Inflação atinge produtos e serviços essenciais, difíceis de cortar ou substituir

A inflação registrada no Brasil nos últimos meses tem imposto uma dificuldade adicional aos brasileiros. Subiram os preços de produtos e serviços difíceis de cortar ou substituir.

O orçamento está cada vez mais enxuto. “Por exemplo, sempre acabo deixando ou o cartão por último e aí vou na luz e na água, na compra do mês. Não sobra nada”, contou Denise Torres, auxiliar de produção.

Agora é a seca que pressiona os preços. A crise hídrica já impactou as contas de luz com o acréscimo da bandeira vermelha. Do campo, já chegam notícias de quebra de safra de milho, café, cana-de-açúcar… Quanto menos se colhe, mais caro fica o que vai para o mercado.

“Crise hídrica que afeta não só a geração de energia, como também a produção de alimentos. A previsão para este ano pode trazer um pouco mais de pressão inflacionária lá na frente”, alertou o economista André Braz, do Ibre-FGV.

No acumulado em 12 meses, muitos produtos básicos subiram mais do que a inflação geral. É o caso dos alimentos, como arroz, feijão e óleo de soja. Gás de botijão e gasolina também estão subindo.

Os aumentos se espalharam por tudo que é essencial no nosso dia a dia. Além dos alimentos, os preços administrados, que são aqueles bens e serviços regulados de alguma maneira pelo governo, também estão sendo reajustados, caso dos remédios e da energia elétrica.

Em 2020, o governo segurou alguns desses aumentos por causa da pandemia. Mas, agora, a conta chegou.

“Quando a gente olha para preços administrados e alimentos no domicílio, só aí a gente tem mais de 40% do índice. Só que quando você olha isso para as famílias mais pobres, isso ainda é muito maior. O orçamento das famílias mais pobres é composto basicamente por alimento, tarifa de energia elétrica, transporte público, um pouco de medicamento e um pouco gás de botijão, que é justamente aquilo que tem subido nos últimos meses”, ressaltou a economista Maria Andréia Parente Lameiras, do Ipea.

Os economistas lembram que a inflação do que é básico sobe num momento do emprego em queda.

“O indivíduo com emprego no mercado de trabalho consegue mal ou bem driblar os aumentos de preço; você está empregado, você tem uma fonte de renda. Agora imagine a família sem emprego tendo que enfrentar aumentos dessa magnitude em itens básicos”, comentou André Braz.

E a saída é uma só. “A vacinação tem que avançar para o setor de serviço de fato voltar a apresentar maior dinamismo e que, assim, então, ele assuma seu papel de grande contratador de mão de obra no país; e que isso gere esse aumento de postos de trabalho e de renda que a gente tanto precisa”, concluiu Maria Andréia.

JN