SOCIEDADE CIVIL DISCUTE O PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE JUAZEIRO

Membros da sociedade civil de Juazeiro se reuniram na última quinta feira, 10/08, na Casa dos Conselhos, para discutirem a preservação do Patrimônio Histórico de Juazeiro. Estiveram presentes o ex-presidente e atual Conselheiro do Conselho Estadual de Cultura, Márcio Ângelo Ribeiro, a representante do eixo Patrimônio Material e Imaterial do Conselho Municipal de Cultura, Zenaide Rocha, o Conselheiro e Secretário da Mesa Diretora do Conselho Municipal de Juventude, Jucinei Martins; além de Roosevelt Duarte, Coordenador da Casa dos Conselhos, acompanhado do Secretário Executivo Alan Marcelo, e o Especialista em Preservação Patrimonial, o Arqueólogo Juazeirense Carlos Rocha.

Na reunião foram destacados vários pontos ligados à falta de cuidados com a história de Juazeiro, através do descaso com o seu Patrimônio Cultural, material e imaterial, e os possíveis caminhos para a mudança dessa postura.

De acordo com o Engenheiro Agrônomo, e graduando em Administração Pública, Jucinei Martins, a preocupação inicial foi com a preservação e destino do casarão situado na orla de Juazeiro, o qual era sede da antiga FRANAVE – Companhia de Navegação do São Francisco, órgão do Governo Federal que viabilizava o transporte no rio São Francisco, extinto há vários anos. “A partir da notícia da possível implantação do projeto Parque Fluvial Urbano, com estruturação de toda a margem do Rio, indo da Marinha até o monumento ao Nego D'água, externamos a preocupação permanente da destinação para uso do prédio do casarão, que hoje se encontra isolado, evitando-se a invasão que antes acontecia, mas do qual a sociedade não tem nenhum conhecimento de uma possível utilização pelo poder público. E temos que nos precaver para depois não sermos surpreendidos pela instalação de equipamentos públicos ou mesmo privados, como acontece em algumas cidades, de empreendimentos de cunho exclusivo de atendimento burocrático ao púbico ou mesmo comerciais, que nada tenha a ver com o patrimônio histórico da cidade, como museu, galpão e lojas de artesanatos, restaurantes de comidas típicas e tantos outros projetos que possa lá se instalar, mais voltados para a cultura”, informou Jucinei Martins, que tomou a iniciativa de reunir os órgãos colegiados que representam a cultura de Juazeiro, incluindo o Conselho de Cultura do Estado.

Para o professor Roosevelt Duarte Mota, coordenador da Casa dos Conselhos, é uma satisfação ver a sociedade preocupada com o patrimônio da cidade, mais notadamente o histórico e cultural, que é aquele que testemunha a identidade de um povo. “Dentro do casarão da FRANAVE - parcialmente reformado pela Prefeitura Municipal de Juazeiro, em outra gestão, no que diz respeito à cobertura ou telhado, e isolado para evitar a permanência de usuários de drogas e outros moradores sem residência – hoje já existe um local amplo para instalação da Casa dos Conselhos e, inclusive, uma parte da totalidade do prédio pertence ao município, pois funcionava a Escola Companhia de Navegação do São Francisco, que foi passada para o município, diante da obrigação do mesmo gerir a educação infantil, a partir da implantação de tal determinação por lei”, informou Roosevelt Duarte.

Juazeiro tem um Plano Municipal de Cultura, que é um planejamento minucioso, elaborado a partir do esgotamento de discussões envolvendo todos os eixos da cultura, com seus representantes reunidos em conferências municipais, sendo trabalhado, posteriormente, pela Comissão Pro - Plano, eleita em conferência, planejamento esse que se encontra hoje com a Secretaria de Cultura do município e com o Conselho Municipal de Cultura. “O Plano Municipal de Cultura é um instrumento pronto para os poderes constituídos e a sociedade utilizarem de forma oficial e contínua, com todas as nuances de planejamento sério e competente que, se colocado em prática, vai consolidar os anseios da sociedade, colocados no papel de maneira técnica e responsável”, afirmou Márcio Ângelo.

Já o Juazeirense, Carlos Rocha, que se apresentou como profissional da Arquelogia formado pela UNIVASF – Universidade do Federal do Vale do São Francisco, o que também lhe confere habilitação em Preservação Patrimonial, fez uma breve explanação sobre o patrimônio de valor histórico da nossa cidade e afirmou que “o município, além de ter um grande patrimônio cultural, conta com a sensibilidade das pessoas para com o tema, mas que isso não é suficiente. É necessária uma combinação formada pela conscientização da sociedade e daqueles que por ventura tenham a posse do equipamento histórico, e por fim, o empenho, a boa vontade e a condições necessárias daqueles que estão à frente das instituições públicas. É necessário verificar se no Plano Municipal de Cultura foi contemplada uma Carta Arqueológica do município, incluindo os territórios rural e urbano, que nada mais é que um estudo arqueológico, que descreve minuciosamente tudo que se refere aos aspectos históricos do território em estudo. Nessa carta será planejado o engajamento de ações voltadas para o funcionamento satisfatório de todo o complexo cultural do município, levando em consideração a sua história, inclusive com a inclusão das entidades educacionais em todo o processo”, concluiu o Arqueólogo.

De acordo com a titular da cadeira de Patrimônio Material e Imaterial do Conselho Municipal de Cultura, Zenaide Rocha, esse é o momento de nos unirmos enquanto sociedade civil para o fortalecimento de propostas aos governos quanto à preservação das inúmeras peças que formam o patrimônio histórico e cultural de Juazeiro, incluindo os monumentos, que dia após dia são pichados e destruídos na nossa cidade. “Aproveitando a oportunidade em que na cidade está sendo discutida a implantação de um parque em toda a extensão das orlas I e II, quero chamar a atenção para a invasão que há muito tempo acontece com a margem do Rio, por diversos condomínios residenciais, que, além de invadirem a área de preservação ambiental permanente do rio São Francisco, que é uma faixa longitudinal de 500 metros de largura, nas duas margens, fato esse totalmente desrespeitado em nosso município, que é de onde tenho conhecimento, com construções de mansões, com parque, jardim, campo e quadra de esportes, píer e tudo mais, na margem do rio, quando na verdade as leis proíbem qualquer tipo de intervenção há menos de 500 metros do rio, mesmo que seja desmatamento para plantio de sequeiro ou irrigado”, informou a Conselheira, que também chamou a atenção para o fato desses mesmos condomínios impedirem o aceso dos Povos de Terreiro à margem do rio, mais precisamente a antigos “bebedouros” naturais dos animais e pontos antigos de atracação de pequenas embarcações, onde os mesmos desenvolviam seus cultos religiosos, tendo agora que se deslocarem para grandes distancias; sendo isso apenas um reflexo da não valorização e descaso para com as culturas das comunidades tradicionais.

PARQUE FLUVIAL URBANO

O Parque Fluvial Urbano pretende revitalizar os aspectos físicos e paisagísticos de toda a extensão da orla de Juazeiro, compreendendo da Marinha, na Orla II, ao bairro Angari. Visa à contemplação da educação ambiental, com a inclusão da comunidade escolar, desportistas, além de moradores do entorno. É uma parceria do Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA), Ministério do Meio Ambiente e do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal (CEF).

ENCAMINHAMENTOS

Os presentes na reunião, após avançarem nas discussões, decidiram fazer encaminhamentos, ficando a senhora Zenaide Rosa, juntamente com Jucinei Martins e Carlos Rocha buscarem informações contidas no Plano Municipal de Cultura e viabilizarem junto ao Conselho Municipal de Cultura ou Secretaria de Cultura do Município, uma cópia do Plano de Cultura para a Casa dos Conselhos. Outro encaminhamento foi uma reunião com o presidente do Conselho Municipal de Cultura, Helder Ferrari, para estudar uma maneira de fortalecimento daquele Conselho. Também foi encaminhado o agendamento de reunião com o Ministério Público do Estado da Bahia para buscar informações sobre as condições pelas quais são construídos os diversos condomínios nas margens do rio, já que existem as leis federais que regem a proteção das áreas de proteção ambiental permanente, constituindo-se numa prática totalmente absurda e ilegal.

Por Jucinei Martins