Artigo - Salvar o São Francisco, e muita gente também.

Todo o vale do São Francisco está apreensivo com a possibilidade de interrupção da perenidade do nosso Rio São Francisco, algo que parece impossível, mas, também, poderá se tornar realidade se não houver o mais rápido possível uma tomada de decisão em seu favor, isso por que, muito se tem tirado dele, e não se tem dado nada em troca.  Vejamos alguns dados interessantes sobre o Velho Chico. Descoberto lá no distante 1501 por André Gonçalves, tem 2800 km de extensão, 504 municípios na sua bacia. Tem o rio Paracatú, com 450 m3/s, o seu maior afluente. Anualmente recebe 18.000.000 m3 de areia devido à erosão. Suas maiores enchentes, foram em 1949 13040 m3/s e em 1979 19000 m3/s. Outras enchentes acima de 8000 m3/s. Em 1942, 9463 m3/s, em 45, 8760 m3/s, em 46, 10073 m3/s, em 80, 10501 m3/s, em 82, 8455 m3/s, em 83, 9868 m3/s, em 85, 8340 m3/s, em 90, 9475 m3/s, em 92, 13000 m3/s. A maior seca foi em outubro de 1953, com 500 m3/s, ou seja, metade do que passa hoje entre Juazeiro e Petrolina.

Quando se fala em tomar decisão, a mais necessária e urgente, é o trabalho de revitalização, que inclui além do reflorestamento das barrancas, a recomposição das Veredas, origem de muitos rios afluentes que já deixaram de produzir água, e uma total vigilância quanto a áreas que já sofreram impacto pelo desmatamento para plantio de culturas temporárias, no sentido de que os solos destas áreas, não venham ficar descobertos, provocando erosão, que poderia aumentar o assoreamento. Segundo o programa Globo Rural, que há muito vem denunciando tal predação ao rio por parte dos seres humanos, 27 destes rios, já morreram nos últimos anos.

Aliado a isso, é preciso uma tomada de consciência por parte de todos, que é necessário racionalizar o uso da água, seja na Industria, consumo doméstico e principalmente na Agricultura que é o maior consumidor desta. Para isso, tecnologias modernas precisam ser colocadas em uso da Nascente à Foz. Nos projetos de Irrigação mais novos, e em alguns mais antigos, incluindo o plantio de cana no médio São Francisco, o sistema usa o que é mais moderno para a irrigação das culturas. No entanto, é incomprensível que, segundo mostram as imagens de Satélite, entre a Barragem de Três Marias e a Divisa BA/MG, existam 200 equipamentos de irrigação do tipo Pivô Central, isso sem contar os que existem nos grandes afluentes como Rio Correntina, Rio Grande e Paracatú. É incompreensível também, que só nós do médio São Francisco, onde estão os grandes Projetos de Irrigação, tenhamos que racionalizar as nossas ações quando do uso da água.

É preciso fazer leis e normas reguladoras específicas para o uso hídrico de pequenos afluentes como o nosso Rio Salitre, onde se encaixaria o tamanho da área a ser cultivada numa dimensão de 1 ha, pois, como está hoje, o Rio está sendo estrangulado no seu nascedouro, onde grandes motores jogam água para fora da calha e o seu uso é pelo método mais antigo que é o sulco, com uma perda, digamos imensurável. Fontes de água com a capacidade do Rio Salitre e similares, não é para garantir riqueza a poucos, e sim sobrevivência a muitos.  Podemos tomar como exemplo, os vinhedos de uma região do Chile onde a água usada vem do degêlo das montanhas e é distribuida equitativamente para que todos os agricultores se beneficiem e não haja um colapso na cultura da uva.     

Agora para finalizar façamos uma reflexão. Já imaginaram o vale do São Francisco sem este Rio? Para onde iriam grandes aglomerados como Juazeiro e Petrolina? E o além vale, que agora já começa a tomar gosto por esta água? Por isso, para um problema gigantesco como esse, nunca é demais dizer: "vamos zelar com unhas e dentes pelo bem-estar do nosso Velho Chico, criando soluções para salvar o mesmo, e muita gente ao seu redor".

Manoel Delmir Pereira dos Santos