ARTIGO – A CONVIVÊNCIA COM OS EXTREMOS

14 de Feb / 2016 às 23h00 | Espaço do Leitor

Quando o noticiário diário dá conta de que o Sul do país se afoga sob tantas chuvas e enchentes, é praxe o desabafo no Nordeste: “uns com tanto e outros com tão pouco”, referindo-se às históricas secas no nosso querido semiárido, o que, felizmente, não acontece agora face às abundantes chuvas, ultimamente. Também se ouve sobre os contrastes de temperaturas no mundo que atingem até 58º graus abaixo de zero – na China, recentemente –, enquanto por aqui temos o Rio de Janeiro com 40º graus acima e sensação térmica de quase 50º! 

De outra parte, enquanto técnicos, engenheiros e arquitetos, ambientalistas e administradores públicos queimam as pestanas para dotarem as cidades de estruturas adequadas a uma vida de conforto para as populações que nelas habitam, em alguns recantos do mundo infestados pelo ódio e pelas guerras, edifícios, parques, monumentos culturais, palácios e tantas outras relíquias que marcam a história de cada povo, são destruídos com estúpida violência pela insanidade de governos que matam sem piedade o seu próprio povo para manter o poder. Um doloroso exemplo dessa tragédia vem ocorrendo na guerra civil da Síria, onde 250 mil sírios já morreram e outros 76.000 já enfrentaram a morte nos mares em precaríssimas embarcações, em busca de um espaço em outros rincões do mundo para viverem...!

Por aqui, por mais paradoxal que possa parecer, enquanto se fala dos problemas da saúde no país, e tanto se questiona a ação mais presente e eficaz dos governantes no intuito de salvar a vida de milhares de brasileiros que chegam aos nossos hospitais, principalmente num instante de recessão econômica, ao mesmo tempo mata-se com naturalidade e tira-se a vida das pessoas das formas mais banalizadas, diariamente, até mesmo no roubo do mais simples aparelho celular!

É melancólico ver como um fato político da maior magnitude como o impeachment que ronda a Presidência da República, o qual afeta a economia e a normalidade institucional, tem o seu andamento notoriamente postergado, principalmente porque os presidentes da Câmara e do Senado, que devem conduzir o processo do debate ao julgamento, respondem por indiciamentos na justiça. A fase política atual é tão confusa e polarizada, que, a depender do andar da carruagem, pela primeira vez na história o país poderá ficar sem um substituto legal para o posto de Presidente da República...! É uma situação rara e singular, para não chamar de VEXATÓRIA...!

O país vive um gravíssimo problema de saúde pública, de caráter quase epidêmico e que se ramifica pelo mundo com a proliferação do mosquito Aedes aegypti e não há uma ação mais incisiva, concreta e enérgica para definir o seu combate ou extinção. Como disse o Boechat, da Band: “é preciso menos oba, oba, e mais limpeza do lixo nas ruas e nos córregos”. Em paralelo a isso, há um notório caos econômico nacional que envergonha a todo brasileiro, pelos desmoralizantes índices negativos que jogam o país para baixo no conceito perante o mundo. Mesmo assim, a nação não deixou de realizar com suntuosidade e luxo o carnaval tradicional em todo o país, onde as verbas para a saúde e a educação são insuficientes, mas, para o carnaval, milhões de reais foram gastos por Estados e Municípios! Não me coloco contra o carnaval, absolutamente, mas os extremos são inaceitáveis! E fico pasmo como a intensa alegria do nosso povo coexiste com a indolência ao sofrimento, diga-se de passagem...!

Virou mote nacional a expressão “jeitinho brasileiro”, visando dar realce à habilidade do brasileiro em contornar as dificuldades de alguma forma, nem sempre importando o caráter dos meios utilizados. Tanto isso é verdade, que muito se questionou a nossa capacidade econômico-financeira de realizar a Copa do Mundo em 2014, construindo ou reformando 12 Estádios ou Arenas, além das obras de infraestruturas básicas, reformas até hoje inacabadas dos Aeroportos, etc. Esnobou-se um status enganoso de nação rica e com potencial, e agora estamos vendo o lado oposto da moeda, atravessando uma crise de dimensão e consequências que, tomara, o pior não aconteça, embora pareça estar a caminho pelas notícias que temos...! E, para acabar de sepultar o país no mundo das ilusões, o COB-Comitê Olímpico Brasileiro está, aos tropeços, preparando o Rio de Janeiro para a realização de uma Olimpíada!

Por tudo isso, chegamos ao título deste artigo, concluindo que a triste convivência dos extremos é o retrato fiel da mentira querendo encobrir a verdade.

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público.

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