Artigo - Cabeça de eleitor e bunda de neném...

Por mais que se pense que se conhece o eleitor, menos conhecimento existe. Uma velha expressão popular diz que ‘da cabeça de juiz (afirmando que os julgamentos são imparciais e que os resultados das sentenças são exclusivos do livre convencimento judicial) e bunda de neném ninguém pode antecipar o que virá’. O eleitor pode perfeitamente ser encaixado em uma dessas sequências, valorizando ainda mais esta máxima bastante utilizada quando não se conhece ou não tem certeza de algo.

Para muitos políticos e uma cambada de apoiadores de diversas cidades brasileiras os resultados nas urnas não condisseram com o que eles, até alguns minutos antes das apurações, estavam convictos que fosse acontecer, suas vitórias eleitorais. O inesperado se transforma em surpresa, misturada com decepção, desilusão e sentimento de traição. Um verdadeiro banho de água fria para os que tinham certeza de que seriam eleitos, seja pelo bom trabalho enquanto gestores ou legisladores para os que tentavam a reeleição, seja pela farta quantia gasta e até mesmo distribuída de maneira ilícita ou pelo comportamento das equipes de ‘marqueteiros’ do candidato. Ledo engano.

O que se viu na eleição para prefeito e vereador que aconteceu em todo o Brasil, no último dia 2 de outubro, foi uma demonstração de que o eleitorado absorveu a opinião midiática em detrimento da sua verdadeira realidade. O bom e o mau político foram jogados na mesma vala. Em alguns momentos prevaleceu a sensatez, mas na grande maioria dos resultados se decidiu mudar apenas por mudar, trocando em muitos casos seis por meia dúzia.

Candidatos com pendências judiciais, acusados por improbidade administrativa por desvio ou mau uso de recursos públicos e até mesmo postulantes condenados à prisão por corriqueiras práticas criminosas na vida política, inexplicavelmente (o eleitor explica), conseguiram registrar suas candidaturas e venceram seus concorrentes na eleição. Casos que desafiam a lógica e a própria Justiça. O ‘ele rouba, mas faz’, pasmem, está incrustado ainda na alma dos eleitores. “Para quem tem plena consciência do voto, é deveras indigesto votar num conhecido pilhador do dinheiro público. Mas os eleitores fazem isso pensando nos benefícios que já conquistaram ou no que poderão alcançar em razão da competência do corrupto”, diz o jurista e professor de direito, Luiz Flávio Gomes.

A velha política e os velhos políticos, travestidos de novos e de ‘mais experientes’ retornam para concluir o que ‘não deu tempo’ ou não conseguiram realizar enquanto tiveram suas oportunidades quando foram confiados seus mandatos pelo voto popular. Em outros casos, os chamados ‘laranjas’, ou ‘candidatos de aluguel’, bancados financeiramente por um ‘cacique’ serão timoneiros de direito, mas não de fato, e o pior, colocando em prática ou reforçando o fisiologismo.

“Mesmo com tantos motivos

pra deixar tudo como está

Nem desistir, nem tentar,

agora tanto faz

estamos indo de volta pra casa...”

Por Enquanto – Cássia Eller

Por GervásioLima

Jornalista e historiador