Discursos políticos veiculados na internet não têm contribuído para aprimorar a democracia, afirma estudos da USP

21 de Sep / 2022 às 14h00 | Variadas

A velocidade com que a internet tem veiculado discursos políticos, sejam eles de esquerda ou de direita, é vista principalmente a partir das redes sociais. O impacto delas no meio político provém, principalmente, da disseminação de discursos de ódio, ou mesmo da dissipação de ideias políticas da oposição. Pensando nisso, o Núcleo de Estudos da Violência (NEV-USP) tem emitido boletins mensais, a partir de monitoramentos feitos em redes sociais como YouTube, Instagram e Twitter.

O projeto tem como objetivo observar os principais assuntos que se destacam nas redes ao longo do período oficial de campanha, e verificar de que forma discursos conservadores, ataques às instituições e aos direitos humanos reverberam nesse ambiente. 

O que se observou em um primeiro momento foi que os conteúdos que apresentaram maior repercussão não tiveram como objetivo contribuir para o aprimoramento da democracia e ocasionaram um certo “acirramento político ou aprofundamento da polarização política”, como falam os pesquisadores responsáveis pelo monitoramento, Natasha Bachini e Pablo Almada. 

O Brasil atual tem “81% da população brasileira com acesso à internet e, desses, mais de 90% têm perfis em mídias sociais. E um dos usos mais frequentes dessas mídias sociais tem sido o uso para a informação”, salienta Natasha. O crescimento do interesse da população em buscar informações sobre candidatos e a política brasileira em si também foram levados em conta. 

A metodologia da pesquisa se concentrou no uso de aplicativos específicos, voltados para a extração de dados nas mídias. O primeiro relatório diz respeito ao YouTube, em que foram coletados dados sobre o conteúdo apresentado por meio dos vídeos, como também as preferências dos usuários dessa rede. É possível acessá-lo na íntegra aqui. 

Num panorama inicial, o YouTube, que é uma rede que concentra maior volume de vídeos que circulam nas mídias sociais, apresentou uma atuação relevante de canais jornalísticos, como os conteúdos desenvolvidos pelo UOL, TVT, CNN Brasil e Estadão, assim como vídeos produzidos por canais humorísticos com teor político. Ao final, foram contabilizados mais de 19 milhões de visualizações, 1 milhão de curtidas e 160 mil comentários de conteúdo eleitoral, a partir da ferramenta YouTube Data Tools, buscando o termo “eleições 2022”. 

A escolha por iniciar o monitoramento a partir do YouTube se baseou nos impactos que produtores de conteúdo e dos formatos desenvolvidos pela plataforma possuem sobre os usuários. A liberdade de criação nesse espaço também possibilita a geração de um conteúdo mais direcionado sobre as eleições de 2022, o que tangencia a desinformação. 

Pablo Almada, um dos desenvolvedores da pesquisa e pesquisador associado do NEV, também chama atenção para o fato de os “vídeos do YouTube serem sempre compartilhados em outras mídias sociais”, facilitando a dispersão de informações e dados. Isso faz do YouTube um mecanismo de grande impacto nas eleições de 2022. 

Para a construção do segundo relatório, foram utilizados dados recolhidos do Instagram, coletados por meio da extensão Zeeschuimer, da Digital Methods Initiative. A metodologia escolhida pautou-se na raspagem de informações a partir de hashtags, já que, nessa rede, o direcionamento de conteúdos se dá a partir da ferramenta. A partir das hashtags “Lula” e “Bolsonaro”, foi desenvolvida uma amostragem de cerca de 1.850 posts para cada uma das tags. 

Os dados obtidos apontaram para um domínio dos temas associados ao candidato Jair Bolsonaro, e até mesmo uma interdependência das candidaturas dos dois presidenciáveis à frente na corrida eleitoral. E os impactos da rede são observados a partir da facilidade, tanto para a produção de conteúdo quanto para a viralização de assuntos, favorecendo o marketing político dos candidatos. 

“No Instagram, a gente consegue observar claramente um pouco daquelas estratégias de comunicação política que estiveram presentes em 2018, fomentando o antipetismo, ataques às instituições democráticas e críticas à imprensa. Além da retomada de valores cristãos e conservadores”, complementa Almada. 

De acordo com os pesquisadores, a próxima rede social a ser analisada será o TikTok, seguida pelo Twitter e Facebook. No que diz respeito ao TikTok, ele tem ganhado espaço e é um potencial veiculador de conteúdos diversos, e, mais recentemente, passou a regular as postagens de conteúdo político.

Jornal da USP/fernanda Leal Foto Ilustrativa

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