ARTIGO - Euclides da Cunha e o Sertanejo

31 de Jul / 2023 às 23h00 | Variadas

Em recente viagem a São José do Rio Pardo (SP), pude constatar de perto quão grande é o apreço daquela gente para com o grande vulto da Literatura Brasileira que foi Euclides da Cunha – admiração que chega a adquirir caráter de culto, como se fosse uma coisa sagrada. 

A razão para tal – creio eu – não está apenas na singularidade da obra, mas também na grandeza e seriedade com que o escritor tratou dos problemas mais profundos do Brasil. Podemos mesmo dizer que Euclides redefiniu o conceito de Brasil, fazendo com que das mazelas seculares emergisse um país menos cruel.

Há que se dizer que o autor foi um homem do seu tempo, que escreveu com o olhar e com as tintas do seu tempo. E que, portanto, não há exigir, transcorrido mais de um século, que ele diga o que no momento presente nós entendemos como sendo o mais politicamente correto.  

Ademais Euclides foi um estilista, estilista reconhecido pelo melhor da crítica ao longo de mais de 100 anos. Ele criou um estilo próprio e único, cujo traço mais marcante é o binômio "Hércules-Quasímodo", misto de valentia e aparente fraqueza.

Acho de uma beleza invulgar a descrição que faz o autor do sertanejo. Leiamos, a propósito, o trecho a seguir, extraído de “Os sertões": "O sertanejo é, antes de tudo, um forte. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos (...). Entretanto [atentemos para a conjunção adversativa] toda esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso (...). Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas (...)”.  

Trata-se de uma formulação de natureza poética e literária, que, justamente por isso, precisa ser lida e interpretada do ponto de vista poético e literário. 

Na poesia de Euclides, o sertanejo não só é admirado, como também cresce e se agiganta. A figura de linguagem por ele utilizada tem por objetivo realçar a força e a coragem dos habitantes do sertão.

Para Gilberto Freyre, “ninguém mais do que ele [Euclides] enalteceu tanto o sertão e o sertanejo. Em Euclides a tendência foi quase sempre para engrandecer e glorificar as figuras, as paisagens, os homens, as mulheres, as instituições com que se identifica o vaqueiro, o sertanejo, o próprio jagunço”. 

No próximo dia 15 será rememorado o aniversário de morte do escritor, fato ocorrido em agosto de 1909.

 

José Gonçalves

Da Redação RedeGN

© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.