ARTIGO – LOBOS, EM PELE DE CORDEIRO!

A aproximação dos festejos natalinos e a passagem de Ano, têm o poder especial de ativar em todos nós um sentimento mais ameno na avaliação das coisas, de potencializar a capacidade de perdoar possíveis agressividades pessoais e estimular o sentimento de mais compreensão diante dos eventuais incômodos e indolências dos fracos. O espírito pessoal repleto de regozijo e júbilo, mesmo sob o impulso de muita boa vontade, contudo, não pode ser condescendente com o crime ou benevolente com a abominável irresponsabilidade daqueles que abusam do Poder para se locupletarem daquilo que não lhes pertence, mas, sim, ao Estado ou à sociedade.

Envolvido por esse sentimento, seria mais que natural que o tema da crônica desta semana estivesse atrelado mais às amenidades ou voltado para o foco da espiritualidade e a merecida exaltação ao Rei dos Reis. Existe no cenário nacional, todavia, uma persistente tendência para a continuada revelação de tantos e tão vergonhosos episódios ligados ao desvio da moralidade, à revelação de práticas antes ocultas e já localizadas, inclusive, no meio daqueles que pregam o combate a tudo isso. Tamanha é a gravidade que nos cerca, que até mesmo o teclado do PC se recusa a digitar algo que não seja o reiterado protesto a toda essa imundície instalada. Na verdade, esses caras perderam a noção de vergonha na cara, essa é uma realidade. Uns chegam até a questionar que só roubaram um pouco em relação aos trilhões que tantos roubaram. A meu ver, todos são ladrões do mesmo naipe.

Tenho o entendimento de que, por coerência, os motivos que levaram 57,7 milhões de brasileiros a elegerem uma nova liderança ou buscar algum novo projeto que tivesse como objetivo fundamental substituir o esquema anárquico implantado no país, devem continuar presentes como regra de conduta permanente. Os princípios pregados devem se manter inalteráveis, e assim localizar e punir exemplarmente, se culpados, todos aqueles que ludibriaram a boa-fé do eleitor, não importa se pai, filho ou irmão. A propósito, é válido recordar como exemplo de alerta, uma dentre as maravilhosas lições deixadas por Cristo em uma de suas muitas parábolas: “Cuidado com os falsos profetas. Eles chegam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os conhecerão pelo que eles fazem (Mateus 7). A mensagem define uma triste vocação do ser humano: A FALSIDADE! E no Brasil da atualidade é o que mais se encontra, malvadamente disfarçada...

E no apagar das luzes de um ano tão infestado de impurezas de toda ordem, a Nação foi surpreendida no STF por uma Liminar monocrática do Ministro Marco Aurélio de Melo, que beneficiaria com a liberdade milhares de condenados em 2ª. Instância – falam na soltura de 165.000 presos, embora visasse beneficiar um só! -, mesmo que se insurgindo contra uma jurisprudência aprovada pelo Pleno do Superior Tribunal Federal! Ora, se essa sua decisão pode ser invalidada por um simples ato Regimental do Presidente do STF, como o foi, deparamo-nos diante de uma deplorável e absoluta desmoralização à autoridade do Ministro, além de circular no meio da população um amplo questionamento quanto aos fins e propósitos dessa espúria e birrenta iniciativa. E olha que a anulação não esperou nem a noite chegar! Outra verdade é que esse Supremo está mesmo é suprimido de alguém que cumpra a lei ao pé da letra, e não quem fique deturpando, criando e abrindo as espertas brechas na lei.

Penso que, com o elevado nível cultural e de conhecimentos jurídicos dos senhores membros do STF, não é admissível que tantos deslizes ocorram por atos isolados e independentes de algum Ministro, sem que haja uma prévia reflexão das consequências e desgastes que possam advir à imagem da instituição!

Logo na hora em que é grande a expectativa de todo o povo brasileiro face a transição no Governo Federal e a incógnita de um novo Congresso Nacional bastante modificado na sua composição, seria de se imaginar que o Superior Tribunal Federal fosse o ponto de equilíbrio e sobriedade nas decisões, e nunca ser o motivo gerador de questionamentos dúbios de toda ordem.

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil (Salvador-BA).