Pesquisa revela situação das lagoas de Juazeiro

21 de Oct / 2017 às 09h34 | Variadas

O dia vai escurecendo e a Lagoa de Calú recebe a companhia de várias pessoas. Crianças se divertem nos parquinhos, jovens praticam modalidades esportivas nas quadras disponíveis e adultos de todas as idades se exercitam diariamente. Muitos juazeirenses utilizam o entorno da lagoa como espaço de diversão, mas poucas são capazes de perceber a importância da preservação desses locais no ecossistema do semiárido.

Os equipamentos urbanos de lazer de Juazeiro trazem benefícios para a qualidade de vida da população, mas as condições ambientais das lagoas da cidade têm sido motivo de preocupação para especialistas da área. O projeto de extensão Conviverde, do Campus III da Universidade do Estado da Bahia, em parceria com a  pesquisadora do IBGE do Rio de Janeiro, Rosângela Botelho, elaborou um diagnóstico que avalia situação de três lagoas de Juazeiro: a lagoa do Calú, a lagoa Dom José Rodrigues e lagoa Antônio Guilhermino.

O diagnóstico foi realizado com a aplicação de um Protocolo de Avaliação Rápida (PAR), que analisa parâmetros qualitativos e quantitativos para definir o resultado final, que é observado por pontos. O PAR segue um protocolo de avaliação ambiental para açudes urbanos e são observados fatores como as alterações causadas pela ação humana, vegetação dentro e ao redor do leito, cor e odor da água.

De acordo com a pesquisa, entre as lagoas analisadas, a do Calú foi a que apresentou menos impactos ambientais, alcançando média de 2,96 pontos numa escala que vai de 0 a 5. Já as lagoas Dom José Rodrigues e Antônio Guilhermino, apresentaram condições ambientais ruins, com uma média de 1,7 e 1,3 pontos, respectivamente. Para a pesquisadora Rosângela Botelho, esses impactos são negativos para a população, já que essas lagoas acabam concentrando uma grande quantidade de vetores transmissores de doenças, como mosquitos e ratos.

A análise apontou que a lagoa de Calú possui condição entre regular e boa, na visão dos estudantes, técnicos e professores que participaram da avaliação. Apesar de estar inserido num ambiente urbano, o local é, segundo o estudo, protegido pelo projeto paisagístico que preserva as margens e colabora com a preservação do ambiente. Já as outras duas lagoas, que estão localizadas em áreas afastadas do centro de Juazeiro e que mesclam características rurais e urbanas, encontram-se deterioradas, com esgotos despejados sem tratamento e sem nenhum projeto de regeneração.

Por estarem localizadas em propriedades particulares, as lagoas Dom José Rodrigues e Antônio Guilhermino acabam se transformando em espaços de uso restrito a uma parcela pequena de pessoas. O estudo apontou ainda que essas lagoas são negligenciadas por conta da falta de preservação e que, caso seja realizado um projeto de recuperação, podem ser transformadas em áreas verdes livres de lazer, trazendo melhorias para qualidade ambiental e para a vida da população.

De acordo com a pesquisadora Rosângela Botelho, a Lagoa do Calú tem um  grande potencial de melhora. "Com aperfeiçoamento do paisagismo já existente e fazendo tratamento para deixar a tonalidade da água mais clara, é possível  fazer um criatório de peixes, por exemplo. Isso seria interessante principalmente para as crianças", comenta. Sobre as outras duas lagoas, Rosângela ressalta a necessidade da construção de barreiras ao redor  que  protejam do escoamento das chuvas e do esgoto que sai das casas.

O resultado da pesquisa, os métodos de análise e as observações feitas durante o diagnóstico serão apresentados no Seminário Regional Verde Urbano no Semiárido Brasileiro, que será realizado nos dias 23 e 24 de outubro, no DCH III da Uneb. A programação do evento também conta com expedição no Riacho Mulungu, mesas redondas e bate-papos sobre a convivência com o cenário do semiárido.

Comunidade-lagoa

Luzineide Carvalho, coordenadora do projeto Conviverde e uma das responsáveis pela pesquisa, acredita que é preciso ações multidimensionais e intersetoriais para conseguir reverter a realidade das lagoas de Juazeiro. “A Universidade, sozinha, não vai resolver essas questões. Precisamos pensar em ações em rede, que envolvam diferentes instituições e diferentes atores sociais. A comunidade também deve ser envolvida e assumir essa relação de pertencimento”, ressalta.

Ainda segundo Luzineide, o assoreamento e a falta de drenagem podem fazer com que esses ambientes desapareçam em Juazeiro. “Seria uma perda irreparável. As lagoas são bens públicos e o acesso à água é fundamental para qualquer comunidade. Quando pensamos no contexto do semiárido, essa importância é maior ainda, pois são ambientes peculiares, onde encontramos espécies de plantas e animais específicos de outros biomas, já que microclimas são estabelecidos no entorno de uma lagoa”, comenta.

Mais do que espaço de lazer, as lagoas também trazem um equilíbrio para o ecossistema local. O crescimento populacional e econômico de Juazeiro nos últimos anos não tem sido acompanhado pela preservação desses espaços que são patrimônio cultural e histórico de qualquer população. Rosângela ressalta que a relação comunidade-lagoas precisa ser mais efetiva para que a preservação seja uma realidade. “É um bem da comunidade. A população se aproveita do ambiente da lagoa do Calú até pela questão visual, que é atrativa, mas ainda é uma relação superficial. É preciso uma conexão maior dos moradores com esses espaços”, pontua.

Texto: Giúllian Rodrigues (da agência Multiciência) Fotos: Conviverde e Giúllian Rodrigues

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