Com a licença do leitor

“O índice de leitura, indica que o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria. Do total de livros lidos, 2,43 foram terminados e 2,53 lidos em partes. A média anterior era de 4 livros lidos por ano. Os dados foram revelados na tarde desta quarta-feira, 18, e integram a quarta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil” (Estadão2016).

Considerando que a leitura é fundamental para o desenvolvimento social dos indivíduos e para a formação crítica da sociedade, eu questiono:

Como uma cidade do porte de Juazeiro, a mais importante cidade do norte da Bahia não tem um evento literário? Como é possível que não tenhamos uma feira do livro com o porte que a cidade e a região exige?

Temos centenas de escolas municipais, estaduais, universidades e institutos federais, temos uma população carismática, receptiva, uma paisagem deslumbrante um potencial turístico invejável, mas não temos interesse político de quem nos governa em promover essas atrações, não é difícil abrir o Google e ver o sucesso da FLICA: 

“Todos os anos, escritores de diversos matizes se reúnem para debater e interagir com o público, que tem acesso gratuito a todas as atrações do evento. Política, música, biografias, religião e principalmente literatura de ficção, a criação literária, são temas presentes nas mesas de debate da Flica. A festa costuma atrair mais de 20 mil visitantes a Cachoeira, cidade que durante a Flica respira literatura em múltiplas manifestações.” (Site da Flica*). 

Não é preciso nem citar o manancial de artistas da palavra que a nossa região dispõe, escritores-escritoras de diversas idades, títulos e  temáticas diferentes que vão desde as classes mais abastadas até a beira das periferias e dos interiores que ás vezes desconhecemos, o que está sendo feito em relação a estes que são os guardiões da palavra, que não encontram patrocinio, e não encontram incentivo para publicar algo que na maioria das vezes reflete sua comunidade, não encontram um edital nem esbarram por aí com uma emenda que lhes permita ser também beneficiados pela mínima fatia da soma dos impostos da coletividade, não, não há um concurso de poemas, não há um festval de contos, tendo como tema “Os encantos do folclore ribeirinho” não, nem sequer uma proposição de algo que se vislumbre no sentido de promover a literatura local.

O que causa estranheza, em certos casos revolta é que só há verba para atividades pontuais, eventos,

que aglomeram grandes grupos de pessoas mas que são ineficazes no sentido de suprir uma demanda cultural, de ações formativas, oficinas , cursos, palestras, promoção do contato do público com o artista, é preciso democratizar os recursos, se tem 1.800.000 reais pra fazer um carnaval gasta só 1.000 milhão ou joga de uma vez na mão da iniciativa privada e deixa o resto pra promover cidadania, pra financiar um encontro de dança, uma exposição de artes plásticas, pra ampliar a biblioteca que,  eram duas mas agora só tem uma, pra publicar pelo menos  um LIVRO senhores representantes do povo, pois um povo que não lê é mais facilmente dominado, é um fato, mas não quero crer  que este seja o dogma aqui aplicado, embora se assemelhe.

Em tempo, tenho acompanhado a pancadaria que desaba gratuitamente sobre o governo municipal todos os dias, e entendo que existam outras prioridades enquanto reconheço que avançamos muito em asfalto e educação, mas quase nada em política cultural e patrimônio, e isso reflete na violência que observamos diariamente. Em uma cidade sem promoção cultural, a juventude fica mais vulnerável:

“Para tentar esclarecer quais são as principais causas do au­mento da violência na cidade, o Gazeta do Oeste propôs um debate entre especialistas. A discussão é quase unânime para as causas do aumento da violência: o crescimento da população, aliado à baixa oferta de empregos; a falta de incentivo à cultura, esporte e outras atividades para os jovens, em detrimento do incentivo às festas que pro­movem o consumo de bebidas alcóolicas e outras drogas;”(Portal Gazeta do Oeste**)

Portanto, muito embora se conselho fosse bom ninguém dava, vendia, deixo aqui um conselho do sábio Maquiável para aqueles que mandam e os que pensam que mandam no pé de Juá, “o Príncipe pode ser amado ou temido, de preferência os dois, mas nunca odiado”. Escrevo estas linhas em resposta à provocação de um companheiro, justa por sinal, que pede que a crítica seja mais propositiva apesar de que, sei bem que a crítica bem-feita, bem fundada incomoda mais do que a destrutiva, que por si só se anula, contudo, nos dois casos me parece, não surte efeito na consciência de quem pode fazer algo para mudar as coisas que nos interessam mais.

Com a licença do leitor, e até a próxima,

João Gilberto Guimarães

*http://flica.com.br/edicoes-anteriores/flica-2017/

**https://www.g37.com.br/c/divinopolis/por-que-a-violencia-aumenta