Artigo - Quem é a nossa seleção? O mercado injusto do verde e amarelo

Nesta quinta-feira (24/11), a seleção brasileira estreia na Copa do Mundo de 2022 no Catar. O clima de copa já chegou em todo o país, ruas pintadas e o comércio se encheu com as cores da seleção canarinho. Mas esse clima significa uma real identificação com o time brasileiro?

Em um grupo complicado, o Brasil disputa o primeiro jogo contra a Sérvia e vai em busca do tão sonhado hexa, depois de 20 anos da última conquista em 2002.

Hoje, a canarinho conta com craques que atuam nas maiores ligas de futebol do mundo e não vive dependente do principal jogador do time, Neymar Jr., já que agora temos outros convocados que são estrelas internacionais e nacionais, como Vinicius Jr. e Pedro, que dão esperança do título aos torcedores.

Mas existe uma real identificação com a seleção? O ex-dirigente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, foi acusado de assédio sexual e moral quatro vezes, a CBF não se pronunciou em nenhum momento sobre o uso da camisa da seleção brasileira em campanhas políticas e lançou o uniforme do time para a copa do mundo com um preço fora da realidade financeira da maioria dos brasileiros.

Então, seria possível despolitizar a camisa da seleção? Hoje, ainda não. A polarização no Brasil tomou proporções maiores do que se era esperado e atualmente é impossível não ligar o uso da amarelinha à política. A CBF lançou uma campanha de marketing pregando a união dos brasileiros e exaltando a camisa ao som de “Tão Bem”, uma canção de Lulu Santos. Entretanto, ainda não funcionou. Vários movimentos tentam trazer a amarelinha como um símbolo nacional de todos novamente, porém as pessoas preferem comprar blusas de outras cores que não se assemelhem a nenhum político, mas ainda demonstram um carinho pelo futebol e pelo Brasil.

As camisas oficiais titular (a famosa amarelinha) e reserva (a tradicional azul), seja na versão masculina ou feminina, custam 349,99 reais, fora do alcance da maioria dos torcedores. O jeito é ir comprar no camelô ou em alguma lojinha que vende blusas da seleção similares ou quase iguais a oficial, de vários tamanhos, de várias cores e, principalmente, com preços mais acessíveis. A venda e compra dessas blusas ajudam o comerciante que tira sua renda de seu comércio e deixam o comprador feliz por ter uma blusa para torcer para seu país, mas, infelizmente, nem tudo são flores. Essa prática coopera com a pirataria, que ajuda a manutenção de trabalhos análogos à escravidão, do trabalho infantil e do contrabando. E hoje, com um Brasil com 33 milhões de pessoas passando fome, a CBF e sua fornecedora (Nike) parecem não entender a situação atual do país.

O brasileiro prefere então cooperar com absurdos como esses por não ter a oportunidade de comprar o “manto sagrado” do que tirar um terço da sua renda mensal – que faz a feira, paga as contas, compra remédios – para comprar a “camisa oficial da seleção brasileira”.

De qualquer forma, o torcedor decidiu vestir a camisa da seleção, seja do camelô (que eu também comprei) ou a camisa oficial, de qualquer cor, de qualquer jeito, na verdade. Hoje o espírito de todos os brasileiros está voltado para torcer pelo nosso país.

 João Pedro Tínel, estudante do curso de graduação em Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).  

Foto Geraldo José