ARTIGO – “XIII...! NÓS ‘FOI’ PRESO, MESMO!”

No jargão popular existe duplicidade de entendimento quanto à legitimidade da prática do crime; uns, mais prudentes e cautelosos, dizem que “o crime não compensa”, enquanto outros, atrevidos e gananciosos, afirmam que “o crime compensa”. Diante dessa última concepção, são capazes de tudo na busca do lucro fácil, utilizando das mais astutas artimanhas e estratégias, e julgando-se acima das leis e dos valores vigentes. É triste a constatação de que esse tipo de marginalidade hoje infesta os espaços que deveriam estar ocupados por autoridades íntegras e incumbidas exatamente de punir os criminosos. Ao contrário, num conluio sem precedentes, assaltam a nós cidadãos, descaradamente, roubando nossas consciências e metendo com gosto a mão em nossos bolsos.

A sociedade brasileira foi surpreendida dias atrás com um vasto e melancólico noticiário, no qual o áudio gravado de um diálogo jocoso, debochado e presunçoso entre um empresário e seu executivo, extravasava um amplo desejo de anarquizar com as autoridades constituídas, induzindo, inclusive, que gostaria de um encontro com o então Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para dizer-lhe “que na escola que ‘tu’ estudou, eu fui professor”! Com a aparência de empresários vitoriosos e inteligentes – até mesmo na esperteza para a prática de inúmeros crimes empresariais –, com trânsito no mundo dos negócios, inclusive na área internacional, seria de se esperar um linguajar menos rude e não tão pobre no uso da língua portuguesa! Refiro-me à dupla composta pelos irmãos Joesley e Wesley, e mais o executivo do seu grupo, Ricardo Saud, cujo trio, de alta periculosidade, hoje está preso.

Desafio a quem possa recordar ter visto algo semelhante em nossa história, de alguém ter praticado tantos crimes em série, de grande impacto econômico contra Bancos e empresas do Estado, corrompendo governos e agentes públicos em troca de vantagens expressivas e facilidades que conduzissem ao enriquecimento ilícito, e por uma decisão estratégica se oferece para denunciar os cúmplices envolvidos, desde que não fosse preso, e isso tenha sido aceito e articulado por Procuradores do Ministério Público! Era um privilégio que agredia as consciências honestas deste país, finalmente reconsiderado pela Justiça!

A verdade é que, como estava, não podia ficar. Era indigno para a sociedade ter de testemunhar, diariamente, as imagens de dois empresários corruptores ativos, a circularem sorridentes e debochados, responsáveis que eram pela sangria de bilhões de reais dos recursos públicos, favorecidos pela conivência criminosa de bandidos travestidos de autoridades, deputados e senadores, e alguns governantes, receptores de muitos milhões em propinas de toda ordem.

Não defendo, apenas, a prisão desses empresários como se fosse a solução final, mas, também, de todos aqueles por eles denunciados, e após o levantamento das provas necessárias pelo Ministério Público. Obviamente que a justiça tem de ser aplicada, independentemente do cargo que os delatados exerçam ou exerceram na República, ou qual o Partido Político envolvido, porque, somente assim, através desse processo depurativo que aí está em andamento, poderemos alimentar um mínimo de esperança de que esse país ainda seja passado à limpo, e não viva, permanentemente, com a pecha de que não tem jeito!

Pouco mais de três meses faltam para se adentrar ao ano eleitoral de 2018, quando os principais cargos do Poder Executivo – Governadores e Presidente da República -, e o Poder Legislativo (Deputados e Senadores), terão os seus eleitos pelo voto popular. Naturalmente que os marqueteiros de plantão já estão articulando as melhores táticas para contornarem na mídia e nos palanques, o caráter enlameado de seus contratantes. Os candidatos novos no pleito, talvez ainda imunes aos efeitos do lamaçal, certamente não encontrarão o espaço desejado.

Deplorável é ver que a reforma política em discussão está articulada no sentido de assegurar a autoproteção e o retorno ao Congresso dos mesmos de sempre. São raposas cuidando do galinheiro! Para mim só vejo uma saída, e ela passa por nós cidadãos comuns que, enganadamente, colocamos essa corja lá em cima, nos lugares mais altos para nos representar.

Oxalá a Justiça brasileira julgue os processos a tempo de nos livrar dos ladrões de carteirinha da política nacional, bem como dos salvadores da pátria e mártires de plantão, impedindo-os de saírem candidatos a qualquer cargo!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).