VALE A PENA LER DE NOVO: ARTIGO – UMA JANELA PARA O FUTURO

No dia a dia as pessoas são sempre levadas, por alguma imagem repentina, a rever filmes que se passaram em suas vidas, fazendo eclodir lembranças e emoções as mais diversas. Por exemplo, transitou pelo Facebook essa foto, bastante emblemática, mostrando um garoto pobre, entre seis e oito anos, assistindo à programação de uma TV postada na janela de uma casa qualquer. Era o retrato vivo da simplicidade, em sua expressão maior, de um tempo que não volta mais..

A televisão, essa grande novidade que chegou ao Brasil em 1950 através do pioneirismo de Assis Chateaubriand, fundador da hoje extinta TV Tupi, mesmo em preto e branco, encantava todo brasileiro. A imagem colorida somente chegou ao Brasil na copa de 1970, mas, somente poucos e seletivos aparelhos nas três principais capitais do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília tinham a condição de transmitir essa beleza em cores. Mas, como o desenvolvimento tecnológico está a todo vapor, já temos hoje a imagem digital de extraordinária qualidade, destacando-se a televisão brasileira como das melhores do mundo.

Essa foto do garoto me trouxe à memória a imagem de um momento da minha vida, adolescente imberbe e pobre que, aos 12 anos, em Feira de Santana (falo de 1956, há 58 anos!), não tinha como ver televisão e assim reunia uma galerinha de amigos da mesma faixa etária para localizar uma casa onde existisse um aparelho ligado. Postados em pé sobre o passeio, assistíamos àquelas imagens “chuviscadas”, mas veneradas como belíssimas, em uma TV instalada na sala com toda a família em volta, a essa altura já exibindo as primeiras telenovelas. Era um tempo em que a violência ainda não existia e as crianças pobres que se concentravam próximo à janela não eram apelidadas de “pivetes”; esse cenário montado permanecia até as 22:00. Bons tempos!...

Os registros acima, conquanto simples e até com certo tom de ingenuidade, não mereceriam ser lembrados se não se constituíssem num importante divisor de águas entre épocas bem distintas, tanto no campo do desenvolvimento tecnológico como socioeconômico. Impossível, também, não se reconhecer que a geração da imagem associada à informação ampliou o universo do conhecimento das pessoas, de modo geral, sobretudo pela notícia com a visualização simultânea dos fatos, o que não impede reconhecer, contudo, que, atualmente, há programas que mais deseducam que educam, pela baixa qualidade e busca exacerbada da audiência e popularidade, custe o que custar!

A televisão, definitivamente, veio para ocupar um espaço tão especial na vida das pessoas, que há os que não conseguem dormir se a TV não estiver ligada. Outro aspecto ainda muito mais significativo, contudo, é que a TV se transformou também num instrumento tão importante no processo de negociação política que a Presidente da República se tornou refém e o partido do governo (PT) admite submeter-se às idiossincrasias do principal partido da base aliada, sempre ávido por mais Ministérios (já possui cinco), além de inúmeros cargos na administração: o insaciável MDB. Tudo isso porque o Partido detém alguns minutos na programação eleitoral! Como é possível admitir-se que uma composição político-partidária não esteja assentada em bases conceituais e ideológicas, fundamentadas num projeto político sério, mas sim e tão somente em decorrência dos minutos assegurados pela lei eleitoral!... Coisas pequenas e retrógradas do Terceiro Mundo! Infelizmente, porém, esse é o nosso mundo...!

Diante dessas reflexões, concluo que o garoto da foto estava diante de uma janela que se abria para o futuro. Na plenitude de sua inocência, porém, jamais imaginou que o destino do seu país poderia ser definido nos minutos de TV, usados vergonhosamente como instrumento de pressão em troca de cargos públicos, prática comum a partidos e políticos corruptos, interesseiros e impatrióticos, que só pensam nos seus interesses pessoais e não nos destinos da Nação.

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Foz do Iguaçu-PR. 

NOTA DO AUTOR: Permitam-me, meus leitores, a reedição dessa crônica publicada em 16/03/2014, cinco anos atrás, com pequenas adaptações, por motivo de viagem. Vale lembrar que a minha última crônica marcou, com muita honra, a de número 250 editada por este brilhante Blog geraldojose.com.br.