HOMENAGEM: DOMINGUINHOS ETERNO

Neste sábado, 23 de julho de 2016, lembramos três anos sem a presença física do “MESTRE DOMINGUINHOS”, ele que foi uma personalidade divina, provido de tudo de bom de um ser humano, simplicidade, luz, humildade, além do que todos nós sabemos, foi e é um dos maiores acordeonistas do mundo.

Dominguinhos é reflexo da escola do Baião implementado no mundo pelo “REI LUIZ GONZAGA”, mas que navegou por vários estilos musicais, do baião, forró pé-de-serra, chorinho, tropicália, MPB até o jazz.

Abaixo, apresento um resumo da obra e vida do “MESTRE DOMINGUINHOS”, extraído do DICIONÁRIO CRAVO ALBIN DA MPB:

José Domingos de Moraes

Nascimento 12/2/1941 Garanhuns, PE 
Morte 23/7/2013 São Paulo, SP

Seu nome artístico foi uma sugestão de Luiz Gonzaga, que considerou que o apelido de infância, Neném, não o ajudaria na trajetória artística. Em 1957, aos 16 anos, fez sua primeira gravação, tocando sanfona num disco de Luiz Gonzaga, na música "Moça de feira", de Armando Nunes e J.Portela. No mesmo ano, em viagem ao Espírito Santo, com Zito Borborema e Miudinho, formou um trio, batizado de Trio Nordestino. Tomou contato com outros ritmos musicais e aprendeu a tocar samba e bolero. Tocou na gafieira Cedo Feita, Churrascaria Gaúcha, boate Babalaica e Dancing Brasil. Ainda na década de 1960, tocou no regional do Canhoto juntamente com Meira, Dino e Orlando Silveira acompanhando artistas de Rádio. Em 1965, foi convidado por Pedro Sertanejo, então diretor da recém-inaugurada gravadora Cantagalo, para gravar um LP destinado ao público migrante nordestino e, com isso, voltou a tocar forrós e baiões. Em 1967, fez parte de uma excursão de Luiz Gonzaga ao Nordeste, como sanfoneiro e motorista. Também fazia parte do grupo a cantora pernambucana Anastácia. Os dois iniciaram então uma carreira artística conjunta e um relacionamento amoroso, que os levou ao casamento. Em 1972, foi convidado por ele a trabalhar com Gal Costa e Gilberto Gil. Viajou para a França com Gal, acompanhando a cantora baiana em apresentação no Midem, em Cannes. De retorno ao Brasil, participou do show "Índia", da mesma cantora. Posteriormente, trabalhou um ano e meio com Gilberto Gil que  gravou o maior sucesso de Dominguinhos, em parceria com Anastácia, "Eu só quero um xodó".

Participou como instrumentista de inúmeros shows de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia. Participou do primeiro disco gravado por Elba Ramalho, "Ave de Prata", desde 1979. Em 1980, participou do II Festival Internacional de Jazz de São Paulo. Em 1981, participou, com destaque, do programa "Som Brasil", na TV Globo. Na década de 1980, suas composições "De volta pro meu aconchego", em parceria com Nando Cordel, gravada por Elba Ramalho, e "Isso aqui tá bom demais", em parceria com Chico Buarque, e gravada pelos dois, foram incluídas na novela "Roque Santeiro", da TV Globo, o que fez aumentar nacionalmente sua popularidade. Em 1984, o cantor e compositor Chico Buarque gravou em seu disco "Chico Buarque" a composição "Tantas palavras", parceria de Chico e Dominguinhos, que obteve grande sucesso. Em 1985, a composição "Esse mato, essa terra", composta em parceria com a cantora, sua esposa, Maria de Guadalupe, foi incluída na trilha sonora do filme "Aventuras de uma Paraíba”, de Marco Altenberg. Em 1993 criou o Projeto Asa Branca, com patrocínio da Caixa Econômica Federal, destinado a levar shows de música popular para praças públicas de diversos estados brasileiros. Em 1997, lançou o CD "Dominguinhos e convidados cantam Luiz Gonzaga", pela gravadora Velas. No mesmo ano, compôs a trilha sonora do filme "O cangaceiro", de Anibal Massaini Neto. Teve suas composições registradas por diferentes intérpretes, entre os quais Fagner, que gravou "Quem me levará sou eu", e Maria Betânia, que gravou "Lamento sertanejo". Em 50 anos de carreira recebeu seis prêmios Sharp. Em 2000 lançou o 54º trabalho, gravado ao vivo durante dois shows no Sesc Pompéia, em São Paulo, com destaque para "De volta pro meu aconchego", "Gostoso demais", ambos de sua autoria, "Abri a porta" e "Forró do Dominguinhos", em parceria com Gilberto Gil, e "Isso aqui tá bom demais", parceria com Chico Buarque. O CD foi lançado com um show na casa de espetáculos Olimpo, no Rio de Janeiro. Em seguida fez shows em São Paulo e realizou turnê pelo Nordeste. Em 2001 foi o grande homenageado no 11º Festival de Inverno de Garanhuns, sua cidade natal, com um concerto sinfônico.

No início de 2003, gravou com Sivuca e Oswaldinho do Acordeom um disco que registrou o encontro de três dos maiores sanfoneiros em atividade no país, produzido por José Milton, com repertório escolhido na hora e arranjos feitos no próprio estúdio, no qual aparecem composições como "Maria Fulô" e "Feira de Mangaio", de Sivuca, além de muitas de autoria de Luiz Gonzaga, resultando numa homenagem natural ao Rei do baião. Ainda nesse ano, participou na Fundição Progresso, Rio de Janeiro do show comemorativo dos 45 anos do Trio Nordestino. Ainda em 2003, participou do projeto "Todos cantam Zé Dantas & Luiz Gonzaga", um CD lançado pela Som Livre, em que grandes nomes da música brasileira interpretaram as principais obras que Luiz e Zé compuseram juntos. No disco, interpretou "Riacho do Imbuzeiro". Do projeto, também participaram artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Gonzaguinha, Sérgio Reis, Alceu Valença e Elba Ramalho e do compositor como "De volta para o aconchego", parceria de Dominguinhos com Nando Cordel,  além de levar ao palco surpresas como a composição "Xote da navegação", de Dominguinhos e Chico Buarque. Em 2005, a cantora Elba Ramalho lançou um CD que registrou a temporada de show no Canecão com o sanfoneiro, revivendo grandes obras deste que foram grandes sucessos em sua interpretação. No CD, Elba que afirma ser Dominguinhos um dos maiores músicos do mundo, respaldada por muitos artistas como Gilberto Gil e Chico Buarque, além do maestro Hélio Sena, revive, entre outros, o clássico de sua carreira "De volta para o aconchego". Nesse mesmo ano, participou, como atração consagrada, nos festejos juninos do circuito tradicional nesses eventos, que engloba cidades nordestinas como Caruaru, Campina Grande e Recife. Ainda em 2005, teve participação especial no DVD ao vivo do cantor e compositor Jorge de Altinho, na música "Sanfona Sentida",  parceria sua com Anastácia.  Em 2006, após cinco anos sem lançar disco solo, lançou o CD "Conterrâneos", com repertório que mescla inéditas, como "Vivendo a Brincar", "Cai Fora", "Oi que Balanço Bom" e regravações como "Acácia Amarela", parceria de Luiz Gonzaga com Orlando Silveira.  A toada "Carece de Explicação", com Clodo Ferreira, "Tempo Menino(João Sereno e Cacá Bahia)",  o côco "Gavião Peneirador", com Marcos Barreto e "Feito Mandacaru". A faixa-título, "Conterrâneos", conta com a participação da cantora Guadalupe. O disco, que  traz capa de Elifas Andreato, conta também com a participação do sanfoneiro Waldonis, na quadrilha "Eita Paraíba", de Chico Anísio e Sarah Benchimol. O disco lhe conferiu o prêmio- 2007, na categoria Regional - Melhor cantor. Em 2008, foi o grande homenageado no Prêmio Multishow. Na ocasião do show de entrega dos prêmios, apresentou-se em duetos, em oito números. No mesmo ano, apresentou-se com Alceu Valença na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro no projeto "Pé no mundo", interpretando seus sucessos. Em 2009, gravou, no maior teatro ao ar livre do mundo, o Nova Jerusalém, em Pernambuco, o DVD "Dominguinhos ao vivo", que contou com as participações especiais de Elba Ramalho, Renato teixeira, Liv moraes, Waldonys, Cezinha, Guadalupe e Jorge de Altinho. Em março de 2010, participou do programa "Emoções Sertanejas", da Rede Globo de Televisão, interpretando, com Paula Fernandes a música "Caminhoneiro", versão de Roberto e Erasmo Carlos, para canção de John Hartford. Ainda em 2010, a gravadora Biscoito Fino lançou o CD Lado B - Dominguinhos e  Yamandú Costa, trazendo um dueto entre os dois músicos. O repertório do disco apresenta as seguintes faixas: Da cor do pecado (Bororó); Noites sergipanas (Dominguinhos); Fuga pro Nordeste (Dominguinhos); Doce de coco (Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho); Homenagem a Chiquinho (Dominguinhos e Guadalupe); Naquele tempo (Pixinguinha); Sanfona de cordel (domínio público); Homenagem a Pixinguinha (Dominguinhos e Anastácia); Choro do gago (Yamandu Costa); Chorando em Passo Fundo (Dominguinhos); Carioquinha (Waldir Azevedo); Felicidade (Lupicínio Rodrigues); Pau de arara (Luiz Gonzaga); Rancho Fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo); Solamente uma vez (Agustin Lara). Ainda em 2010, foi contemplado com o prêmio Shell de Música, pelo conjunto de sua obra. No mesmo ano, lançou o DVD "Iluminado Dominguinhos", um projeto que contou com o apoio do Ministério da Cultura. Do álbum, participaram especialmente os artistas Elba Ramalho, Wagner Tiso, Gilberto Gil, Yamandu Costa, Waldonys e Gilson Perazzeta. No fim desse mesmo ano, participou  e foi o homenageado principal do 2º Festival Internacional da Sanfona, realizado em Juazeiro (BA).

Apresentou-se no mesmo dia com Laudiston Bagagi, Sexteto Pernambucano de Acordeon, Renato Borghetti e Cezinha. Em 2011, realizou participação especial na faixa "Santo Rio", do DVD "Salve São Francisco", de Geraldo Azevedo, lançado pela Biscoito Fino. Em 2012, recebeu homenagem a seus 50 anos de carreira através da coleção tripla de CDs "Pernambuco forrozando para o mundo - Viva Dominguinhos!!!", produzida por Fábio Cabral. Os discos trouxeram interpretações 48 nomes da música nordestina.  A coletânea trouxe apresentou forrós diversos, de sua autoria e de outros compositores nordestinos, interpretados por 48 artistas, tais como Acioly Neto, Adelzon Viana, Dudu do Acordeon, Elba Ramalho, Jorge de Altinho, Irah Caldeira, Liv Moraes, Petrúcio Amorim, Geraldo Maia, Sandro Haick, Spok, Jefferson Gonçalves, Chambinho, Joquinha Gonzaga, Maciel Melo, Luizinho Calixto, Silvério Pessoa, Walmir Silva, além dele próprio. Em 2012, participou do disco "Luiz Gonzaga - Baião de dois", lançado pela Sony Music e produzido por Fagner, em homenagem ao centenário do nascimento do Rei do baião. O CD apresentou quinze obras interpretadas por Luiz Gonzaga, remasterizadas digitalmente, em duetos virtuais com nomes como, além do próprio Dominguinhos, Zélia Duncan, Amelinha, Zeca Pagodinho, Alcione, Alceu Valença, Chico César, Zeca Baleiro, Ivete Sangalo, Fagner e Jorge de Altinho. Em 2013, aparecia, na época, como o compositor de forró mais gravado. No mesmo ano, foi lançado o disco "Luar agreste no céu Cariri - Forroboxote 10" com composições suas, incluindo músicas inéditas. O CD foi produzido por Xico Bizerra e teve participações de intérpretes como André Rio, Maria da Paz e Chris Nolasco. No mesmo ano, a Universal Music lançou o álbum duplo "Dominguinhos é de todos", com os CDs "Todos cantam Dominguinhos", em que intérpretes como Chico Buarque, Gilberto Gil, Gal Costa, Elba Ramalho, Zeca Baleiro, Nara Leão e Ângela Maria cantam composições suas; e "Dominguinhos por ele próprio", com interpretações dele mesmo. Ainda em 2013, foi homenageado no CD "Bahia canta Dominguinhos", de produção independente.

No álbum, artistas baianos cantaram suas composições, várias delas em parceria com Climério. Em 2014, foi lançado um filme, em gênero documentário, com o nome “Dominguinhos”, dirigido por Mariana Aydar, Eduardo Nazarian e Joaquim Castro, revelando sua vida através de imagens de arquivo, narrações dele próprio, e declarações de vários artistas brasileiros. A obra trouxe também trechos raros de shows, entre eles, uma apresentação sua ao lado de Luiz Gonzaga, e outra ao lado de Nana Caymmi, além de imagens suas com Anastácia, ex-esposa e parceira musical.  Ainda em 2014, foi lançado o livro “Dominguinhos - o Neném de Garanhuns”, que traz a história de sua vida e sua obra narradas pelo pesquisador e historiador Antônio Vilela de Souza.  Desde o ano de sua morte, em sua cidade natal, Garanhuns, é realizado, anualmente o festival “Viva Dominguinhos”, que conta, em cada edição, com apresentações de vários artistas nordestinos em sua homenagem.

Viva o “MESTRE DOMINGUINHOS”.

Engenheiro Ailton Candeia de Lima

Leitor Crítico da MPB e Admirador da MPB de Qualidade