TUDO NO SEU TEMPO: CEM MIL VOTOS NA LATA DO LIXO!

(Carta Aberta ao Sr. Isaac Carvalho)

Juazeiro, 10 de dezembro de 2018.

Caro Senhor Isaac Carvalho (ex-prefeito de Juazeiro):

Como diz a trilha sonora de conhecida novela, “Tudo o que você faz um dia volta pra você!” E veja como volta:

Minha irmã, a Profa. Joana Ramos dos Santos Neta, conhecida e conceituada mestra de gerações de alunos que hoje pontificam em diversas áreas da atividade profissional e humana, um dia conseguiu realizar a duras penas, com sacrifícios pessoais e familiares imensuráveis e sem nenhum apoio de políticos ou de órgãos públicos, o sonho de ver construído o prédio de seu colégio, edificado com materiais de primeira qualidade e dentro das normas e padrões estabelecidos, para aconchegar com conforto e bom resultado as centenas de crianças sob seus cuidados.

Fatores alheios à sua vontade fizeram-na suspender provisoriamente as atividades do seu querido Educandário São Francisco. Resolveu então alugar o imóvel, sendo a Prefeitura Municipal a última instituição com quem firmou locação, mas com o firme propósito de reabri-lo tão logo superasse as causas que determinaram seu fechamento temporário. Não contava, porém, com o infortúnio de ter sua trajetória de dedicação ao ensino ceifada por doença degenerativa que a limitou e a impediu de continuar sua missão de educadora. Restou-lhe, assim, a sofrida decisão de manter o prédio locado ao município, que lá instalara e fez funcionar, por muitos anos, o CAPS AD.

Mas pior que a enfermidade limitante da minha irmã, foi a desdita de ver a incúria da administração municipal permitir que seu belo e bem construído patrimônio fosse sendo progressivamente destruído pela falta de manutenção e vigilância, alvo de depredações e saques repetidos, que o deixaram praticamente reduzido a pó, restando nada mais que um terreno devastado, inútil para qualquer que seja a finalidade para que se pense destiná-lo.

Achando-o já sem serventia para os interesses da administração municipal, decidiu você, senhor Isaac Carvalho, então Prefeito, rescindir o contrato de locação e devolver o imóvel à minha irmã, sem os devidos reparos por justiça necessários para que fossem minorados os danos que inutilizaram a edificação. È bom frisar que os reajustes de aluguel praticados vinham sendo irrisórios, muito abaixo dos índices praticados no mercado imobiliário. Mais aviltante ainda foi o valor da indenização concedida, que nem sequer levou em conta o pleito de compensação nos débitos que temos pendentes para com a fazenda municipal, esses sim, reajustados muito acima dos percentuais aplicados aos aluguéis.

Parece-me que solidariedade, gratidão, sensibilidade, compromisso, justiça, senso de correção e empatia para com o próximo são valores inexistentes na genética da sua personalidade, Senhor Isaac Carvalho! Quantas noites indormidas tivemos, eu e minha irmã, afligidas e humilhadas pela insensibilidade sua e dos seus prepostos! Minha irmã, já presa ao leito, vivenciou momentos de desespero ao ver, nas imagens transmitidas pela TV São Francisco, a devastação do seu ex-colégio, desespero esse que teve impacto nefasto na sua saúde já debilitada, agravando a evolução do mal de Parkinson e levando-a a um quadro de confusão mental e outras conseqüências comprovadas por avaliações médicas.

Eu, que vibrara fervorosamente com a sua vitória na eleição para prefeito para depois vivenciar tanta decepção com a sua pessoa, sou a mesma que, hoje, não consegue se sentir, mesmo assim, presenteada com seu insucesso na tentativa de se eleger deputado federal. Lamento, ao imaginar que, agora, quem não está conseguindo dormir bem ao colocar a cabeça no travesseiro é você, senhor Isaac Carvalho! Imagino a sua vaidade ferida, as incertezas, as reticências e as interrogações que o afligem quanto ao seu futuro político!

Você, senhor Isaac Carvalho, numa atitude inconsequente e - por que não dizê-la? - irresponsável, iludiu e frustrou mais de cem mil eleitores, impingindo-lhes, mediante recurso vazio de chances junto ao TSE, uma candidatura já morta e sepultada, visto que impugnada em duas decisões unânimes do Tribunal Regional Eleitoral, por estar incurso na Lei da Ficha Limpa, com condenações em primeira e segunda instâncias.

Assim, o que conseguiu foi desencaminhar o voto dessas tantas pessoas, roubando-lhes a oportunidade de poderem escolher entre outros candidatos aptos legalmente para serem sufragados. Com isso, nossa terra perdeu representatividade, não conseguindo eleger nenhum representante para a Câmara Federal. Nem mesmo seu partido - o PC do B -, maior fiador político e responsável pelos vultosos recursos que turbinaram sua pretensão, escapou ás consequências de tal sandice. Sem os votos impugnados, amarga a situação de se ter transformado numa legenda nanica, sem direito ao Fundo Partidário e caminhando para a extinção depois de 96 anos de existência, a mais antiga agremiação política do País.

Não me interprete, Senhor Isaac, como se eu estivesse, neste texto, querendo tripudiar sobre sua desventura e decepção. Entenda-o como um desabafo. Um grito engasgado na garganta e que não mais podia ser contido. Afinal, vetei meus impulsos, reprimi há muito tempo a mágoa e a revolta pelo que fez com a minha irmã e entreguei tudo nas mãos de Deus, Aquele que tudo sabe, tudo vê e tudo pode! Ele que faz o balanço das nossas vidas, que avalia o conjunto dos nossos débitos e créditos amealhados e nos cobra ou nos recompensa conforme nosso merecimento.

Não lhe desejo mal. Espero, sim, que consiga usar do prestígio que parece usufruir junto ao Governo Estadual reeleito para viabilizar pelo menos metade das expectativas que criou nas pessoas que se iludiram com sua falsa candidatura. Você é um homem jovem e, acredito, poderá mobilizar sua capacidade e potencial para procurar acertar em cima dos próprios erros e melhorar-se como ser humano, lembrando que ninguém, por mais poderoso ou ambicioso que seja, cresce em cima da infelicidade dos outros. Assim, terá a oportunidade de redimir-se dos erros e injustiças que cometeu.

Porque a Justiça tarda mas não falha, Sr. Isaac Carvalho. Aqui se faz, aqui se paga.

Janete Ramos dos Santos (irmã e representante da Profa. Joana Ramos dos Santos Neta)