ARTIGO – “FILHO FEIO NÃO TEM PAI”

Esse é um dos muitos provérbios portugueses que enriquecem o universo dos ditados populares, sempre encontrando adequação às mais diversas situações do cotidiano, principalmente quando se busca a justificativa para fugir às responsabilidades diante de algum fato negativo praticado. Quase sempre, também, quando o filho é muito bonito, o que mais se ouve é a frase orgulhosa de um certo coruja a dizer que “é a cara do pai”! Quando a situação é inversa e não tão favorável, o silêncio domina o momento. Assim é, infelizmente, a humanidade com suas facetas inusitadas.

No Brasil, por analogia, está arraigada no comportamento humano uma forte tendência à prática do silêncio comprometedor - quando não irresponsável -, protegendo a identidade de alguém por certos atos sob o apanágio do crime da omissão. De forma acentuada essa é uma característica presente e dominante na vida pública, onde as irregularidades quase nunca são apuradas, os projetos e obras são superavaliados e, o pior, às vezes ocultam as intrigantes e manhosas maledicências financeiras. Ah, se a Lava Jato desse uma passadinha por essas sujeiras para lavar tantas sujeiras que por certo existem e não são poucas!

Em 11/04/2013, sob o título “AS OBRAS INACABADAS”, já comentei sobre alguns absurdos que são cometidos com o dinheiro público pelo Brasil à fora, que agora relembro ao leitor: “Contrariamente ao que deveria acontecer, os seus olhos irão vislumbrar estúpidos monumentos ao absurdo, à vergonha de projetos mal elaborados e inconsequentes, verdadeiros marcos do desperdício do dinheiro público. Aqui em Salvador, em algumas avenidas encontram-se estruturas de concreto de colunas que deveriam ter recebido uma passarela ou mesmo algum provável viaduto, e que foram simplesmente abandonadas e estão apontando para o nada. Próximo ao Posto da Polícia Rodoviária Federal, acesso a Simões Filho, foi construído um viaduto sobre a BR-324, sem qualquer pista de um lado ou de outro que justificasse a pressa na edificação do mesmo. Erro de planejamento, ninguém sabe ou explica!”. Já são decorridos 5 anos da edição da crônica e o tal viaduto permanece inútil... feio e sem pai!

Outro episódio dantesco: “Parece hilário citar que a pequena cidade de Goianá, em Minas Gerais, com 4.000 habitantes, teve liberados recursos estaduais e federais da ordem de R$ 88,0 milhões para construir pista para aviões de grande porte, mas sequer perceberam que havia um morro na cabeceira que impedia a obra”! E aí, com certeza, a Lava Jato descobriria as malas cheias de nosso dinheiro, sabe-se lá para qual finalidade!!!

Se dermos um giro por todo o Brasil iremos testemunhar o incrível volume de bilhões e mais bilhões de reais investidos de forma inútil, em obras importantes e necessárias, mas nunca concluídas! Serviram de instrumento, apenas, para alimentar a fome insaciável por dinheiro fácil e nada melhor que uma obra pública de grande valor para maquiar as aparências. Isso pra não falar da quantidade de equipamentos hospitalares comprados e pagos, e nunca instalados por faltar a simples adaptação dos respectivos espaços para sua instalação. A televisão tem exibido imagens de aparelhos ainda embalados e armazenados em depósitos, caminhando para se tornarem obsoletos, por já terem esperado anos e anos sem uso!

Pasmem os leitores! O presidente da Comissão de Obras Inacabadas, do Senado Federal – já oficializaram até o nome! -, Senador Ataídes de Oliveira (PSDB-TO), afirmou “que o desvio de recursos federais com 22.000 obras incompletas e financiadas, direta ou indiretamente, pode chegar a cerca de R$ 1 trilhão”. E que “o cemitério de obras representa um custo altíssimo para a sociedade, pois significa dinheiro público jogado no lixo”. Palavras de um Senador!

Mas, a verdade mais que evidente, é que os pais dessas crianças “feias” não irão aparecer, jamais, a menos que a Lava a Jato se encarregue de aprofundar a investigação dessa paternidade desastrosa e criminosa. Somente depois de enjaular muitos desses pais, é que esses filhos deixarão de ser órfãos e, com certeza, poderão até deixar de serem feios… Quem sabe!

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil (Em Recife-PE).