Não é uma questão apenas de geração de energia. É preciso encontrar um termo que atenda a todos, avalia presidente do Comitê da Bacia do Rio São Francisco

O período úmido na bacia do São Francisco praticamente chegou ao fim. Entretanto, o índice pluviométrico registrado nos últimos quatro meses permitiu a elevação do nível dos reservatórios instalados em toda a extensão do chamado rio da integração nacional. Com isso, a defluência deverá ser elevada no dia 1º de maio, a partir do reservatório de Sobradinho, na Bahia, para uma média mensal de 600 metros cúbicos por segundo (m³/s). A proposta foi apresentada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), durante reunião semanal promovida pela Agência Nacional de Águas (ANA), em Brasília (DF) e transmitida por videoconferência, a qual analisa as condições hidrológicas da bacia.

O ONS propôs elevar a vazão para 690 m³/s, de segunda a sexta-feira, das 10h às 22h já a partir da próxima terça, dia 1º. Nos demais horários, ou seja, das 22h às 10h, bem como nos fins de semana e feriados, a defluência a ser praticada será de 550 m³/s. A medida resulta numa média de 600m³/s. Apenas a representação do governo da Bahia se colocou contra a nova vazão mínima, por defender a manutenção do patamar atualmente praticado, de 550m³/s.

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, pediu a observação dos usos múltiplos. “Não é uma questão apenas de geração de energia. É preciso encontrar um termo que atenda a todos”, defendeu Miranda. Ele ressaltou, ainda, a urgente necessidade de se elevar a vazão em Sobradinho. “A vazão atual é desastrosa para a região do Baixo. Todos sabem e não precisa repetir”, acrescentou o presidente do Comitê, ao concordar com a proposta apresentada pelo ONS.

Em relação ao reservatório de Três Marias, em Minas Gerais, a defluência deverá ser de 116 m³/s, de maio até novembro. A medida, porém, não significa que a questão esteja fechada. Conforme explicou o superintendente de Recursos Hídricos da ANA, Joaquim Gondim, as condições do sistema deverão continuar sendo analisadas permanentemente. “O resultado dessa reunião não significa que uma questão não pode ser modificada, pois o comportamento do rio deverá ser acompanhado permanentemente”, afirmou Gondim.

Ainda na reunião, o presidente do CBHSF também demonstrou preocupação com a intrusão salina, especialmente na foz do São Francisco, no município alagoano de Piaçabuçu. “A cunha salina não se reporta apenas ao abastecimento humano. Ela afeta os lençóis subterrâneos e as culturas agrícolas. Há todo o contexto de impactos que infelizmente ainda não temos dados suficientes”, ponderou Anivaldo Miranda. Miranda voltou a defender a realização de estudos mais profundos sobre a questão.

A equipe técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apresentou a previsão de chuvas na bacia do São Francisco para os próximos sete dias. De acordo com os gráficos exibidos durante a videoconferência, praticamente não haverá precipitação na bacia.

Além disso, a equipe da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) também tornou públicas as informações referentes ao monitoramento da qualidade da água e cunha salina durante o período de restrição da vazão do Velho Chico. Questões como temperatura, condutividade elétrica, pH, entre outros, para mostrar que a empresa tem acompanhado o impacto provocado pela vazão reduzida na região do Baixo São Francisco.

Nova reunião para avaliar as condições hidrológicas da bacia acontecerá na segunda-feira da próxima semana, dia 30, a partir das 10h. Participaram do encontro representantes dos governos de Alagoas, Sergipe, Bahia, Pernambuco, do governo federal, bem como de projetos de irrigação e universidade.

Ascom CHBSF Delane Barros Foto: Emerson Leite