Sem chuvas, a Seca castiga produção de mel de abelha no semiárido

Por mais de seis anos, a seca vem castigando o Nordeste. Neste cenário de dificuldades, algumas produções foram drasticamente reduzidas, como é o caso do mel de abelha. No Nordeste, o alimento teve queda de 80% devido à estiagem prolongada. As perdas de enxames foram da ordem de 85% somente em Pernambuco. Para reverter a situação e conseguir recuperar suas criações, os apicultores estão investindo em técnicas simples de manejo capazes de minimizar o abandono de abelhas das colmeias, já que o inseto necessita de flora para se desenvolver.

Os números que comprovam a crise fazem parte de estudo da Universidade Federal do Ceará e foram apresentados pelo apicultor e engenheiro agrônomo Afonso Odério. “Pernambuco, em todos esses seis anos de seca, caiu tanto em produção de mel quanto na quantidade de enxames. É preciso realizar práticas continuadas, além de se adequar ao ambiente e a seu clima”, explicou o engenheiro, ao complementar que a cidade de Moreilândia, no Sertão do Estado, foi a que menos sofreu perdas devido ao manejo realizado pelos apicultores nos enxames.

Com técnicas simples aplicadas nos apiários, é possível conseguir produzir mais quatro enxames a partir de apenas um. “Através de sucessões, conseguimos em noventa dias aumentar os enxames. É o chamado método ‘X’ de multiplicação. Para conseguir isso, é preciso manter algumas ações na prática”, explicou Odério, ao falar sobre técnicas essenciais, mas não usuais. “É fundamental abrir espaço nas colmeias para a abelha-rainha, ter sempre água para as abelhas e espaço para sombreamento”, explicou o engenheiro agrícola, ao acrescentar que seis a oito meses por ano são mais críticos porque não há nenhuma chuva no Semiárido.

Outros manejos são feitos com tampas para também otimizar a produção. “Se não for colocada a chamada tampa interna nas colmeias, as abelhas consomem mais 20% das reservas alimentares, que seriam guardadas para o verão. É importante a suplementação de alimentos naturais nos 60 dias mais críticos do ano”, informou Odério, que estará presente na 26ª Agrinordeste, entre os dias 9 e 11 de outubro, no Centro de Convenções, para palestrar sobre a "Apicultura no Semiárido".

Entre os dez maiores polos de produção do mel no Brasil, Pernambuco se destaca com dois, localizados no Sertão: a região do Moxotó e a do Araripe. “A falta de chuva causa a falta de flora. Então, nesses períodos prolongados de seca, apicultores migram para outros estados, levando as suas colmeias. Produtores do Sertão Central e do Araripe, por exemplo, foram para o litoral do Maranhão, onde encontram a flora do mangue”, explicou o presidente da Associação dos Apicultores e Meliponicultores do Cabo de Santo Agostinho (AAMC), Antonio Muniz Junior. 

Há 45 anos trabalhando com abelhas, o apicultor e biólogo João Luiz da Silva viu a sua produção de mel reduzir ao longo dos anos por causa da dolorosa seca. Apenas em 2017, houve queda de quase metade. “Ano passado foi o pior ano para aprodução do Agreste. A minha média é de quatro a cinco toneladas de mel por ano. Em 2017, a produção foi de 2,5 toneladas”, disse o apicultor, ao complementar que a maior produção pernambucana está na região do Araripe, local bem prejudicado. “Essa produção no Sertão vai para exportação, principalmente para os estados do Piauí, Santa Catarina e Ceará. A produção do Agreste e Litoral é consumida mais no varejo interno”, explicou Silva.

E para recuperar a produção, ele está trabalhando intensamente nas colmeias. “As estiagens severas, a questão do desmatamento e o efeito estufa vêm prejudicando e reduzindo a quantidade de abelhas. Então, é importante colocar comida suficiente para elas ou realizar o ciclo migratório de levar as abelhas para outras regiões com0 floração, que é como eu faço muitas vezes pelo Agreste”, contou o apicultor, ao complementar que as abelhas são seres capazes de sinalizar que o planeta está em dificuldades.

Segundo o presidente da AAMC, Antonio Muniz Junior, a apicultura possibilita a manutenção de atividades paralelas de forma que os produtores consigam outro sustento para suas famílias. “A apicultura dá flexibilidade para os apicultores planejarem outros trabalhos e ganharem mais renda, principalmente no período das chuvas fortes”, disse.

Folha Pernambuco