Os sintomas da longa estiagem no Rio São Francisco

O Rio São Francisco sempre foi sinônimo de riqueza, prosperidade e vida! Na próxima terça-feira (04) o Velho Chico completa 515 anos do seu descobrimento, mas nesse aniversário as comunidades ribeirinhas pouco terão o que comemorar. A seca que se prolonga na bacia do São Francisco tem provocado a falta de pescado, de trabalho para pescadores, e a redução da produção nos perímetros irrigados.

Em Juazeiro, segundo o presidente da Colônia de Pescadores Domingos Rodrigues, 2.600 pescadores sofrem com a diminuição do volume das águas no São Francisco. Com a estiagem, um pescador que no período da cheia do Velho Chico pescava 20 peixes hoje volta da pescaria com um saldo de até quatro peixes.

Essa redução da pesca fez com que 60% das vendas dos pescadores diminuíssem. “Os pescadores hoje só conseguem pescar de três a quatro peixes e por isso preferem vender nas ruas. Não vale mais a pena passar a mercadoria pelo fornecedor. Antes quando o rio estava cheio os pescadores traziam os peixes para a associação ou levaram direto ao fornecedor. Toda essa situação tem prejudicado os pescadores”, afirmou Domingos Rodrigues ao Blog Geraldo José.

Na última semana o IBAMA autorizou a diminuição da vasão das Usinas de Sobradinho e Xingó (SE), de 800 metros cúbicos por segundo (m³/s) para 700m³/s. O início dos testes está previsto para o dia 10 de outubro.

A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) disse ao Blog Geraldo José que a medida garantirá o uso múltiplo das águas do Rio São Francisco no Nordeste, com prioridade no abastecimento humano e produção de alimentos, tendo em vista o esvaziamento que vem sofrendo o Reservatório de Sobradinho, o maior da Região, em decorrência das condições hídricas críticas dos últimos cinco anos.

Segundo a CHESF, no momento, o reservatório de Sobradinho tem recebido, em média, 400m³/s de água e está liberando o dobro. Hoje o Lago de Sobradinho está com 12,7% da sua capacidade.

A CHESF disse ainda que, mesmo com a diminuição da vasão, a geração de energia não será prejudicada. “Temos como importar energia de outras regiões, por meio do Sistema Interligado Nacional – SIN, além de outras fontes de geração no Nordeste, como eólica e térmica”, declarou o diretor de Operação da CHESF, João Henrique Franklin.

Para o diretor neste momento em que a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco está vivenciando a maior estiagem já registrada a prioridade é a utilização dos recursos hídricos e não a geração de energia elétrica. O diretor pediu ainda que a população se esforce e economize água para que o líquido não falte.  “A CHESF já vem informando aos usuários sobre a possível redução da vazão do Rio São Francisco, para que possam se adequar a essa condição hídrica, que exige um esforço de todos, poupando água para não faltar”, ressaltou o diretor.

A nova vasão do Rio São Francisco já preocupa também os produtores dos perímetros irrigados de Juazeiro e região, é o que diz o produtor e Presidente da Associação dos Fruticultores do Perímetro Irrigado de Curaçá (AFRUPEC), Josival Barbosa.

De acordo com o produtor, a produção deverá cair em até 40% e por isso demissões no setor não serão descartadas.

“Os perímetros de Maniçoba e Projeto Curaçá irão sofrer bastante com a perca da captação de água. Em Maniçoba são gerados 16 mil empregos diretos, já no projeto Curaçá são gerados 8 mil empregos. No projeto mandacaru são 1.000 empregos diretos, no projeto Tourão 7.500 e no Salitre 5.000. Com a diminuição da vasão já prevemos a perca de produção e consequentemente de empregos”, afirmou Josival.

Para ajudar os produtores a enfrentarem a estiagem, a CODEVASF no ano passado iniciou a instalação de flutuantes nos perímetros irrigados de Maniçoba, Curaçá e Pedra Branca. Nesses perímetros irrigados foram postos dois flutuantes.

Em entrevista ao Blog, o Gerente de Empreendimentos de Irrigação da Codevasf, Carlos Cavalcanti, explicou que a ideia de instalar os equipamentos surgiu após um grupo de trabalho analisar os problemas da vasão do Lago de Sobradinho. Os flutuantes vão captar água do rio e transportar a água para as estações de bombeamento. Os equipamentos devem ajudar os produtores a não ficarem sem água, no entanto, os flutuantes conseguem apenas puxar a metade da vasão prevista em cada localidade. O valor gastos pela CODEVASF nas instalações, até o momento, foi de R$ 4.057.312,76.

O produtor Josival diz que os flutuantes serão importantes para manter a produção nos perímetros. “Os equipamentos foram conseguidos também com a luta dos produtores. Eles são fundamentais agora com a diminuição da vasão do Lago de Sobradinho”, pontou.

Os produtores rurais, segundo Josival, também já buscam novas formas de amenizar os efeitos da falta de água na região e uma delas é modernizar o sistema de irrigação. “Vamos iniciar a luta pela modernização do sistema de irrigação nos perímetros irrigados. Com a modernização através do uso de gotejamento e microaspeção poderemos diminuir em 30% o consumo de água. A medida tanto beneficia os produtores como o meio ambiente”, frisou.

Da redação Alinne Torres/Foto Geraldo José