Espaço do leitor: Drogas nas Universidades: uma realidade mais comum do que se imagina

Quem, assim como este que vos escreve, teve a oportunidade de freqüentar uma universidade, principalmente os cursos de ciências humanas e/ou sociais, sabe que certos hábitos e comportamentos são rotineiros neste ambiente acadêmico. Um desses hábitos, infelizmente, é o número cada vez mais crescente de jovens que consomem drogas, seja dentro dos departamentos de ensino ou em eventos realizados dentro da universidade.

Não são raros os casos de estudantes que perderam a vida em eventos universitários, seja por consumo exacerbado de álcool ou de drogas. O Prof. Dr. Arthur Guerra, que é supervisor geral do Grupo Interdisciplinar de Estu­dos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (GREA-FM-USP), aponta algumas características dos usuários de maconha:

"Ninguém usa a dro­ga para ficar mal, mas tem um grupo que vai usar a droga e não vai ter prazer. Al­gumas pessoas apresentam um quadro chamado ataque de pânico, não raro após uso de maconha, em que o indivíduo fica desesperado e acha que vai morrer ou ficar louco. Outros têm quadros paranói­cos, pensam que pessoas ou policiais vão pegá-los e investigá-los, ou ainda existem aqueles que come­çam a ficar tristes, chorosos e desenvolvem ideias negativas e alarmistas, em que a morte é uma saída."

Ele acrescenta:

"O uso de maconha é grande: de cada quatro, um fuma maconha. O uso de anfetaminas é um pro­blema sério, especialmente para mulheres que que­rem perder peso. O que nós não encontramos, fe­lizmente, foi o uso de crack, que ficou em apenas 0,1%. De fato, o crack inviabiliza a faculdade. São quase excludentes: na medida em que o quadro de dependência em geral é tão forte, associado a ou­tros aspectos de pior evolução, o indivíduo não te­ria um comportamento su­ficientemente organizado para frequentar a universi­dade – embora raro, não é impossível ver isso aconte­cer em alguns casos."

No ano de 2010, foi realizado um estudo em 27 capitais brasileiras, com 18.000 estudantes universitários de 100 instituições de ensino superior (IES). O levantamento trouxe dados interessantes, tais como:

·O percentual de jovens universitários que consomem drogas tende a ser até duas vezes maior que o daqueles que não são universitários;

·A pesquisa aponta que 48,7% dos estudantes universitários usaram drogas ilícitas na vida (52,8% entre os homens), enquanto, na população brasileira, o índice é de 22,8%, segundo levantamento geral realizado em 2005.

 Outras informações sobre o estudo podem ser conferidas no gráfico abaixo:

Em 2017, houve uma série de reportagens realizadas pelo portal Gazeta do Povo, onde diretores, professores, alunos regulares e egressos falaram acerca dessa realidade, que aos olhos de muitos, ainda são casos isolados. Vamos trazer trechos de uma reportagem desse site que teve oportunidade de conhecer a realidade  de algumas universidades no Nordeste: "O tráfico e o consumo escancarado fazem parte do universo da UFBA (Universidade Federal da Bahia), diz a designer Amanda Barbieri, que se formou na instituição e trabalha no campus Ondina, em Salvador, há seis anos."

"Sandro*, ex-estudante e atual servidor da UFBA, no Campus Ondina, também diz acreditar que a universidade incentiva o consumo de maconha dentro dos campi. "Infelizmente, há dezenas de livros da editora da UFBA que tentam descriminalizar o uso, além de ligarem o consumo a costumes de povos negros e a proibição como uma tentativa de marginalizar o negro." Nesse contundente depoimento, percebemos que há esforços, inclusive institucionais, em manter o status quo de todo o processo. Segundo ele, quem se manifesta contra o consumo de drogas na UFBA sofre represálias: "Você pode andar por toda a UFBA e qualquer pessoa terá medo de falar contra as drogas."

Para Amanda, o consumo de substâncias ilícitas deve ser feito em outros lugares. "Eu realmente não ligo para o que as pessoas fazem das suas próprias vidas, mas acho inadmissível desrespeitar ambiente de estudo e trabalho com consumo de drogas ilícitas", reforça. "Diversas vezes tentei estudar na escola de Belas Artes, mas em sala de aula era interrompida pelo cheiro", reclama."

Os casos são incontáveis. É assustadora a quantidade de universidades e de situações citadas na matéria. É impossível não imaginarmos que essa também não seja uma realidade a nível nacional.          Há outras questões que podemos questionar: quem são os financiadores dessas substâncias no ambiente das universdades? A convivência entre usuários e não-usuários é saudável? As diretorias das Universidades tem conhecimento desse tipo de prática? Os professores são coniventes? Onde estão os Movimentos Sociais Universitários, que tanto dizem lutar pela emancipação do estudante, mas que se calam diante dessa dolorosa realidade?

São questões que os pais dos estudantes, assim como o poder público, deveriam procurar as respostas, já que este é um assunto que diz respeito a qualquer cidadão, preocupado com o bem comum de uma sociedade normal. Os dados estão à mostra, os fatos falam por si. Lembremos que o sonho de muitos pais é que seus filhos cursem uma universidade e que tenham carreiras bem sucedidas. As drogas são um problema grave de todo o país. Dito isso, não é cabível que as universidades, ambientes que deveriam prezar pela elevação intelectual/social do sujeito, sejam puxadinhos de usuários e traficantes. As ações são urgentes e necessárias.

Listo abaixo uma série de matérias a quem desejar mais informações sobre o tema:

1 - Drogas nas universidades do Nordeste:

https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/ufba-ufpe-ufma-drogas-nao-sao-segredo-nas-universidades-do-nordeste-ayos3w4un65y408rjgshug2qo/

2 – Drogas nas universidades do Sul:

https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/as-drogas-nas-universidades-do-sul-fumo-maconha-desde-o-primeiro-dia-e-vou-continuar-fumando-dmlo5ouikny9yxjkltcekitwg/

3 – Uso de drogas nas universidades do Sudeste:

https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/e-como-se-fosse-legalizado-o-uso-de-drogas-nas-universidades-do-sudeste-0ypkb2j0cth3ytojwa3ocljvk/

4 –  Uso de drogas nas universidades do Centro-Oeste:

https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/universidades-publicas-tem-territorio-livre-para-a-maconha-1jlt18wgwry266vesxnwpmj8g/

5 – Estudo sobre o perfil dos universitários usuários de drogas:

https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/dependencia-quimica/aumento-do-consumo-de-drogas/universitarios-consumo-de-drogas-mais-intenso-e-frequente.aspx

6- Precisamos falar sobre álcool e drogas nas universidades:

http://www.revistas.usp.br/rce/article/view/98501

Por Alex Fonseca* – Coordenador da ACONs (Associação Nacional dos Conservadores) Juazeiro/BA.

* Pedagogo. Pós-Graduado em Filosofia, e em Gestão e Orientação Educacional.

Por Alex Fonseca* – Coordenador da ACONs (Associação Nacional dos Conservadores) Juazeiro/BA.