Aos 90 anos e com cinco formações, pernambucana inicia graduação em jornalismo

Manter a mente ativa e sem perder o prazer pelo aprendizado. O que pode ser um desafio para muitos jovens é a realidade da pernambucana Dorothi Lira da Silva, que chega aos 90 anos matriculada na sexta formação.

Aluna do curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), a idosa tem encontrado na graduação um incentivo para se manter ativa.

Nascida em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, Dorothi aprendeu a ler em casa, aos sete anos, com a ajuda da mãe. Após concluir a formação básica, a jovem precisou interromper a jornada escolar devido ao medo do pai de uma doença que, até então, não tinha tratamento: a tuberculose. 

Impedida de cursar o ensino médio, na época chamado de ginásio, Dorothi precisou começar a trabalhar quando ainda tinha apenas 13 anos. Somente após quase duas décadas, já casada e com três filhos, a pernambucana conseguiu retomar os estudos. 

“Eu falei para o meu marido que ia estudar e ele dizia que não tinha necessidade, mas fui mesmo assim”, afirmou. 

Com insistência e desejo pelo aprendizado, Dorothi concluiu a primeira formação, em pedagogia, curso que era exigido para que ela pudesse atuar como professora. E foi justamente o bom desempenho na profissão que levou Dorothi a outras três formações: ensino religioso, ciências físicas e biológicas e matemática. 

Na lembrança, a idosa destaca o início da relação com o ensino religioso e o aprendizado, que teve duração de três anos. 

“Um dia a Secretaria de Educação definiu que era preciso ter uma pessoa responsável pelo ensino religioso. Foi aí que a minha superior me chamou e disse: ‘Ninguém quer, a única pessoa da igreja é você’. Quando falei que não tinha formação, ela me respondeu com: ‘Vai atrás’. E eu fui”. 

Apesar de já ter acumulado formações diversas, Dorothi manteve dentro de si o sonho de cursar jornalismo. Depois de aposentada, já com seis filhos, dez netos e quatro bisnetos, a idosa retomou a jornada nos estudos.

Moradora de Olinda, ela viu na Focca (Faculdade de Olinda) a oportunidade de buscar mais uma graduação. Porém, a falta do curso tão desejado na instituição de ensino perto da sua casa não foi um impedimento para esse retorno. Durante a matrícula, Dorothi optou pelo curso de direito, graduação concluída no ano passado. 

No entanto, a conquista do diploma não apagou o desejo de cursar jornalismo. “Enquanto ainda estava na faculdade, eu ouvia os professores falando o tempo todo: ‘Escreva, escreva, escreva’. Mas eu ainda não me achava pronta para isso. Foi aí que decidi que ia, sim, fazer jornalismo”. 

Matriculada no primeiro período do curso da Unicap, Dorothi convive diariamente com alunos e professores bem mais novos. A diversidade na sala de aula encanta a idosa, que conta com satisfação sobre a relação que mantém com os colegas de classe.

“A turma tem 18 alunos, o mais novo tem 17 anos. Eles me ajudam o tempo todo, vivem querendo me ajudar a carregar a bolsa, a subir no elevador, me ajudam em tudo. Os professores também são muito atenciosos comigo, todos mais novos”, contou animada. 

Para ela, se manter ativa é uma forma de ocupação. Com orgulho, dona Dorothi relata a rotina na universidade que inclui a apresentação de trabalhos e a realização de atividades que exigem dedicação.

“Eu gosto do campo acadêmico, faço para não ficar parada. Estudar é uma motivação para mim. Além do curso de jornalismo, também tenho outras ocupações. Faço um curso de computação para me ajudar a estudar. Eu já tinha feito um, mas não foi suficiente, então agora estou fazendo outro”, afirmou.

Além do ensino formal, ela também é auxiliada pela família, que apoia e vibra com as conquistas da idosa. “Meu neto me ajuda quando preciso fazer alguma atividade no computador, ele imprime o que preciso e me auxilia. Também me ajuda a ir e voltar da faculdade porque não me sinto pronta para dirigir, mesmo tendo habilitação”, declarou.  

Para as próximas gerações, Dorothi revela o desejo de que o ensino se torne cada vez mais acessível e de maior qualidade.

“Eu quero que as crianças possam estudar e aprender o que precisam, que esse ensino seja de qualidade e atenda a todos”, concluiu. 

Folha PE Foto redes sociais