Caos na saúde de Juazeiro, Petrolina, Vale do São Francisco e cidades da região norte: "A tendência é piorar ainda mais"

15 de Feb / 2023 às 11h00 | Variadas

O sol, o símbolo da esperança de um novo dia, raiou nesta quarta-feira (15), por volta das cinco horas e vinte minutos. Porém durante a madrugada, na penúria das portas dos hospitais a reportagem da REDEGN conversou com homens e mulheres em busca da única maneira que encontram: a fé de dias melhores na rede pública de saúde e atendimento digno.

É um caos. Espera e frustração. Têm sido essas as palavras que mais caracterizam a rotina dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em busca de marcação de exames e consultas médicas. A dificuldade para ter acesso à saúde pública envolve denúncias de longos períodos na fila de marcação e meses de espera até o dia da consulta.

O setor de saúde pública de Juazeiro e Petrolina está literalmente na Unidade de Terapia Intensiva. A reportagem da REDEGN, percorreu na madrugada desta quarta-feira (15), o Hospital Universitário (Petrolina), Hospital Dom Malan (Petrolina), Hospital Regional de Juazeiro e Maternidade Infantil de Juazeiro. 

No Hospital Dom Malan, a  reportagem conversou com Maria José. Ela hegou na noite do dia 13. Veio de Ouricuri, Pernambuco trazer a cunhada que está no nono mês. Durante à noite enfrentou o tempo enrolada com uma toalha. Constragida disse ser uma trabalhadora. Mas não perde a esperança. "Não se tem uma explicação que traga conforto. É muito difícil este tipo de situação"

Patricia Cruz, diz que veio com o filho, 4 anos. "São 4h58, a pediatra vai atender". Ismina Alana, revela que chegou era 2 horas da manhã também em busca de um pediatra. Fotos mostram mulheres na recepção do Hospital Dom Malan, dormindo em bancos enquanto aguardam que as grávidas sejam "liberadas" e ou esperando as ambulâncias da cidades vizinhas. No Hospital Universitário nesta quarta o movimento foi considerado tranquilo. Um dos vigilantes diz que o problema é maior no final de semana devido os acidentes, principalmente motos.

Os usuários na sua maioria são pessoas pobres e afirmam "ser uma humilhação a situação. É falta de macas, são pacientes nos corredores, filas". A simbologia da ponte que liga Juazeiro e Petrolina, também une os problemas das duas cidades: o cidadão que necessita da prestação de serviços do setor da saúde, está sofrendo e sem atendimento e quando recebe a prestação de serviço tem que ainda esperar "a ambulância das prefeituras"

As pessoas que passam a noite registram que ambulâncias das cidades vizinhas ao redor de Juazeiro e Petrolina provocam grande movimento. 

Em Petrolina, o superintendente do Hospital Universitário (Univasf), Itamar Santos, durante programa de rádio local deu reportagem contudente e explicou que a situação é de superlotação frequentemente, comprometendo os atendimentos, até mesmo limitando a chegada de novos pacientes como ocorreu no último domingo (12).

“A gente está com praticamente 190 pacientes internados, o que equivale a 130% de ocupação, ou seja, fechou 30% além da nossa capacidade, então isso aí sobrecarrega, porque o espaço físico ele é limitado, e a equipe é a mesma para atender 100%, 80% ou 130%, a sobrecarga é muito grande”, afirmou.

O diretor informou que a demanda extrapola os municípios da Rede PEBA. “O Piauí também tem mandado muito paciente sempre pra cá, que não faz parte da rede, a gente começa a ter uma questão de urgência e não tem perspectiva ainda de melhora disso, então assim, a tendência vai ser piorar”, disse.

“Esse esse final de semana houve um sobrecarga muito grande de atendimentos, e mais uma vez, a gente teve que fazer uma seleção mais rigorosa de pacientes para entrada no hospital”, explicou.

Para o superintendente, a contrapartida dos municípios é insuficiente. De acordo com ele, o dinheiro federal vem dentro de uma regulamentação, um planejamento. "O que a gente tem que pensar é uma coisa muito maior que se chama Rede PEBA, aonde a gente tem 52 municípios participando, aonde eles entram apenas com ambulância pra levar paciente, isso aí é uma coisa que preocupa”, afirmou. 

“Três anos que a gente briga e todo mundo faz de conta que está funcionando e assim, infelizmente acontece. O carnaval vai começar agora, vai ter muita bebida alcoólica, a gente tem uma quantidade imensa de acidente motocicleta. 

No dia 15 de janeiro a REDEGN divulgou através do Sistema de Informações sobre Acidentes de Transporte Terrestre-SES-PE,  boletim mês dezembro do Hospital Universitário da Univasf,  que foram registrados 513 acidentes envolvendo motocicleta, 71 bicicleta e 38 com carros. No total foram 701 vítimas atendidas.

O detalhe: quase 49% das vítimas não usavam o cinto de segurança e nos acidentes com motos mais de 30% não usavam capacete. 

A diretoria do Hospital comunicou ao Ministério Público que "até a sala vermelha, não tem condições de receber nenhum paciente, completamente lotada".

Em Juazeiro, Bahia, o deputado estadual Jordávio Ramos (PSDB) pediu ao governo da Bahia que assuma a gestão da Maternidade de Juazeiro, devido, segundo ele,  à incompatibilidade dos recursos que são destinados à unidade de saúde, a qual atende, além de Juazeiro, mais 52 municípios.

“A unidade atende 53 municípios, o que torna mais difícil a prefeitura de Juazeiro tomar conta sozinha da maternidade. Ela recebe um número de pacientes muito acima da sua capacidade, que tem apenas 50 leitos. Tem uma média mensal de 568 internamentos. Destes, 44% são de Juazeiro e 56% de outros municípios”, disse Jordávio.

Ainda segundo a prefeitura, o Município recebe um valor de R$ 661.608,77 reais, mas as despesas giram em torno de R$ 2,5 milhões, ou seja, todo mês tem um déficit de mais de R$ 1,8 milhão.

No mês de dezembro de 2022, a prefeitura conseguiu a aprovação no Conselho de Saúde do município da proposta do repasse da administração da Maternidade de Juazeiro para a responsabilidade do Governo do Estado da Bahia.

Nas redes sociais a repercussão sobre a solicitação do atual deputado foi enorme. Vitoria Souza postou que "sai uma gestão e entra outra, mas a prática do municipio de Juazeiro de se omitir em prestar serviço de sáude. Não querem administrar nada".

A reportagem da REDEGN constatou que o Hospital Regional de Juazeiro está recebendo uma reforma com construção e ampliação. Todas as reclamações ouvidas foram repassadas pela redação da REDEGN para a assessoria de imprensa de saúde do Governo da Bahia.

Entre comentários contra e a favor a internauta Daniele Dias escreveu: "A maternidade pede socorro, Hospital da Criança nem se fala, Misericórdia. A saúde de Juazeiro está precária, pelo amor de Deus"...

A reportagem da REDEGN solicitou as Prefeituras de Juazeiro e Petrolina uma nota sobre o assunto: caos na sáude. A assessoria de Imprensa de Juazeiro e Petrolina sugeriu que foisse ouvida a diretoria do Hospital Universitário, Hospital Dom Malan e Hospital Regional Juazeiro. 

"Nenhum hospital citado faz parte dos serviços de Juazeiro. Hospital Universitário é federal, Hospital Regional Juazeiro é estadual da Bahia e Hospital Dom Malan do Estado".

CONFIRA NOTA PREFEITURA DE PETROLINA- Secretaria de Saúde – Situação hospitais

A Secretaria de Saúde de Petrolina esclarece que a gestão dos hospitais Dom Malan, Universitário e Regional de Juazeiro, não são de gerência municipal. A gestão municipal informa que reuniu-se recentemente com os Secretários Estaduais de Pernambuco e da Bahia e Secretário de Saúde de Juazeiro para tratar sobre a situação dessas unidades. Durante o encontro foram discutidas parcerias no sentido de diminuir os problemas enfrentados pela população que necessita dos serviços das unidades, e para juntos buscarem soluções que garantam o acesso de qualidade e que possam organizar o fluxo de pacientes de acordo com o perfil assistencial de cada estabelecimento de saúde hospitalar do SUS em Petrolina, Juazeiro  e demais municípios que compõem a rede PEBA.

redação redegn texto e Foto Ney Vital

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