ARTIGO – ENTRE A TEMPESTADE E A BONANÇA

O sol sempre brilha depois da tempestade

Depois da caminhada ao longo dos últimos 365 dias, eis que chegamos nessa segunda-feira ao fim de mais um ano do calendário, em que cada vida teve uma história escrita com tonalidades as mais diversas, e onde as alegrias não deixaram de estar associadas às eventuais tristezas presentes no cotidiano de cada um. Com todas as dificuldades que possam existir no Brasil de hoje, é confortante ver que não há espaço para o desânimo ou o desespero, mas, sim, uma boa dosagem de esperança de melhores dias. E aqui, registre-se, que o brasileiro sabe realmente conviver com os mais variados tipos de problemas e crises de forma humorada, fazendo sátiras e levando tudo na esportiva, como o fez nos piores momentos vividos nos últimos anos.

É bom sentir que a população brasileira administrou com sensatez e equilíbrio o processo de mudança de governo, valendo-se dos instrumentos democráticos em vigor. Mesmo aqueles que por fidelidade ideológica não votaram no Presidente que assumirá em 1º. de janeiro de 2019, postura que merece o devido respeito, com certeza estão silentes, por enquanto, mas atentos aos primeiros passos de suas ações. E que eles sejam dados em defesa dos interesses nacionais, é o que todos esperam. 

Oposição sempre haverá e será sempre bem-vinda porque ela faz parte do Sistema Democrático, no qual o direito à liberdade de expressão assegura a pluralidade de opiniões e exclui, assim, qualquer perspectiva ao princípio da unanimidade. O grande cronista Nelson Rodrigues bem definiu: “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade, não precisa pensar”. 

O que deprime é imaginar que o novo governo vai se deparar com um cenário institucional complicado. O Supremo Tribunal Federal, que representaria a essência do poder de justiça e da sabedoria jurídica, passa por uma fase de estranha instabilidade, em que Ministros assumem posturas que parecem desafiar os colegas ou querer invalidar decisões do próprio Pleno do Tribunal (Ministro Marco Aurélio, no caso do Indulto de presos)! Esse episódio e a reação a muitas outras decisões da boa lavra dos Ministros Gilmar Mendes e Lewandowsky, dão bem o tom do nível de relação “desarmônica” existente entre os Poderes!

Há outros fatos da atualidade que mancham a história republicana, como o atentado sofrido pelo candidato em campanha presidencial; o Presidente que deixará o mandato e está indiciado em processos por supostas propinas de empresa ligada ao Porto de Santos, e sob o risco de ser preso após a perda do Foro Privilegiado; e para completar o ciclo de fatos negativos que podem atrapalhar o novo governo, está a denúncia de movimentação financeira suspeita contra um ex-assessor do Deputado Flávio Bolsonaro, o que terá de ser igualmente investigado e esclarecido. Vale dizer que a entrevista do denunciado Fabrício de Queiroz, ao SBT, entre risos marotos, não convenceu nem enganou a ninguém!

O fato concreto é que estamos a dois dias da posse do novo governo, o qual terá a grande responsabilidade de repor esse país nos trilhos do desenvolvimento com decência e respeito. Mesmo que à sua volta sempre estará presente esse universo de problemas, ele terá de ser autêntico e comprometido com o que pregou, da volta da integridade, do combate ao crime e do trabalho com honestidade. 

Uma coisa deve ser lembrada ao novo Presidente: será necessário controlar a verbosidade dos “meninos Bolsonaro’s” que estarão na Câmara e no Senado, uma vez que não poderá estar sempre a justificar certas imprudências verbais que cometem... Aliás, parece que aprenderam com o “papai”!

Essa questão, em particular, é algo preocupante, porque um dos ditados populares que ouvimos na infância nos ensina que “em boca fechada não entra mosca”. Ou ainda, aquele que vem a calhar: “panela que muitos mexem, ou sai insossa ou salgada”. Alguma dúvida? Eles, pai e filhos - agora Presidente e Parlamentares -precisam saber disso. 

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil (Salvador-BA).