desemprego, da educação e da saúde.

- Sabe que as suas filhas (os) desejam vê-la alegre, limpa, ativa, bem cuidada, faceira, criativa, aconchegante, progressista e justa, mas, que tudo isso é impossível, em razão de que ela tem que cuidar de muitos problemas domésticos.

- Não deu riqueza para nenhuma de suas filhas (os), mas que presenteou a todos, indistintamente, com a semente da sabedoria.

Diante de tantas lamentações é difícil dizer quem é inocente ou culpado. E o pior de tudo é que em bate-bocas, todos acham que tem razão. Contudo e antes de postar este texto, procurei fazer uma pesquisa a respeito deste assunto com alguns conterrâneos, os quais e em sua maioria disseram que tudo isso acontece porque Juazeiro sempre tratou as suas filhas (os) com desdém, indiferença e irresponsabilidade, colhendo hoje o que plantou no passado. É a lei de causa e efeito, conhecida também como a lei de ação e reação.

Independente da causa ou de quem tem razão, acho que a única solução para acabar com tantas lamentações é seguir as orientações dos cantores Dom e Ravel, os quais e desde 1971 (tempo da minha juventude) nos diz que: “só o amor constrói”.

Sugiro que elevemos as vibrações dos nossos pensamentos, palavras e ações, porque a “aura” de qualquer localidade é o resultado do somatório das auras de seus habitantes. Se o saldo final for azul turquesa, verde claro ou amarelo, por exemplo, haverá a possibilidade de paz, saúde, oportunidades, prosperidade e bons ventos para todos. Se o saldo final for marrom, cinza ou preto, haverá, com certeza, grandes possibilidades de dificuldades, insatisfações, desentendimentos, nuvens escuras e mal-estar, permanentes.

Enquanto tudo isso se arruma, sou do mesmo entendimento do poeta maranhense Ferreira Gullar (10/09/1930 a 04/12/2016) que há muito tempo já disse: é melhor ser feliz do que ter razão.

Gilberto Maciel dos Santos, juazeirense, 66 anos, escritor, compositor e cantor de karaokês.

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