Clubes do Nordeste equilibram as contas e o jogo contra os times mais ricos

Fortaleza e Bahia foram os dois melhores times nordestinos no campeonato brasileiro de 2019. Ambos se classificaram para a Copa Sul-Americana e terminaram à frente de Vasco, Atlético Mineiro, Fluminense, Botafogo e Cruzeiro, equipes do Sudeste que são historicamente mais tradicionais que as do Nordeste. 

A inversão da hierarquia tradicional do futebol nacional continua na nova temporada: enquanto os ditos maiores clubes precisam economizar e vender atletas para equilibrar as contas, os nordestinos convencem jogadores a contrariarem o êxodo mais comum com novas estruturas e patamares financeiros.

A realidade é consequência do planejamento de Fortaleza, Bahia e Ceará (o outro nordestino que permaneceu na elite, embora tenha ficado em 16º lugar) que, mesmo com faturamentos menores, estão acabando com a fama intocável das consideradas grandes equipes do Brasil.

As situações econômicas dos clubes são comparáveis através dos orçamentos divulgados pelas próprias equipes. Entre o fim e o começo do ano, as diretorias publicaram as previsões orçamentárias para o ano de 2020, onde levam em conta quanto irão gastar, entre salários, despesas e investimentos, e quanto irão receber, entre negociações, receitas de televisão, prêmios esportivos e venda de ingressos.

“Essas previsões costumavam ser peças de ficção bizarras porque não correspondiam com a realidade, imaginando vendas incertas e resultados improváveis para fechar o orçamento”, pontua Fernando Ferreira, especialista em gestão esportiva da Pluri Consultoria. “Mas neste ano senti uma preocupação maior com as finanças. Os clubes estão mais realistas com as despesas e conservadores com as receitas, como deve ser, especialmente as impressionantes administrações de Fortaleza, Bahia e Ceará".

Entre os elogiados planejamentos, o com maior faturamento é o do Bahia. A gestão do presidente Guilherme Bellintani prevê uma receita de 179 milhões para a temporada de 2020, com uma folha salarial de aproximadamente 3,5 milhões mensais. Somando os gastos com o departamento de futebol, dívidas e custos administrativos, as despesas devem chegar nos mesmos 179 milhões e, por isso, o Bahia não prevê superávit em 2020 —o que, segundo Ferreira, não deixa de ser elogiável. “A gestão do Guilherme [Bellintani] já é excelente por não causar prejuízo”, diz. Bellintani completa: “Dobramos o faturamento em dois anos, mas o grande endividamento deixado pelas gestões anteriores é o que ainda freia esse superávit”. A precoce e surpreendente eliminação do tricolor baiano na Copa do Brasil para o River do Piauí, na primeira fase, estragou parte dos planos de Bellintani, uma vez que o presidente esperava captar ao menos quatro milhões a mais de acordo com o desempenho no torneio nacional.

Ainda assim, o Bahia é mais popular que Ceará e Fortaleza, bicampeão brasileiro e, na visão de Ferreira, o clube nordestino com mais capacidade de alavancar receitas. O time baiano foi quem mais arrecadou com ingressos em 2019 no Nordeste e, nos últimos anos, fez algumas das vendas mais relevantes da região, como Zé Rafael para o Palmeiras, Jean para o São Paulo e Rodrigo Becão e Júnior Brumado para o exterior. As negociações foram no sentido contrário a partir do ano passado, quando o Bahia comprou o zagueiro Juninho do Palmeiras e Fernandão, que estava na Arábia Saudita. Em 2020, trouxe o atacante titular do Corinthians, Clayson; pegou emprestado o lateral do Internacional, Zeca; comprou o meia do Cruzeiro, Rodriguinho; e convenceu o desejado Rossi a trocar o Vasco por Salvador.

Rossi estava na mira de Atlético Mineiro e Fluminense, mas escolheu o Bahia, segundo o mesmo, pela estrutura e “projeto muito ambicioso”. O Vasco também tinha o desejo de renovar com o atacante, mas não houve acordo por conta de “promessas não cumpridas”, nas palavras de Rossi, por parte dos cariocas. O clube vascaíno, que acumulou um prejuízo de 14 milhões de reais no segundo semestre do ano passado, quando tinha um gasto salarial de 3,3 milhões de reais por mês (contando apenas carteira de trabalho), não tem um centro de treinamento, enquanto o Bahia oferece um novo a Rossi. “Investimos 35 milhões no CT nos últimos três anos, o que também fez o clube dar esse salto”, conta o presidente Guilherme Bellintani.

El País