A SCOOBIDOOLIZAÇÃO DAS NOVELAS BRASILEIRAS

Eu não sou nada afeito em assistir novelas, até pelo fato de  atualmente não ter muito tempo para tal lazer. Digo isso porque em minha OPINIÃO as mesmas conseguem com facilidade destruir a capacidade do brasileiro de ter uma liberdade racional de forma inteligente e num outro aspecto, nutrir as "células promotoras da imbecilidade" no cérebro de certas pessoas na política brasileira e nas redes sociais!

Eu até confesso que no passado, durante minha juventude as novelas tinham mais conteúdo e boas mensagens. Só para citar algumas: Explode Coração, Roque Santeiro, e as recentes: Avenida Brasil e Belíssima. Mas atualmente o que se vê no horário nobre da "vênus prateada" é uma apelação total! É o caso da novela SEGUNDO SOL! Tem até suas qualidades, pois oelenco é bom e alguns atores se destacam em personagens ricos, em perfil e texto – como Laureta (Adriana Esteves) e Rosa (Letícia Colin), por exemplo.

Porém fica a sensação de que o autor JOÃO EMANUEL CARNEIRO atira para todos os lados na ânsia de agradar a gregos e troianos. Frases altruísticas, cenas de grande impacto emotivo e bons ganchos são intercalados com passagens superficiais, resoluções preguiçosas e sequências que pouco ou em nada agregam à trama ou à própria narrativa. Alguns trechos lembram até mesmo o roteiro de um desenho que eu quando criança assistia muito chamado SCOOBYDOO. Alguém se lembra?

 A gente sabe muito bem que toda novela que se preza tem o núcleo cômico com a finalidade de deixar a trama menos pesada ou sensacionalista. Não estou aqui me referindo exclusivamente a esses núcleos, mas quando o humor começa a aparecer mais que a trama central, ou quando a trama central se se afunila ou empaca em um núcleo cômico, há um indício de que algo não vai indo muito bem.

Mas o enfoque central dessa minha crônica está na personagemLuzia/Ariella da atriz Giovanna Antonelli, a outra protagonista, vinha tentando evitar que os filhos a reconhecessem. O que já não fazia muito sentido, já que ela voltou ao Brasil para revê-los. Nem vou entrar no mérito do "como não reconhecerem Luzia (e Beto Falcão)". Fico na construção da narrativa da trama:

Por que Luzia não luta para provar sua inocência?
Por que ao ser descoberta pelos rebentos não revelou a eles tudo o que aconteceu de fato?
Eu respondo: porque se isso acontecer, acaba a trama de Luzia (como acabou a de Beto), simples assim...

Então para fazer a trama de Luzia render, o autor a edificou numa base frágil, capenga e nada verossímil. Luzia chega a ser ingênua demais. Desmascarada pelo filho Ícaro, a DJ ficou igualzinha a um tipo de personagem vilã do desenho SCOOBYDOO. É aquele velho clichê de cena no final da história em que os quatro garotos mais o cão dogue alemão super-medroso e ao mesmo tempo trapalhão capturam o criminoso e puxa a máscara. Quando os garotos explicam para a polícia todo o "mistério" o vilão solta a mesma frase de todos os finais de episódio: "Eu teria conseguido se não fossem esses garotos intrometidos!" Na novela, só faltou Luzia dessa forma se referir com essas mesmas palavras a Ícaro para Manu!

Foi por esse trechinho que eu acidentalmente assisti nessa novela (como falei acima, não tenho mais tempo para tal...) que possuído de uma mistura de humor e sarcasmo tomei a liberdade de inventar um novo português! Criei o vocábulo "SCOOBYDOOLIZAÇÃO'' (ficou horrível, eu sei!) para conceituar aqueles recursos de narrativa entre tramas, entrechos, desfechos e diálogos simplórios, preguiçosos, fáceis, às vezes numa linguagem que beira a infantil e que revelam uma trama mal executada, em que a lógica dos meios não interessa aos fins. Isso porque o intuito é fazer valer uma ideia final, um desfecho ou um arco dramático, nem que para isso mande-se às favas a verossimilhança e subestime-se a inteligência do telespectador. O propósito? Creio que isso foi para entreter de maneira direta um público mais abrangente e menos exigente que, como falei antes, tem fome e sede de besteirol, alimento para justificar e fortalecer suas convicções errôneas e imbecis.

A scoobydoolização é ruim? É de mais, é péssima! Afirmo com todas as letras isso porque já é sabido há muito tempo que boa parte dos brasileiros ainda não aprendeu a discernir entre ator e personagem; história e estória e por fim:novela e vida real! Basta ver isso nas crendices culturais, nos boatos que no fim acabam tendo desfechos trágicos onde se acredita em tudo que na internet se vê. Resultado? Péssimas escolhas dos nossos governantes, péssimos resultados no PISA e no ENEM.

A maioria dos brasileiros se deixa levar em muito na manipulação da mídia, no achismo das religiões e da própria política. Acreditam na honra de certos governantes que em troca de pequenas "benesses" e um punhado de esmolas travestidas em programas sociais, roubam descaradamente e afundam nosso país na pobreza, na desesperança e na imbecilização. 

 Segue o fluxo gente amiga. Sei que está difícil, mas vejamos até onde isso vai acabar!

ERRY JUSTO.
Radialista e Jornalista

Espaço Leitor