JOÃO GILBERTO

Estou triste. Por quê? Minha vã filosofia, para ser humilde e não tentar filosofar e nem fazer juízo de valor sobre alguém, baseado no que este alguém produziu, não permite que eu vá, além da saudade que já estou sentindo. Estou triste pela partida de João Gilberto, um juazeirense que fez do seu violão, um instrumento mundialmente respeitado, quando na década de 1960 se tornou porta voz do Brasil no exterior, tornando a MPB uma das músicas mais respeitadas internacionalmente.

Chega de saudade em 1959, posteriormente, desafinado, abriram caminho para um toque sofisticado de um violão que não permitia sons estridentes,  pois, os acordes de João Gilberto eram tão melodicamente preenchidos e bem colocados harmonicamente, que um sussurrar, um sopro se tornavam voz macia, suave aos ouvidos, diferente do que se ver hoje, muitas vezes, músicas que afetam os nossos tímpanos.

Para se ter uma ideia, ainda hoje na Europa e nos Estados Unidos, João Gilberto é o artista brasileiro mais celebrado. Se isso não bastasse, João, ao criar a Bossa Nova, influenciou cantores e compositores, a exemplo de Caetano, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Gal Costa, Chico Buarque, Novos Baianos, Milton Nascimento, entre tantos, além de ter sofrido uma influência de Orlando Silva (um dos maiores cantores do Brasil de todos os tempos). Sem contar que, como contemporâneo de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, João Gilberto interpretou grandes clássicos da música brasileira, a exemplo de Garota de Ipanema, Corcovado, Samba do Avião e Copacabana.

Sei que o comportamento arredio e introspectivo de João Gilberto fez dele um ser incompreensível, provocando opiniões díspares a seu respeito, do tipo, "ele não gosta de Juazeiro", "ele é chato" e " ele é doido". A rigor, ele não é nada disso, ele é apenas João Gilberto, um gênio mundial com dificuldades de dialogar até com ele mesmo. Sei que dentro de mim, fica um vazio, pela partida de um conterrâneo ilustre de sentimento e de criatividade que ganhou o mundo sem ao menos ter o reconhecimento de Sua terra.

Tony Martins - Pedagogo, Radialista e Escritor

Enviado pelo leitor Paulo José