ESPAÇO DO LEITOR: CRONICA PARA “COMPECHON”

Para mim foi um verdadeiro choque, o momento em que eu soube do falecimento do “Compechon”, segundo nós nos tratávamos, desde quando ainda trabalhávamos na Companhia de Navegação do São Francisco, nos idos de 1960.

Não contive as lágrimas. Chorei, principalmente porque quando soube o mesmo já estava sepultado. Foi-se o velho amigo, o Mestre de quem eu vou ser um eterno Aprendiz.

Seu nome: Trajano Lino de Souza, seu apelido “Compechom”, isso porque naqueles idos de 1964/1970, quando, neste último ano, me desliguei  da CNSF, ele que tinha por irmão de sangue, o Sr. Abílio Lino de Souza, que naquela época era o porteiro do Cine Teatro São Francisco, ambos, o porteiro e o cinema, de saudosa memória, facilitava o seu ingresso naquele ambiente, ele sempre que podia, ía assistir a um filme, onde para ele os personagens da fita, chamavam uns aos outros de “Compechom”, o que significava para ele, a palavra “Companheiro”.

É esse o significado da alcunha tão difícil de se entender.

Entrei na Companhia no dia 1º de outubro de 1964, com treze anos e onze meses de idade, dela saindo aos vinte anos,  para fazer vestibular de medicina, em Salvador, onde fui aprovado  , cursando na Universidade  Federal da Bahia, todo o curso médico.

Portanto, na Companhia de Navegação do São Francisco, permaneci durante mais de sete anos. Todos aqueles anos trabalhando, ou melhor, aprendendo, com Trajano e Mestre Alvin, (Àlvaro de Souza França), como Aprendiz de torneiro e, mais tarde, num pequeno escritório que a CNSF montou para auxiliarmos os trabalhadores do Estaleiro  da Ilha do  Fogo. Naqueles vivi os melhores anos da minha vida. Com ambos aprendi a profissão e, acima de tudo, formei o meu caráter e se hoje sou quem sou, devo muito a eles.

Foi-se o “compechon”, combalido por uma das doenças mais horrorosas que existem na humanidade, cuja medicina ainda não descobriu a cura, apenas o controle, porém,  quando se sai da dieta por pouco que seja, ela aflora novamente: o Diabetis Mellitus, seja ele tipo 1 ou tipo 2.

Quando eu soube do seu passamento para o Oriente Eterno, já era noite, e ele havia sido sepultado na parte da tarde. Nem mesmo na sua família eu pude dar um abraço de solidariedade mas, nem por isso pensem que eu deixei de sentir, demasiadamente, a morte de um Irmão.

Trajano Lino de Souza, foi um dos maiores torneiros mecânicos que Juazeiro e  região já conheceu. Prá ele não tinha peça difícil, ele era capaz de fazer de tudo, num torno mecânico.

Com a sua morte, Juazeiro perde um grande Artífice, um soberbo profissional e, sobretudo, um Grande Mestre.

Só desejo à família enlutada, meus sentimentos profundos e, aos filhos, que procurem trilhar os caminhos do pai.

Que o corpo volte à terra, que é pó. E que o espírito volte a Deus que o criou!

Saudades “Compechon”!

Carlos Augusto Cruz - Médico/Advogado