ARTIGO - É PRECISO DAR VOZ E VEZ AO NOSSO POVO

Carlos Augusto Cruz

Médico/Advogado

No principio era a tirania, representada pela ânsia dos colonizadores em apoderarem-se das nossas riquezas. Depois veio o período negro da escravatura, onde seres humanos eram trazidos dos seus países de origem, como se fossem animais, submetidos a toda sorte de maus-tratos, a toda execração social. Apoiados pela Santa Madre, a Igreja Católica Apostólica Romana, que chegou a apregoar a heresia de “que negro não tinha alma” e, em nome dos poderes constituídos, homens eram vendidos em hasta pública, como se fossem coisas.

Mais tarde vieram, outros tempos de violência e de opressão, fazendo calar a voz do mais fraco, daquele que não tem quem lhe represente; o desapadrinhado, o pobre, o analfabeto, o ignorante, o silvícola, as comunidades de operários, o homem do campo, representado na figura do agricultor familiar.

Até os dias de agora ainda o país se ressente de um período de chumbo pelo qual passamos, que durou vinte e um anos, nos quais muito desmando aconteceu, tendo sido cometido em nome de um amor doentio à Pátria, pátria essa que não exige dos seus filhos, senão o cumprimento das suas obrigações como cidadão e, em troca, do seu direito à cidadania plena, oferece-lhe o direito de ir e vir e de  ser responsável pelos atos praticados.

Ainda hoje o brasileiro, principalmente aquele menos assistido dos poderes públicos, aquele que mais necessita que as instituições funcionem a contento, aquele que mais necessita que os poderes públicos sejam menos corruptos, têm medo no momento de denunciar qualquer usurpação de um direito seu, mesmo que esteja na Constituição do seu país, como é o caso da saúde e da educação, da moradia, trabalho etc.

Esta semana ouvi alguém no programa Sem Fronteiras, da Rádio Juazeiro, apresentado de segunda e sexta feira pelo radialista e repórter, Ramos Filho, que entrevistava um certo cidadão, e o mesmo estava a denunciar que estavam colocando professoras no Posto de Saúde de um dos bairros da periferia de Juazeiro, para atender ao povo da comunidade. Não sei como, porém, o cidadão apenas levantou a lebre, muito timidamente, sem querer se comprometer, como se o gestor do Posto de Saúde fosse lhe causar algum mal, a ele ou à sua família. Nem sequer o seu nome o entrevistado queria dizer. Esgueirando-se, retorcendo-se, como quem estava arrependido do que estava fazendo. Perdeu a oportunidade de prestar um serviço a sua comunidade, e de levar ao conhecimento de quem de direito o que lá estava acontecendo, uma vez que o mesmo falou que ninguém na comunidade estava satisfeito com aquilo, em relação à Saúde Pública do bairro.

Necessário se faz que o nosso povo tenha voz e vez. Que o povo aprenda a reivindicar o que é seu por direito. Que o nosso povo não tema quando tem que denunciar um Posto de Saúde de uma comunidade, quando tem que denunciar o INSS pelo desprezo com que atende aos seus segurados doentes, que procuram seus serviços, não por esporte, mas por necessidade. Que passa dias e às vezes até meses esperando por uma perícia, por falta de médicos e quando ela acontece o Médico Perito está a serviço de uma filosofia errada, que é a de negar direito liquido e certo do paciente, cuja contenda sempre termina nas barras da Justiça.

Segurado que passa horas a fio, esperando para ser atendido e, no dia em que consegue marcar um atendimento qualquer pelo telefone 135, ou naquela fila interminável que se forma diariamente lá dentro. Que mais parece a fila dos miseráveis, onde homens e mulheres, não importa a idade, ou a condição de saúde, uma vez que se o segurado pega uma senha de “prioridade”, aí sim é que demora a ser atendido. Nem sempre sentado, porque os lugares são insuficientes, esperando que um funcionário que é pago com o dinheiro do povo, porque “funcionário público”, atenda ao usuário, como se fosse um favor que ele está fazendo.

Por que é que todo serviço se atualiza, se moderniza menos esse do INSS, que mais parece um favor que vamos pedir àqueles funcionários, do que nosso direito em exigir ser bem tratado. Por que o INSS não desce para o andar térreo do prédio o serviço que é realizado no primeiro andar, para facilitar aos mutilados, aos idosos, aos cadeirantes alcançarem seus prepostos? Salta aos olhos do povo a dificuldade que certos pacientes têm em subir aqueles degraus ou aquela rampa, quase que vertical, especialmente os pacientes mutilados.

É preciso dar voz e vez ao nosso povo. E uma vez de posse da voz e da vez, denunciar tudo o que não está correto nas diversas comunidades, sem medo e sem rancor.