Tecnologia: onze ministros e uma urna eletrônica

Christian Geronasso*

Jair Bolsonaro foi eleito com 56,8% dos votos válidos e assume o cargo máximo do país após a eleição mais polêmica e polarizada de todo processo democrático. Nesse cenário, o processo eleitoral de 2018 teve participação marcante dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, agindo em situações importantes como a interferência policial em universidades ou se defendendo contra os diversos ataques que receberam.

Como em grande parte das disputas, um lado perde e outro ganha. Enquanto o ganhador está preocupado em comemorar e se preparar para os discursos da vitória temos o perdedor culpando tudo e todos. Na cena eleitoral brasileira, a primeira na linha de fogo é a urna eletrônica. Apesar de ser utilizada como estudo de caso na universidade norte americana de Stanford, na Califórnia, uma das instituições mais prestigiadas do mundo, as críticas à utilização da urna eletrônica se amontoam. É semelhante ao apostador que joga com frequência na loteria e quando é questionado do porquê nunca foi beneficiado, sugere que o mecanismo é fraudulento.

As arquiteturas tecnológicas mais complexas podem ser validadas com processos extremamente simples. Atualmente a maior preocupação das grandes corporações não está em falhas nas suas barreiras de segurança digital, mas sim nas falhas cometidas por seus colaboradores. Um dos golpes mais utilizados é quando o hacker se passa por um analista da TI e entra em contato com um funcionário solicitando sua senha pessoal.

Acompanhar a cerimônia de votação paralela é uma ótima alternativa para os céticos de plantão. Na véspera da eleição são sorteadas urnas para teste. Elas são retiradas dos seus locais eleitorais, onde já estavam instaladas, e cada voto registrado no aparelho deve ser duplicado em papel, tudo é registrado por câmeras. Outro ponto importante é a ausência de conexão com a internet. Sempre após encerrar a sessão o responsável imprime o BU (Boletim de Urna), que é fixado na entrada da sessão, totalizando os votos.

Características técnicas também garantem a segurança do equipamento, permitindo que seja auditável. Os códigos-fonte, algoritmos que determinam a lógica de operação dos aparelhos, são abertos para os representantes técnicos dos partidos, ao Ministério Público, à Ordem do Advogados do Brasil e à Polícia Federal. O que significa que duvidar da validade da urna eletrônica é colocar em cheque a idoneidade de cada uma dessas instituições.

Existem dois possíveis momentos para fraudar as urnas. No primeiro, antes que sejam lacradas pelo Supremo Tribunal Eleitoral (STE). Neste caso, o fraudador teria que saber exatamente quantos votos direcionar para o candidato fraudador. Isso reduz as chances de um resultado apertado. No segundo momento, quando as urnas são recebidas pelo STE. Isso causaria divergência com os Boletins de Urna, mesmo assim seria o momento ideal, mas muitos teriam que ter participado desse segredo. E temos percebido que segredos compartilhados entre muitos corruptos geralmente acabam em Curitiba.

*Christian Geronasso é professor do ISAE Escola de Negócios e consultor com mais de 10 anos de experiência no mercado. Atua como especialista em negócios e transformação digital em uma das maiores empresas de tecnologia do mundo.