A seca que vai além das margens do Rio São Francisco reproduz no século 21, o livro Vidas Secas

25 de Jan / 2018 às 11h30 | Variadas

“Estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham fugido.” Este é um Trecho do livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Em um município no qual até órgãos públicos sofrem com a escassez de água, a população de Boa Viagem (CE) é a principal atingida pela seca. Moradora de uma comunidade rural chamada Riacho dos Porcos, a produtora Francisca Rodrigues Amorim, 39 anos, teve que mudar a previsão de plantação por causa da falta de chuvas. “Quando chove a gente planta milho e feijão. Mas como está na seca, a gente acaba plantando coisas menores como acerola”, diz.

Ela vive com mais sete pessoas e a casa é abastecida semanalmente com água de caminhões-pipa. “Eles enchem a cisterna que foi colocada pelo governo e a gente tem que poupar água. Banho é só na garrafa”, ilustra. Mesmo poupando, nem sempre a água dá para a semana toda. “Agora, por exemplo, estamos há 15 dias sem receber água. Aí o jeito é pedir para os vizinhos”, afirma.

Mesmo considerando a situação de falta de água ruim, ela acredita que na cidade - onde vivem 32 mil dos 52 mil habitantes - é pior. “Lá as pessoas não têm cisternas para serem abastecidas. Aí são obrigadas e ir com o balde pegar água no chafariz. Elas carregam o que podem, mas de vez em quando dá briga”, diz.

A produtora é uma das brasileiras que vivem em um cenário de “seca excepcional” ou S4, como define a Agência Nacional de Águas (ANA), por intermédio de um sistema chamado Monitor das Secas. A excepcionalidade é caracterizada pela situação de emergência na cidade, falta de água sistemática em reservatórios, córregos e poços, perdas de plantações e seca generalizadas nas pastagens. 

Palavras e siglas não conseguem dar a real dimensão do sofrimento causado pela seca, mas são importantes no alerta para políticas públicas e necessidades de providências.

O diagnóstico é realizado desde 2014 pelo projeto Monitor das Secas, coordenado pela ANA. Mensalmente, um mapa é publicado mostrando quais áreas da Região Nordeste do país estão em algum nível de seca. Os estágios são S0 (Seca Fraca), S1 (Seca Moderada), S2 (Seca Grave), S3 (Seca Extrema) e S4 (Seca Excepcional), do índice mais fraco ao mais forte, respectivamente.

Segundo os últimos dados disponíveis, referentes a novembro de 2017, partes dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco e da Bahia encontravam-se em situação de seca excepcional, a mais grave das classificações.

Redação blog com Informação Edgard Matsuki

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