Artigo – DA LAVA-JATO AO HAMBÚRGUER

Nada mais claro e evidente de que a estratégia engendrada e bem articulada pelos envolvidos nas investigações dos crimes de corrupção, ou mesmo pelos já condenados, conseguiu o sucesso desejado que era a interrupção e amordaçamento da Operação Lava-Jato. É perceptível de que o cenário mudou abruptamente, invertendo-se os papéis dos agentes nos processos em andamento ou já julgados. Os Procuradores e Juízes de ontem transformaram-se hoje em quase réus e alvos de todo tipo de condenação, enquanto os bandidos que afundaram esse país na lama da irresponsabilidade e da indecência agora surgem como vítimas injustiçadas, para as quais todos os direitos de reparação estão sendo reivindicados. Diga-se de passagem, que essa Operação devolveu alta soma de recursos roubados dos nossos bolsos, mas, uma soma ainda maior deve existir e está pelos quintais e porões dos Ali Babás e seus comparsas. Ninguém tem dúvidas!

A Nação passou a acreditar que no final do túnel tinha uma luz acesa, a sinalizar que, finalmente, os criminosos do colarinho branco seriam extirpados do mundo político, e que a gestão pública estaria ressurgindo como exemplo de decência e integridade. Ledo engano. A Lava-Jato está agora de mãos atadas e com as suas ações paralisadas já há alguns meses, e os seus principais agentes sendo convidados por Deputados e Senadores a se explicarem (e o pior é que estão indo mesmo), porque as suas ações eram conversadas entre si, seja pessoalmente ou por telefone. Ora, é inquestionável de que o sucesso dessa operação resultou de um trabalho coordenado de equipe, da qual participavam Policiais Federais, Procuradores e Juízes. Como entender que não haja comunicação num trabalho de equipe, principalmente quando entre os investigados estão nomes de relevo da República?

De repente, as ações dessas facções organizadas estão sendo invocadas e exaltadas como modelo de honestidade e ética, visto que todas as comunicações necessárias nas articulações para assaltar verbas públicas e estatais, foram mantidas em silêncio com muito respeito. Se aqueles que contrataram a tal Intercept Brasil – deve ter rolado muito dinheiro! -, para desmoralizar Sérgio Moro e Deltan Dallangnol fossem por ela igualmente “hacheados”, a Lava-Jato teria material abundante para processar e prender muito mais gente do que o realizado até agora. O Brasil que tanto aplaudiu esse novo tempo precisa se solidarizar com esses jovens magistrados ou as facções de corruptos que já pareciam sepultadas ressurgirão ainda mais bem organizadas e, podemos até dizer, cheias de moral!

Outra página da história atual que não pode deixar de ser lida, prende-se à infeliz escolha feita pelo Presidente Bolsonaro para preencher a vaga de Embaixador no país que representa a maior potência da atualidade. Certamente que no Itamaraty ou no universo de nomes que compõem a cultura nacional, ele encontraria alguém mais representativo do que o seu próprio filho, cuja atuação se é inexpressiva e insignificante como Deputado Federal, imagine como Embaixador nos EUA! Se falar inglês e espanhol, ou ter vendido hambúrguer quando lá esteve participando de Intercâmbio estudantil credencia alguém para cargo de tão elevado nível, pelo visto muitos pais vão inscrever os seus filhos, inclusive eu, também! A coisa se configura ainda de tamanha gravidade, quando o Presidente declara: “Pretendo beneficiar um filho meu, sim”, disse. “Se eu puder dar um filé mignon para o meu filho, eu dou, sim”. No mínimo, falta ética! Mesmo sabendo que existem palavras mais adequadas para tamanha asneira diplomática!
Ainda que haja alguma súmula do STF que não classifica esse tipo de indicação como Nepotismo, seria mais que elementar esperar que o Presidente tivesse a sensibilidade e a compreensão de que o Estadista tem a obrigação de pensar na gestão do Estado de outra forma e com outra visão menos paternalista e familiar. Amparar a sua família, nomeando filhos para essa ou aquela função no Estado, não é uma atitude coerente, decente, ou aceitável, por qualquer brasileiro consciente.

Sabe-se o quanto é dolorosa a caminhada para o amadurecimento no cargo, o que induz ao cometimento de erros. Mas, é preciso ouvir os Assessores, e falar menos, o que poderá melhorar o índice de acertos das decisões. Quanto à Lava-Jato, impõe-se uma atitude de desencorajamento daqueles que querem destruí-la, a fim de que o processo de depuração não sofra interrupção, apesar de estar algum tempo já interrompida.

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.