ARTIGO – “QUEM COM FERRO FERE...”

Quando se comenta sobre a educação do passado e os valores que contribuíram para consolidar um padrão sadio na formação do cidadão, em cujo perfil predominava a firmeza de caráter, e a postura da ética e do respeito, não se pretende criticar os nobres professores como os culpados pelo Ensino Público de hoje - para os quais rendo as minhas homenagens como verdadeiros heróis -, mas, condenar todo um sistema por nefastos desvios e perniciosas influências que somente corromperam as boas tradições do ensino. Baixa remuneração dos profissionais, instalações escolares inadequadas e a subtração fraudulenta de recursos próprios da educação para outros fins, são incidências frequentes por esse Brasil à fora. Some-se a isso, as intolerâncias vindas de alguns pais que não sabem educar em casa, nem permitem que seus filhos sejam educados na escola, e isso é fato que também merece ser citado.

Como consequência, toda essa positiva base escolar nos primórdios do nosso tempo, se constituía como exemplo modelar e marcou uma época. A modernidade de hoje, inversamente, utiliza os erros como parâmetros comparativos e fator de normalidade. Há pais que se solidarizam exageradamente com os seus filhos e agridem professores e diretores de escola por tentarem enquadrar os pequenos rebeldes num mínimo de disciplina escolar.

Essas preliminares nos conduzem a algumas reflexões sobre os caminhos que devemos trilhar doravante. Além das injunções de caráter econômico que afetam todos os setores da economia, a vida de cada cidadão brasileiro sofre penosas consequências e, em particular, aos angustiados 14 milhões de desempregados, situação que pode se agravar ainda mais face às centenas de PDVs (Programas de Demissões Voluntárias) implantados em quase totalidade das empresas estatais! Serão milhões de novos desempregados por iludida adesão!

Por outro lado, o comportamento dos nossos políticos tem tido uma relevância negativa que impressiona a todos: a falta de ética e a infidelidade partidária! É de causar estupefação a quantos acompanham os fatos políticos, observar a naturalidade com que os parceiros de ontem rompem as relações e os vínculos partidários, robustecendo a velha frase de que “quem tem uns amigos desses, não precisa de inimigos”. A justificativa frequente é de que tudo isso faz parte do jogo político, como se os valores da boa prática da ciência política acobertassem o desrespeito e a infidelidade.

Assim como faço restrição ao comportamento antiético do então Vice-Presidente Temer com a sua parceira de chapa eletiva, a ex-Presidente Dilma, inspirado no doce prazer que vislumbrava de exercer o poder maior, igualmente vejo com repugnância e reprovação a maneira descortês como os membros do seu partido (PMDB) e as lideranças (PSDB) que o ajudaram a assumir a Presidência, agora se colocam na trincheira para derrubá-lo... Se tudo isso fosse embasado numa legítima atitude de apego à honestidade e combate à corrupção, cujos motivos não faltam, teria o meu aplauso e, creio, da própria sociedade. Mas, todos sabem o verdadeiro sentido das falsidades manifestadas quando se veem diante da possibilidade de ascenderem ao Poder!

Mas, o que fortalece esse conjunto de ações, nem sempre escrupulosas, é a sede quase incontrolável de participar de um novo governo. Causou surpresa que o Presidente da Comissão de Constituição e Justiça-CCJ e o Relator da Denúncia contra o Temer sejam do seu Partido (PMDB), bem como o Presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM), um aliado da base, e todos se colocaram de maneira maquiavélica a favor da denúncia da PGR. Mais repugnante, ainda, é ver que ao sair de uma visita ao Temer o Deputado Rodrigo Maia jurou “lealdade ao Presidente” e logo depois se reuniu com o Senador Tasso Jereissati, Presidente do PSDB, e trataram da possível formação de um novo governo, uma vez que ele é o eventual substituto! E pensar que o Presidente da Câmara tem, também, denúncia na Lava-Jato, e assim é possível imaginar uma nova demanda pelo Poder em pouco tempo, o que equivalerá à eclosão de novo terremoto político! E a Nação vai se desmoronando gradativamente à mercê das vaidades pessoais desses senhores do Poder! Que não resistem à picada do querer ser.

Todo esse imbróglio pleno de traições e imoralidades, resulta numa condenação que encontra amparo num episódio bíblico (Mateus 26.52): “Disse-lhe Jesus: Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão”. Por similaridade, a expressão se popularizou numa frase análoga, que tem o mesmo sentido: QUEM COM FERRO FERE... COM O FERRO SERÁ FERIDO!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Vitória-ES).