O que mais inquieta a todos nesse período pós-eleitoral e pré-posse dos eleitos - em particular no caso da Presidência da República -, é a repentina competência que aflora em todos os níveis, desde os comentaristas de televisão, às manifestações de políticos derrotados no pleito, cada qual com as fórmulas mais diversas e as mais perfeitas de como resolver os problemas nacionais. São tão convincentes nos argumentos como donos de todas as verdades, que se chega ao entendimento de que parece que os eleitos são os menos preparados para os cargos e assim dizem que 57,7 milhões de brasileiros foram absolutamente incompetentes na escolha que fizeram.
O inconformismo dos vencidos, contudo, deve ser perfeitamente assimilável por todos, visto ser uma contingência natural do sistema democrático. Os perdedores de ontem passam a ser os vencedores de hoje, e o reverso da medalha poderá ser o resultado do julgamento popular no amanhã do próximo pleito. O choro é livre, porém, mais importante do que vencer sempre é ter a consciência de que a alternância do poder faz parte do processo democrático e constitucional, devendo ser acolhido com dignidade.
Em todo esse contexto político-eleitoral, também a vertente vencedora está exposta a algum tipo de censura lógica por força do cometimento de algum tipo de desvio ou excessos no palavreado por parte de alguns, principalmente motivado pela natural empolgação diante da perspectiva do poder. Por exemplo, surgem mil conjecturas em torno dos nomes que integrarão a equipe Ministerial do Governo, ou ocorre que alguns nomes são apenas sondados e logo passam a ocupar as páginas dos jornais, ou os citados passam a falar demasiadamente como se já estivessem investidos nas funções! Por falar nisso, pense numa turma falante pelos cotovelos como essa que está chegando ao poder! O perigo é de que entre falar e fazer não existe uma ponte para estreitar a distância. Bem, como existe um sábio ditado que diz: “quem fala demais dá bom dia a cavalo”, ou ainda: “quem muito fala, pouco faz”, prefiro aguardar.
É comum, também, que alguns nomes tão logo anunciados publicamente pelo Presidente eleito, assumam posturas acima dos limites nas suas declarações à imprensa ou opinem sobre assuntos que não lhes competem, como a área Política se manifestar sobre a Economia, Justiça, Defesa ou vice-versa. Daí provocarem conflitos preliminares, como ocorreu com o Ministro Paulo Guedes, que desautorizou o Onyx Lorenzony, futuro Chefe da Casa Civil, de “dar pitaco na área econômica”!
A formação de uma equipe de governo não é uma tarefa fácil para qualquer grupo político e é compreensível que surjam naturais dificuldades. É preciso que o Presidente eleito tenha a efetiva percepção de que o seu papel de líder exige pulso, e o seu senso de comando tem de marcar presença em todos os atos iniciais, o que não deve ser para ele uma missão difícil diante de sua cultura de origem militar. Outro detalhe que não deve perder de vista é que para a implementação de reformas fundamentais a habilidade tem de ser exercida nas relações com o Poder Legislativo, amplamente reformulado da sua velha composição no último pleito. Tem de haver muito cuidado no uso da linguagem hábil e respeitosa, porque expressão como a usada pelo Paulo Guedes – “vamos dar uma prensa neles”, referindo-se ao Congresso Nacional - é pobre e inapropriada na estimulação do bom relacionamento entre os Poderes. Foi infeliz, também, ao declarar que vai “salvar a indústria brasileira apesar dos industriais”. Ora, o que seria da indústria nacional sem a competência e empreendedorismo dos seus industriais? Ou ele não estaria, também, dando “pitaco” na área que não deve?
É indiscutível que ao longo da gestão as avaliações se sucederão a cada passo ou atitudes do Governo nos próximos quatro anos. E não se iluda o novo comando da República de que esse mesmo povo que o elegeu estará sempre atento e determinado a fazer as cobranças no tempo e hora que julgar convenientes. E, quando o doce da lua de mel acaba, todos sabem o que acontece! ESTÁ CHEGANDO A HORA!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil – Salvador – BA.
12 comentários
11 de Nov / 2018 às 23h09
Esta analise nos proporciona uma imagem nítida como grupos políticos vinham mantendo seu domínio ideológico sobre a opinião pública e acabaram sendo retirados dos seus mandatos por terem perdido a conexão com a realidade. Pessoalmente, acredito que um presidente populista diz ao povo o que este espera ouvir, e um Presidente estadista revela a realidade que precisa ser conhecida. Usei letras minúscula e maiúscula propositadamente. E esta sua excelente análise, Agenor, me confirmou esta sensação. continua....................
11 de Nov / 2018 às 23h10
continuação....................Precisamos de mais Brasil, e menos ideologia. Acredito que 57,7 milhões de brasileiros entenderam isto. Espero que os eleitos correspondam a este anseio. FOZ DO IGUAÇU
11 de Nov / 2018 às 23h13
O que eu vejo e quase todos podemos ver é que já existe um governo pararalelo fazendo de contas que é a tal Transiçao. Agora aqui para nós, vocês ja viram a empafia de algumas figuras do futuro governo? Faz parte da transição...
11 de Nov / 2018 às 23h13
Concordo em Gênero, Número e Grau, Professor Agenor Santos. (Central-BA).
11 de Nov / 2018 às 23h15
Que reflexão bem feita! Parabéns meu amigo. (Maracás-BA).
11 de Nov / 2018 às 23h28
Muito boa sua crônica, inicialmente estou gostando dos nomes para o ministério e se fizerem o que esperamos, no máximo daqui a quatro anos, substituiremos todos. (Camamú-BA)
11 de Nov / 2018 às 23h29
A sua análise está perfeita e, em verdade, quem sabe administrar o tempo, tem dias mais tranquilos, pauta de trabalho mais leve e racional, evitando alguns aborrecimentos. Tem sido por meio deste exercício milenar de usar conselheiros inteligentes, que alguns homens têm resolvido os mais difíceis casos de suas administrações e evitado grandes conflitos. O assessor competente diz não em seu nome, para não comprometer o chefe e/ou o Ministro e diz sim em nome do chefe e/ou Ministro para aumentar-lhe o prestígio e a simpatia. (Manaus-AM).
11 de Nov / 2018 às 23h31
Agora é aguardar e torcer para que tudo comece a andar dentro dos trilhos. Que não se desgoverne... Boa sorte, bora baeeeeeaaaaaa minha porrrrra!!! (São Paulo-SP).
11 de Nov / 2018 às 23h33
Esse Paulo Guedes “fala pelos cotovelos”. Não vai durar muito. Há notícias de que o Temer será nomeado embaixador para a Itália, obtendo, assim, o “foro privilegiado”. Se isso acontecer, será a continuidade explícita da corrupção, contrariando todo o discurso do Presidente eleito. Vamos para a frente, torcendo sempre em favor do Brasil e, consequente, para nós brasileiros! (Salvador-BA).
11 de Nov / 2018 às 23h39
Pois é meu irmão, tem o período da " lua de mel" e em seguida os 90 dias para sabermos se os falares estarão em sintonia. "Ai ai ai ai... tá chegando a hora..."
12 de Nov / 2018 às 04h16
Há um obstáculo na nomeação do Sr. Moro. Ela parece confirmar as alegações do Partido dos Trabalhadores, de esquerda, de que as razões do juiz ter prendido seu líder e candidato presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva, no início deste ano, eram mais políticas do que judiciais", aponta reportagem deste fim de semana da revista Economist. "Dias antes da eleição, Moro divulgou o depoimento de Antonio Palocci, um ex-ministro do partido, que o incriminou. Consta que Moro já estava conversando com o pessoal de Bolsonaro. Tudo isso prejudica a confiança
12 de Nov / 2018 às 07h43
Tenho visto que o Sr. Agenor, exímio na escrita, tem mudado o seu estilo de início muito conservador. Melhor para nós, leitores. Agora é esperar que o professor Otoniel Gondim envie o seu artigo e torcer pelo não radicalismo. Os dois são ótimos, Geraldo José.