ARTIGO – DEPOIS DO CARNAVAL

Uma definição que sempre ganhou corpo no país é a de que no Brasil as coisas só começam a funcionar mesmo, após o Carnaval. Diante desse conceito, poderíamos considerar que a partir de 1º. de janeiro até fevereiro, as atividades ficam mais suaves, quase se configurando como um grande feriadão. Entre as pessoas o diálogo mais comum é a indagação sobre o “que você vai fazer nos dias do carnaval”, seja para os que dele participam ou para aqueles que aproveitam do período para uma boa curtição nas praias, nos rios ou mesmo no conforto de suas casas.

Mas, enquanto a maioria voltou ao trabalho já na “quarta-feira de cinzas”, o Congresso Nacional, por exemplo, DESCANSOU um pouco mais, e só retornará às atividades nesta segunda-feira 11/03, depois de ter curtido o Recesso Parlamentar entre 23/12/18 a 01/02/19. A nova Câmara sofreu uma acentuada renovação, não só no número de 244 Deputados de primeiro mandato (47,6%), como passou a ter uma média de idade de 49 anos. Dentre os jovens há a Deputada Luisa Canziani (PTB-PR), com apenas 22 anos, em contraponto a outra Luiza, a Erundina (PSOL-SP), que, aos 84 anos, é a Deputada mais idosa do Legislativo. 

Nesse primeiro mês de trabalho em fevereiro, só se viu nas tribunas os jovens novatos no cargo, empolgados pela vontade de se apresentarem ao cenário político nacional. Quero acreditar que essa renovação seja legítima, inclusive face a previsão de sair a PEC DOS PENDURICALHOS, ou ANTE PRIVILÉGIOS, a iniciar coleta de assinaturas pelo jovem Deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB). Na oportunidade, disse ele que tomou posse em 2015, no primeiro mandato na Câmara, e ontem, regiamente, foi-lhe creditada a verba do “Auxílio Mudança” de R$ 33,7 mil. No mínimo, uma excrecência, visto que o fator mudança não precisa acontecer para que o crédito seja liberado! É aí onde lembramos do velho ditado: “coisa boa é atirar com a pólvora dos outros”.

O fato político que assumirá grande ênfase e causará enorme impacto tanto dentro do Congresso e do Governo, como da própria sociedade, será a discussão sobre a Reforma da Previdência. Existem visíveis conflitos a alimentar a discussão, o que me parece consequência natural diante da complexidade de algumas mudanças inovadoras. Por mais que se queira adotar um posicionamento radical contra o projeto enviado pelo atual governo, é mais do que óbvio que os debates, tanto na Câmara como no Senado Federal, irão produzir uma gama de emendas que, com certeza, mudarão o perfil da proposta encaminhada, por maior que seja a pressão governamental. Não obstante a importância e a prioridade dos debates sobre as Reformas, especialmente a da Previdência, tudo ficou para DEPOIS DO CARNAVAL! Por falar nisso, tomara mesmo que alguma coisa comece a acontecer, pois até agora os fatos novos são apenas as brigas e intrigas envolvendo os filhos do mandatário com seus adversários, e até mesmo com seus partidários. 

Embora sejam compreensíveis as dificuldades existentes num processo de negociação entre Executivo e Legislativo, principalmente quando se sabe da existência histórica do “TOMA LÁ DA CÁ”, prática incorrigível no sistema político, dias atrás o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, surpreendeu quando insinuou que precisava saber o que o governo tinha para oferecer aos deputados para obter o apoio à aprovação da reforma da Previdência. Isso não significa comprar o voto no sentido literal da palavra, em que a moeda está presente, mas disponibilizar as verbas federais para liberação das famosas “Emendas Parlamentares” ou ainda colocar vagas à disposição em cargos comissionados federais nas áreas de atuação política do deputado, tudo isso em troca do voto. Não deixa de configurar um processo de mercantilismo de conveniência política, quase sempre nocivo aos cofres públicos. Se a aprovação das reformas está amparada nessa prática, fica evidente de que os usos e costumes permanecem os mesmos! Em outras palavras, o toma lá dá cá, se não vai de uma forma, vai por outra.

Respaldado na convicção geral de que a vida ativa do país terá novo impulso DEPOIS DO CARNAVAL, permito-me reproduzir uma frase encaminhada pelo leitor Dídison, de Belo Horizonte (MG), que sugeriu para a data pós carnaval uma nova comemoração: “ALIÁS, UM FELIZ ANO NOVO”, novamente!

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil (Salvador-BA).