ARTIGO – OS POLÍTICOS CAMALEÕES

A cada sessão do Congresso Nacional transmitida pelas TVs das duas Casas, cresce o convencimento de que os discursos pronunciados pelos nossos legisladores quase sempre não guardam coerência ideológica ou fidelidade a princípios programáticos contidos nos Regimentos dos seus partidos, mas se ajustam a um conjunto de conveniências oportunistas para preservar ou reconquistar o Poder político perdido. Certamente que escapam raríssimas exceções num universo de 513 Deputados e 81 Senadores, conclusão que é aviltante aos eleitores que os elegeram no cumprimento do dever cívico-democrático de votar. Ou seja, é decepção atrás de decepção e eles não estão nem aí, essa é a grande verdade!

Hoje, estamos diante de uma crise política de grande intensidade, que preocupa a todos porque afeta a normalidade do funcionamento das instituições e faz crescer a intranquilidade dos mercados, com reflexos negativos no conjunto da economia. A nação novamente convive com a possibilidade de mudança no Governo Federal, o que não implica apenas na queda do comando representado pelo Presidente da República, mas significa uma total desestruturação da máquina administrativa. Essa instabilidade política que promove as periódicas alternâncias no poder não é uma exclusividade brasileira como nação, mas, o que mais nos envergonha, nos diferencia e nos deprime, são as razões motivadoras que inspiram essas mudanças, quase sempre por práticas recorrentes e improbidades contumazes.

Fatos surpreendentes se sucedem durante a montagem desses processos, com a invocação das normas constitucionais que ofereçam o embasamento jurídico legal para defenestrar alguém do Poder. Assim, o impeachment “golpista” de ontem, passa a ser um instrumento legal de hoje; uma “delação premiada” que ontem era mentirosa, hoje passa a ser aplaudida como a expressão da verdade; uma escuta telefônica que ontem era repudiada e ilegal, hoje passa a ser aceita como um ato normal; o delator de ontem estava preso e o seu depoimento como tal dependia de prévia homologação do STF, enquanto o delator de hoje se antecipa em oferecer a sua denúncia de forma bandida, e é exaltado como herói em total liberdade.  E por aí se multiplicam as diversas situações em que os “camaleões” de nosso universo político mudam de cor e se amoldam a qualquer novo quadro político, desde que seja para garantir o Poder. Sim, leitor, são manhosos no uso da camuflagem que os fazem se protegerem e, ao mesmo tempo, aproximarem-se de suas presas para o bote final! São envolvidos em inúmeros processos, mas, no disfarce camaleônico, comovem e se apresentam como a solução dos deuses para salvar a pátria! Pobres de nós...!

É uma crise singular: cai um governo e o que entra não encontra no mundo político nomes decentes para compor a nova equipe! O atual governo está na corda bamba, e desde o primeiro dia não conseguiu formar uma equipe estável e com “ficha limpa”, sem que a cada semana caia um Ministro ou Assessor por alguma acusação de grave contágio pela doença crônica da corrupção. A queda do Temer parece uma questão de tempo, mas colocar quem no Poder? Se não temos nomes limpos para formar um Ministério, muito pior encontrar nos quadros políticos um nome decente para comandar a Nação! Será preciso fazer duas Emendas Constitucionais: 1ª.) que autorize a ELEIÇÃO DIRETA para vetar a INDIRETA prevista na Constituição, porque dentro do Congresso não há nomes limpos; 2ª.) que faculte buscar na sociedade, sem a exigência legal da prévia inscrição partidária – atualmente mínimo de 6 meses -, algum nome de respeito para resgatar o Brasil do caos! Acredito que do lado de fora das “facções” que dominam o cenário político, há nomes que podem oferecer essa alternativa. Os políticos ora com pretensão presidencial, ou estão presos ou ainda serão... A emenda também deveria impedir de serem candidatos a qualquer cargo os nomes envolvidos em falcatruas, condenados ou não!

Poderia ser entendida como uma análise dura as minhas palavras, no entanto, vejam o que disse da Tribuna um Senador da República: “Se vier a renúncia, nós vamos ter um problema. É que o Presidente vai ser o Presidente da Câmara e nesse momento, ele, como quase todos nós, eu costumo dizer nós todos hoje, estamos sob suspeição da opinião pública, não tem exceção, uns mais outros menos” (Senador Cristovam Buarque). Se entre eles é esse o conceito existente, imagine qual a avaliação que o Povo está fazendo disso tudo que aí está!                                                                

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).