Artigo – “FAÇA O QUE EU DIGO, MAS...”

A vida reserva as mais diferentes e, às vezes, inimagináveis surpresas para as pessoas. Diante dessas possibilidades, muitas coisas seriam evitadas e palavras não seriam ditas, uma vez que poderiam negar a legitimidade de certas convicções, e exibir a fragilidade de certos conceitos ideológicos. Notadamente no campo político, via de regra, essas alternâncias são frequentes e obedecem ao ciclo da maré das conveniências e interesses. Por exemplo, esse enfoque nos remete à reflexão de que existe algo contraditório no discurso atual do PT, se comparado ao discurso original do seu inspirador e fundador. Hoje insistem com grande ênfase de que o atual governo, pela origem militar do Presidente e a participação na equipe de inúmeros militares, põe o país em risco de volta à ditadura. E a todo momento se reportam ao período militar.

Ocorre que, já faz algum tempo, tem circulado um vídeo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nunca contestado, no qual existem diversas entrevistas a televisões, onde rasga declarações elogiosas ao desenvolvimento econômico durante os governos militares, dando realce ao General Médici que na visão do líder petista seria eleito pelo povo se se submetesse a uma eleição, tal a aprovação que desfrutava! Vejamos algumas frases ditas pelo líder, fundador do PT:

  1. “Um paradoxo que possivelmente a esquerda não tenha compreendido no Brasil. É que o Médici, que foi o Presidente mais duro do regime militar, possivelmente era o mais popular. [...] “É porque, nos anos 70, era o auge do Milagre Brasileiro!”
  2. “Emprego era uma loucura, uma loucura! Os trabalhadores estavam na porta da Volkswagen procurando emprego, passava ônibus de outra empresa convidando eles para ir para a outra empresa para ganhar mais”.
  3. “Por isso, é com muito orgulho que as pessoas, de vez em quando, falam: Lula defende, elogia Geisel, elogia não sei das quantas... veja a contradição Requião, um dos presidentes que permitiu que a gente vivesse o momento político mais crítico da história do país, o presidente Médici, foi o homem que assinou a EMBRAPA e ITAIPU, numa demonstração de que os últimos gestos que as pessoas fizeram permitiram que o Brasil encontrasse o seu rumo”.
  4. “Cada um de nós será julgado um dia por aquilo que fizemos ou que deixamos de fazer!” 

Acho que basta! Incrível essa admiração do Lula pelos presidentes do Regime Militar. E o mais impressionante: Não falou em Ditadura em nenhum momento! E numa análise mais fria, não recordo de ter ouvido dos simpatizantes do regime militar palavras tão eloquentes quão generosas na exaltação de um modelo de governança militar, o que reforça o conceito do ditado popular: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço“. Reverência de tal dimensão poderia ser esperada de qualquer outro líder político ou sindicalista, nunca do Lula! Tenho certeza de que o leitor que não o acompanhou ao longo desses anos ou não teve acesso a essas manifestações, custará a acreditar que seja verdade. Vale lembrar que naquele tempo não se falava em “Fake News”!

Não tenho a intenção de exercer qualquer carga contra o Lula, o qual já está pagando a sua parte pelos pecados cometidos, e que teima em dizer que nada fez. Mas não custa despertar a memória adormecida dos que o idolatram, bem como lembrar-lhes de que o ditado popular acima bem se ajustaria a ser uma frase por ele pensada em algum momento, e que o Brasil agradeceria se o seu conselho fosse assimilado pelos que o acompanham: FAÇAM O QUE EU DIGO, MAS... NÃO FAÇAM O QUE EU FAÇO! Para os bons entendedores, esse artigo basta.

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.