'Onde o Rio é mais baiano': ritmos, lutas históricas e belezas naturais da Bahia serão enredos de escolas de samba no carnaval carioca

14 de Feb / 2023 às 21h30 | Variadas

Quando o assunto é música, Bahia e Rio de Janeiro carregam uma relação que vai da disputa sobre qual dos dois estados seria o berço do Samba até uma irmandade que se reflete em parcerias musicais, referências carnavalescas e homenagens.

Em 2023, o desfile do grupo especial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro terá três agremiações homenageando a Bahia. Mangueira, Beija-Flor e Tijuca terão como temas os ritmos afro-baianos, o 2 de Julho e a Baía de Todos os Santos, respectivamente.

No "Dicionário Social do Samba", os escritores Nei Lopes e Luiz Antônio Simas destacam que, no século 19, por causa de um movimento de migração de baianos e africanos libertos para o Rio de Janeiro, então capital do Império, foram criados diversos "territórios baianos" espalhados pelo território carioca, o que fez com que a Bahia sempre fosse uma inspiração. E isso se reflete na temática da Bahia como enredo das escolas.

O escritor Sérgio Cabral destaca no livro "As Escolas de Samba do Rio de Janeiro" que já em 1933, quatro escolas usaram a Bahia ou a cultura baiana como tema.

Naquela ocasião, o Salgueiro teve como enredo "Uma noite na Bahia", enquanto a Mangueira teve como tema "Uma segunda-feira do Bonfim na Ribeira". A escola Príncipe da Floresta do Salgueiro teve "Passeata nas florestas da Bahia" como enredo, e a Mocidade Louca de São Cristóvão falou sobre a "Antiga Bahia".

Ao longo das décadas seguintes, a Bahia, a baianidade e baianos, como Dorival Caymmi, Maria Bethânia, os Doces Bárbaros, foram cantados e homenageados nos desfiles das escolas cariocas.

E o estado costuma dar sorte aos campeões. No carnaval de 1969, a Acadêmicos do Salgueiro levou para as ruas o tema "Bahia de todos os deuses" e saiu campeã. O que se repetiu em 1980, quando a Imperatriz Leopoldinense cantou "O que é que a Bahia tem". Um dos mais icônicos sambas da Mangueira foi do carnaval de 1986, quando a escola foi campeã com o tema "Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm".

Trinta anos depois, em 2016, a escola Verde e Rosa voltou a homenagear um ícone da música brasileira nascido na Bahia. Com o tema "A Menina dos Olhos de Oyá" em homenagem a Maria Bethânia, a Mangueira ficou com o título e ainda virou filme: Fevereiros.

Já em 2020, a com o enredo "Viradouro de Alma Lavada", a Unidos da Viradouro levou o campeonato falando sobre as Ganhadeiras do bairro de Itapuã, em Salvador.

Em 2023, a Estação Primeira de Mangueira vai levar para a Sapucaí o enredo “As Áfricas que a Bahia canta”. A escola será a última a desfilar no domingo de carnaval (19). A cantora baiana e ministra da Cultura Margareth Menezes foi convidada especial na gravação do samba enredo. Ela deve acompanhar no sambódromo o desfile.

O enredo pretende levar as ruas a construção das visões da África na Bahia, por meio da música e de instituições carnavalescas negras, com destaque para o protagonismo feminino e questões como o racismo. A Mangueira será a última a desfilar no domingo de carnaval (19), no sambódromo, com início previsto para entre 3h e 3h50.

Já a Unidos da Tijuca vai apresentar na Sapucaí o enredo "É onda que vai… É onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra". As águas da baía descoberta em 1° de novembro de 1501, em uma expedição portuguesa comandada por Gaspar Lemos e acompanhada por Américo Vespúcio, vai ditar o som da escola.

Para falar das "águas de Oxalá", o samba de Julio Alves, Cláudio Russo e Tinga vai cantar de entidades a gírias baianas. A escola tijucana será a quarta a desfilar no Domingo de carnaval (19) em 2023. A escola pretende levar para a avenida a cultura, alegria, história, misticismo, musicalidade e beleza da Baía-de-Todos-os-Santos, na Bahia.

Já a Beija-Flor vai falar sobre os excluídos do Grito do Ipiranga. O tema fala o sobre o 2 de Julho, data da Independência do Brasil na Bahia, com um enredo que convoca povo à luta por uma real liberdade.

A escola de Nilópolis pretende levar uma reflexão para o carnaval carioca sobre autonomia, dignidade do trabalho, acesso à terra, e a direitos. O samba da escola puxado por Neguinho da Beija-Flor conta com o reforço de Ludmilla.

As 12 escolas do Grupo Especial do Rio desfilam nos dias 19 e 20 de fevereiro, domingo e segunda-feira de carnaval, seis por noite.

G1 Bahia Foto reprodução

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