ESPAÇO DO LEITOR: “JOÃO DOIDO”, JUAZEIRO MAIS POBRE

08 de Aug / 2017 às 23h00 | Espaço do Leitor

Ele era apenas alguns anos mais velho que eu;  seu nome  de Batismo: João Ferreira Martins, viveu icógnito por trás de um apelido que lhe tornou muito mais famoso que o seu próprio nome mas, será o seu apelido que ficará gravado nos corações dos juazeirenses, principalmente no daqueles do seu tempo. Melhor dizendo: do nosso tempo, pois desde quando eu me entendi por gente, já o conheci como “João Doido”, não tenham dúvidas que sempre será o “doido” mais querido de Juazeiro e, é com este nome, que eu rogo às autoridades que não deixem se perder a memória de “João Doido”, patrimônio da loucura amável, em Juazeiro.

Incapaz de fazer mal a quem quer que fosse. De um cuidado extraordinário com objetos alheios e pessoas; não podia ver um carro estacionado com a porta aberta que logo interrogava:

-“Eu fecho, eu fecho???” E saía a recolher tudo o que tivesse no interior do veículo, antes de fechar-lhe as portas, a seguir, entregava tudo na casa do proprietário.
Quando éramos crianças, senão de idade mas em espírito, gostávamos de tirar o sossego de João e de outros nossos irmãos fracos de juízo, daquele tempo, como é o caso de “Amassa Barro”, “Galo Choco”, “Bico Doce”, etc. João sempre foi o mais espirituoso de todos eles.

Sempre que via alguém com um certo conhecimento, admoestava: - A calça?

Recebido como um filho na família Tanuri, em Juazeiro, pelos seus patriarcas, Sr. Américo e Dona Mariá Tanuri, passou muitos anos ao abrigo daquela família tradicional da cidade, bem vestido, calçado, alimentado, aparência boa; porém o destino reserva para esses nossos irmãos, algo que somente o Criador Incriado, o Supremo Arquiteto do Universo, saberia explicar.

Era tradicional, porém nunca foi desrespeitosa, a sua maneira de desejar beijar as pessoas, principalmente do sexo masculino e, quando o fazia, perguntava à sua vítima (será que ganhar um beijo de João, era mesmo ser uma vítima?), pergunte por quem eu sou doido, pergunte! E ele mesmo respondia: - Por você, meu gostooooso!!!

E assim ele ía levando a vida, sem belicosidade, sem violência, dando exemplo a muitos dos que têm juízo perfeito, de como se vive em sociedade.

Nos últimos meses, percebi a ausência de João pela cidade. Depois vir a saber que o mesmo encontrava-se enfermo. Doeu-me o coração quando fiquei sabendo que o nosso amigo “João Doido”, nome pelo qual ele será sempre lembrado em nosso meio, havia falecido.

Siga em paz meu amigo, que um coro de Anjos venha ao seu encontro, porque você é digno como a criança que havia dentro de você, e que o nosso Pai Amantíssimo, lhe recolha no seu redil, para que você seja mais uma das suas ovelhas. AMÉM.

Carlos Augusto Cruz - Médico/Advogado

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