Foram encontrados 61 registros para a palavra: José Gonçalves do Nascimento

Artigo - Música e literatura

Se eu tivesse de tecer um paralelo entre música e literatura, ousaria dizer que os caminhos de uma e de outra são, de certa forma, um tanto diversos (para não dizer inversos).

Com efeito, enquanto a literatura espera que alguns poucos de vez em quando a ela se deem, a música se dá a todos o tempo todo. E como o ouvido não tem pálpebra, seu fluxo é livre e inevitável...

As duas mortes do poeta

Era uma estátua. 

Não se sabia ao certo quando ali ela fora parar. Não havia qualquer registro nem os mais velhos se lembravam. A placa inaugural, que poderia oferecer alguma pista, esta não mais existia. Alguém a arrancou ou foi removida pela ação do tempo. ..

Artigo - um dia na vida de lampião

O dia apenas amanhecera.

Mestre Jorge ainda se aprontava para ir à labuta quando o cangaceiro, de modo inesperado, adentra as terras do Velame. Ele e os seus comparsas, como costumava acontecer em situações semelhantes...

Artigo - Canudos não morreu

No dia 5 de outubro de 1897, ocorreu o desfecho de um dos episódios mais dramáticos da história.

Tudo começou quando o recém-instaurado governo republicano, com o apoio de setores significativos das elites brasileiras (notadamente a igreja Católica, os latifundiários e a imprensa), decidiu exterminar a comunidade sertaneja de Canudos, resultando numa das maiores carnificinas da história do Brasil...

Artigo - Os dias de canudos

Ato 1

Eu vi Canudos surgir no horizonte,..

Artigo - Canudos e Conselheiro

Escreveu o velho Marx, em 18 de Brumário: “a história acontece duas vezes. A primeira vez, como tragédia; a segunda, como farsa.” 

Para além de toda a complexidade que tal afirmativa possa implicar, tomo aqui a liberdade (liberdade e ousadia) de aplicá-la ao episódio de Canudos, estabelecendo a conexão deste com a conjuntura brasileira. ..

ARTIGO - Silenciamentos

Vivemos em uma sociedade extremamente injusta com seu povo – especialmente com os mais humildes. E isso tem de ser visto como resultado de uma sequência de práticas deliberadamente projetadas.

Os múltiplos e perversos silenciamentos perpetrados ao longo da história do Brasil contra as populações negras e indígenas (e, por extensão, contra os pobres em geral), nada mais são do que uma construção de natureza política e cultural, cujas consequências e desdobramentos se fazem sentir de maneiras as mais diferentes e desastrosas possíveis...

Artigo - Junho

No sertão – em havendo chuva, e geralmente há –, junho é o mês da floração, o mês em que a paisagem, antes ressequida, se reveste de cores e aromas, devolvendo-se à natureza sua graça e seu encanto.

Mas junho é principalmente a magia do Santo Antônio, do São João e do São Pedro...

Artigo - Política pública de cultura

A cultura representa uma das dimensões essenciais da existência humana e, como tal, encontra-se na base de toda e qualquer identidade, seja ela individual ou coletiva.

De modo que, independentemente de condição social, intelectual, econômica ou étnica, os indivíduos – em qualquer tempo e lugar – sempre irão fazer e “absorver" cultura. ..

Artigo - Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim

Uma academia de letras é um espaço de cultura da maior importância. Principalmente quando essa academia de letras abre suas portas para a pluralidade do fazer cultural, permitindo que outros segmentos, para além da escrita, a ela possam ter acesso.

É o caso da Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim (Aclasb), que há mais de três décadas atua naquela cidade baiana, promovendo e apoiando a cultura, em especial a cultura local, nas suas  mais diversas manifestações...

Artigo – Debaixo do Tamarindeiro

No centro da praça – a praça ampla e desnuda – ficava o grande tamarindeiro, à sombra do qual, desde épocas imemoráveis, eran realizadas as feiras livres semanais.

Ouvi dos mais antigos, dentre eles o velho João Grande, um chegado meu de primeira ordem, que tais feiras eram sempre disputadíssimas, a elas acorrendo levas inteiras de homens e mulheres, todos provenientes do grande sertão, que ali se vendia de um tudo, ou, melhor, um pouco de tudo, que era bom por demais ver aquele mundaréu de gente arreunida, uns comprando outros vendendo, uns comendo outros bebendo, uns jogando outros paquerando, gente de tudo que era classe e ofício, como roceiros, vaqueiros, pedreiros, oleiros, carpinas, parteiras, costureiras, lavadeiras, benzedeiras, malabaristas, capoeiristas, retratistas, jogadores, boêmios, agiotas, arruaceiros, vagabundos, meganhas, mulheres da vida, o prefeito, o delegado, o promotor, o juiz de paz, o juiz de direito, a freira, o padre, o coroinha, o sacristão, o pastor, que lá pras tantas, quando os feirantes iam-se embora, os mendigos, que então já eram tantos, acercavam-se do local e entre eles dividiam os refugos que, misturados com os gravetos, ali eram encontrados, que na semana seguinte era a mesma agitação, o povo correndo pra cidade, a cidade embalada pela feira, a feira que era o maior dos acontecimentos, maior até mesmo do que a eleição do prefeito, e que assim foi por muitas e muitas décadas, uma geração após a outra, até o dia em que tudo aquilo, melhor, até o dia em que quase tudo aquilo haveria de sucumbir para sempre...

ARTIGO - Comício da Central do Brasil

No dia 13 de março de 1964, no famoso Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, o presidente João Goulart anunciava as chamadas Reformas de Base, com ênfase na reforma agrária.

Pela primeira vez, na história da República, a ideia da redistribuição da terra ganhava a simpatia de um governo, tornando-se uma possibilidade real...

Artigo - A boa e a má política

Alguns indivíduos, ou até mesmo grupos sociais, têm tentado, a todo custo, desacreditar a política e os políticos. E o fazem incutindo a ideia de que todos os políticos são iguais e corruptos.

A intenção por trás disso, creio eu, é fazer com que a população perca de uma vez a crença na política e na gestão pública. O problema é que quando perdemos a crença na política, damos margem a três possibilidades, em nada abonadoras...

Artigo - "Hércules-quasímodo"

No dia 2 de dezembro de 1902 – portanto há 120 anos – vinha a lume, na então capital da República, um dos maiores monumentos da literatura brasileira: "Os sertões (campanha de Canudos)", do jornalista, militar e engenheiro Euclides da Cunha, nascido em 20 de janeiro de 1866 e morto em 15 de agosto de 1909.

Reputo injustas e descabidas certas críticas que comumente são lançadas em desfavor da obra de Euclides da Cunha, mormente "Os sertões", o livro que o consagrou no mundo das letras e das ciências...

Artigo - Canudos ontem e hoje

No dia 5 de outubro de 1897 (portanto há 125 anos), ocorreu o desfecho de um dos episódios mais dramáticos da história brasileira.

Tudo começou quando o recém-instaurado governo republicano, com o apoio de setores significativos da elite brasileira (notadamente a igreja Católica, os latifundiários e a imprensa), decidiu exterminar a comunidade sertaneja de Canudos, mobilizando, para tanto, mais da metade de todo o efetivo do exército, que, à época, era de aproximadamente de 20 mil homens...

Mato Queimado (Canto Distópico)

Mato Queimado é real; não é um pesadelo. 
Pesadelos se dissipam com o despertar. 
No caso de Mato Queimado, não; 

Aqui, o sono e o despertar 
São faces da mesma moeda, e o pesadelo, 
Nada mais do que um processo – 
Um processo em plena execução...

Artigo - Toda reverência ao solo sagrado de Canudos

Sempre que eu visito os sítios históricos de Canudos faço questão de tirar o meu calçado e permanecer o máximo que posso com os pés apoiados sobre aquele solo ao mesmo tempo quente, sagrado e santificador.

Faço-o por duas razões:

Primeiro, em sinal de respeito aos heroicos sertanejos e às heroicas sertanejas que ali tombaram, a maioria deles e delas insepulta e profanada ante os olhos de cruéis e insensíveis sanguinários, muitos dos quais travestidos de pios cristãos ou de ilustres e conceituados cidadãos de bem.

Isso no país que acabava de proclamar uma república e uma constituição, ambas consideradas como o último bastião do humanismo e do processo civilizatório.

Segundo, porque sinto emanar daquela terra, daquele chão, daquelas escarpas, daqueles arbustos retorcidos alguma coisa que não se explica pela nossa vã filosofia, alguma coisa de místico, de divino, de sobrenatural.

E pisar descalço ali é como entrar em estreita sintonia com aquele universo povoado de tanta energia boa, de uma espiritualidade que se faz presente em cada folha seca, em cada flor mirrada e entristecida, em cada pássaro solitário que vagueia por aqueles céus límpidos e azulados.

Pisar descalço ali é para mim ainda estreitar laços e comunhão com aqueles homens e mulheres, proto-mártires do Brasil republicano – eles que, subjugados pela bala e pela gravata vermelha, acabaram por dar o mais elevado testemunho de fé, de amor e de solidariedade...

Artigo - Sento-Sé por Laurenço Aguiar

“Todo mundo canta sua terra/Eu também vou cantar a minha/Modéstia à parte seu moço/Minha terra é uma belezinha.” Assim diz a primeira estrofe do belíssimo baião composto por João do Vale e interpretado, entre outros, por Alcione e Aldair Soares.

Cantar (e decantar) a terra de origem é um desejo próprio do ser humano, em qualquer tempo ou cultura.  A Odisseia, o Antigo Testamento, Os Lusíadas, a obra de Jorge Amado, as telas de Tarsila do Amaral, a música de Luiz Gonzaga, os cordéis de Leandro Gomes de Barros, tudo isso outra coisa não faz senão cumprir esse desejo que é inato a cada homem e mulher, que é o desejo de cantar, enaltecer, honrar seu torrão natal...

Artigo: Proust, "O Peru de Natal" e o Coronavírus

A literatura é dessas coisas que entram na vida da gente e aí permanecem, ora em forma de luz, ora em forma de caminho. Melhor: parafraseando Proust, literatura é a vida plenamente vivida.

Tenho por algumas obras literárias um apreço quase devocional. Uma dessas obras é o conto “O peru de Natal”, de Mário de Andrade, que leio religiosamente sempre que se aproximam os festejos natalinos...

Espaço do Leitor: Conto de quarentena

Em frente à pequena banca, a única do bairro, Jônatas lia as capas dos principais jornais daquela manhã de segunda-feira. Uma das manchetes dava conta de que seu time do coração – após longos meses de jejum – vencera de goleada a partida do dia anterior, garantindo participação no campeonato estadual.

Logo abaixo da chamada uma foto grande e colorida mostrava um jogador do time vitorioso correndo freneticamente atrás da bola. "Caramba, até que enfim!", pensou Jônatas. Aquela vitória importava muito para ele, torcedor fanático que há muito não via o time da sua paixão ganhar uma partida. Agora sim, sentia-se de alma lavada!..