Morre Mestre Azul, integrante da banda cabaçal dos Irmãos Aniceto

A Associação Cultural Irmãos Aniceto (Acia) informou nas redes sociais, na manhã desta quinta-feira (28), o falecimento de Mestre Azul.

A causa da morte não divulgada. Segundo relatado por integrantes da Associação, ele participaria de uma apresentação na manhã desta quinta.

Pela demora em chegar ao ponto de encontro dos demais membros da banda, parte do grupo foi até a casa dele. Ao chegar, encontraram Mestre Azul sem vida.

"É com o mais profundo pesar que noticiamos o falecimento, agora pela manhã, do Mestre Azul, como era conhecido José Vicente da Silva, integrante da banda cabaçal dos irmãos Aniceto".  ASSOCIAÇÃO CULTURAL IRMÃOS ANICETO

 velório aberto ao público está marcado para iniciar nesta quinta-feira (28), às 18h, na Rua do Posto de Saúde n° 48, no Bairro Batateira. Na sexta-feira (29), missa de corpo presente na Igreja Nossa Senhora Aparecida, no mesmo bairro, seguida por homenagens no Centro Cultural do Cariri, até as 15h30, com sepultamento no Cemitério Nossa Senhora da Piedade.

"Hoje Azul se junta aos mestres Raimundo, Antônio e todos os seus ancestrais do tronco velho dos Kariri. Traduzindo os sons da taboca, da taquara e da madeira oca, unia cultura e natureza em seu ofício e refletia os saberes das bandas cabaçais do sertão do Cariri cearense e nordestino. Azul se encantou, mas continuará inspirando todos que fazem parte da família Aniceto e aos que são tocados pela cultura popular e tradicional, onde ele terá sempre seu legado vivo. O Ceará seguirá celebrando e perpetuando sua memória", diz trecho da nota de pesar emitida pela Secretaria da Cultura do Ceará. 

LEIA NOTA DE PESAR DA SECULT NA ÍNTEGRA
Com muita tristeza nos despedimos do Mestre Azul, como era conhecido José Vicente da Silva, da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, exímio dançarino e pifeiro dessa tradição que atravessa o século. Sussurraram os anjos que é dia de festa no céu, hoje Azul se junta aos mestres Raimundo, Antônio e todos os seus ancestrais do tronco velho dos Kariri.

Traduzindo os sons da taboca, da taquara e da madeira oca, unia cultura e natureza em seu ofício e refletia os saberes das bandas cabaçais do sertão do Cariri cearense e nordestino. Azul se encantou, mas continuará inspirando todos que fazem parte da família Aniceto e aos que são tocados pela cultura popular e tradicional, onde ele terá sempre seu legado vivo. O Ceará seguirá celebrando e perpetuando sua memória.

Toda nossa solidariedade aos seus familiares e amigos, que eles possam encontrar alento e luz na lembrança de sua alegria e simplicidade.

A HISTÓRIA: O criador da Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri, em Nova Olinda-Ceará, o educador e pesquisador Alemberg Quindins costuma dizer que o Ceará é um Estado de Espírito do vento/cariri que sopra com saudade do Mar. Patativa do Assaré. Luiz Gonzaga e Padre Cícero, arqueologia e gestão cultural são fontes de vida.

Alemberg diz que a Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura. O Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura.

No Crato, Ceará, a Banda de Pife dos Irmãos Aniceto há 208 anos é uma das mais importantes formações da cultura tradicional popular no Ceará e no Brasil. Fundada em 10 de maio de 1835. A Bande de Pife dos Irmãos Anicetos continua a manter e transmitir a singular manifestação cultural que herdou de seus antepassados, revelada nas sonoridades e nos processos de construção de instrumentos musicais com origem no sertão cearense do século XIX.

A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto se destaca na história cultural do Ceará, especialmente da região do Cariri, onde constitui uma herança ancestral da cultura brasileira. A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto representa uma reverência profunda às raízes culturais nordestinas.

A Banda Cabaçal dos irmãos Aniceto já se apresentou duas vezes na França, em Portugal e na Espanha. No ano de 2007 a Banda recebeu a Medalha Ordem do Mérito Cultural (OMC), do Ministério da Cultura, na época entregue pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Siva e o então Ministro da Cultura Gilberto Gil

A Banda dos Irmãos Aniceto surgiu em 10 de maio de 1835, tendo como idealizador José Lourenço da Silva (pai do Mestre Antônio). Na capa dos discos, é usada a denominação “cabaçal” que decorre do fato que antigamente os tambores eram confeccionados de pele de bode estirada sobre cabaças. Outra versão diz que o nome vem um ritual dos índios Kariris, em que tocavam pifanos e queimavam Jurema-preta nas cabaças,

Os irmãos Aniceto lançaram quatro registros fonográficos: o primeiro em 1978, patrocinado pelo Ministério da Educação e Cultura; o segundo em 1999, produzido pela Cariri Discos em parceria com a Equatorial Produções; o terceiro em 2004, intitulado “Forró no Cariri”, e o quarto em 2013, intitulado “Sou Tronco, Sou Raiz”. Também lançaram um DVD, gravado em 2008, no Theatro José de Alencar, registrando a histórica apresentação da Banda Cabaçal em conjunto com a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho.

Originária dos pés de serra e da periferia do Crato, a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto já alcançou considerável projeção regional, nacional e européia, inclusive brilhando ao lado de Hermeto Pascoal e do Quinteto Violado. Em 1998, participou de uma temporada de um mês e quatro dias no espetáculo “Ciranda dos Homens, Carnaval dos Animais”, do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, no Teatro do Sesc Pompéia, em São Paulo.

A mais popular banda cabaçal cearense também participou de filmes e documentários para TV. Exemplo o documentário Raiz Ancestral revela que a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto apresenta os incríveis e performáticos músicos da família. Gerações de uma mesma família mantém a arte de tocar, dançar e representar o Cariri em uma manifestação autêntica, única e original.

Neste ano de 2023 a Banda continua em nova geração de músicos tocadores mostrando como preserva a cultura através de composições inspiradas no trabalho da roça e na observação do cotidiano da vida do sertão. As performances contam com instrumentos de sopro e percussão, como pífanos, zabumba, caixa e pratos de metal, representando toda a originalidade e chamando a atenção universalmente em todos os cantos do planeta.

A MISSÃO da Banda de Pife dos Irmãos Aniceto é de ampliar e transmitir com amor e espírito comunitário seus saberes ancestrais reinventando o Cariri, inspirando novos filhos, sobrinhos e netos que fazem a família Aniceto e a todo mundo que toca e é tocado pela cultura brasileira dos sons e ritmos do pife. 

A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto – que já atravessou dois séculos – segue com seus ensinamentos na jornada do tempo da natureza e da cultura.

Redação redegn Foto redes sociais