Juazeiro: Mães que tiveram bebês com sequelas após problemas em partos entram na Justiça

Larissa conta que todas as ultrassonografias apontaram que o bebê dela nasceria saudável (Foto: Reprodução/TV São Francisco)

De agosto de 2017 até abril de 2018, mais de 10 mães entraram com ações na Justiça para obrigar a prefeitura Juazeiro, no norte da Bahia, a prestar assistência médica a bebês que ficaram com algum tipo de sequela após problemas em partos realizado na maternidade municipal. Uma delas é a dona de casa Larissa Soares, de 17 anos. Ela diz que as ultrassonografias que fez antes do parto do filho Thalisson, em junho de 2017, indicavam que a criança seria um bebê saudável, mas na hora do parto houve complicações.  

Larissa afirma que houve demora para o parto ser realizado e, por conta disso, o bebê nasceu com pouca oxigenação no cérebro. A criança está internada há dez meses. "Na sala de parto, forçaram o parto, porque viram que eu não tinha capacidade de ter normal. A criança não queria sair, porque tava enrolada no cordão umbilical. E mesmo assim elas queriam subir em cima da minha barriga e eu não deixei. 

Mesmo assim, forçaram com o cotovelo. Tanto que depois do parto eu fiquei com marcas roxas na barriga e depois meu filho nasceu com hipóxia, com insuficiência respiratória, e ficou uma criança crônica", destaca.  Como a maternidade de Juazeiro não tem UTI neonatal, logo depois de nascer, Thalisson teve de ser transferido para o Hospital Dom Malan, em Petrolina, onde permanece internado. 

Ele passou por uma traqueostomia, abertura feita na garganta para facilitar a respiração.  Larissa conseguiu na Justiça uma UTI domiciliar, mas o equipamento ainda não pode ser instalado porque a família mora de aluguel em uma casa pequena. "Tem que ser uma casa especial, e eu moro de aluguel. Essa casa aqui não é apropriada para ele. Eu não tenho condições de pagar outra casa", afirma a avó da criança, Rosana Soares. 

 Outra mãe que acusa a maternidade de Juazeiro de negligência é a dona de casa Lucélia dos Santos. O filho dela, Pedro, também nasceu com falta de oxigênio no cérebro.  Em janeiro de 2018, Lucélia foi internada já em trabalho de parto e também teve complicações no momento do nacimento da criança. Precisou ser tranferida para o Hospital Dom Malan, em Petrolina.

Lucélia teve complicações no momento do parto (Foto: Reprodução/TV São Francisco)

"Disseram que a minha pressão estava alta e não quiseram fazer o parto. Disseram que se a criança nascesse com problema não teria assistência para a criança. E demorou para poder transferir para Petrolina. A ambulância, para chegar, demorou muito. Acho que foi esse o problema", afirmou.  Atualmente, Pedro tem três meses e só se alimenta por sonda. 

Ele também passou por traqueostomia para que pudesse respirar melhor. Pelo menos cinco vezes por dia, a mãe precisa usar um aparelho para aspirar as secreções da traqueia do bebê.  A família da criança procurou a Defensoria Pública de Juazeiro para conseguir materiais apropriados para cuidar do bebê, no entanto, mesmo com uma liminar da Justiça, o pedido da família não foi totalmente atendido.  O equipamento usado para aspirar as secreções da traqueia da criança é emprestado. 

A mãe afirma que a Secretaria Municipal de Saúde informou que não tem obrigação de ceder o equipamento. "Eles disseram que não tem obrigação de ceder esse material para a criança. E é tudo que eu preciso: a máquina e os materiais. E até agora não fui atendida", diz a mãe da criança.

Além do acompanhamento à saúde, com profissionais, com materiais que sejam necessários à saúde do bebê, deve-se obter pretensões de reparação dos danos, sejam morais ou materiais, que ocorreram em razão dessas complicações", destaca o subcoordenador da Defensoria Publica municipal, André Cerqueira.  

A Secretaria de Saúde de Juazeiro disse que está atendendo todos os pedidos da Justiça. "Se a demanda judicial for pagar fralda, a gente vai ter que comprar fraldas. Se a demanda judicial for para fazer um determinado procedimento, vai ter que ser feito esse determinado procedimento. 

É claro que existe uma discussão hoje muito séria sobre a questão da judicialização da saúde, em que os recursos não são ilimitados. Em algum momento, se você está usando para gastar e fazer uma demanda que talvez não fosse a demanda essencial naquele momento, vai faltar para quando chegar uma demanda nesse sentido mais urgente, mais emergencial", afirmou o assistente técnico da secretaria, Álvaro Pacheco.  

Para as mães, nenhuma reparação é suficiente para diminuir a dor, mas o auxílio da prefeitura é fundamental. "Eu creio que um dia vou trazer meu filho bem para casa. Nenhum dinheiro do mundo vai trazer a saúde de meu filho de volta, mas pelo menos vai ajudar com os custos que ele precisa, de um tratamento digno para a vida dele, apesar de tanto sofrimento", destaca Larissa.

Fonte: G1 Bahia