ESPAÇO DO LEITOR: O BIGODE E O CARÁTER

Era eu criança, porém me lembro, quando o meu velho pai contava uns “causos”, onde o mesmo afirmava que, alguns homens do seu tempo e do tempo dos seus pais, compravam fiado nas bodegas daqueles idos e, em não tendo dinheiro para pagar, arrancavam um fio do bigode e davam como fiança ao dono do estabelecimento.

Era mais fácil faltar água no Rio São Francisco, do que um daqueles homens faltar com a sua palavra. Como se diz  na gíria, “podia chover canivete”, mas eles vinham pagar aquilo que afiançaram, com apenas um fio do seu bigode.

Homem é esse aí, e não muitos dos arremedos que hoje surgem na nossa sociedade, ludibriando a boa fé das pessoas, atrás de votos para se elegerem e, depois de eleitos, viram às costas para este mesmo povo, procurando apenas se locupletar ou ganhar dinheiro fácil, envolvendo-se em falcatruas e achando que é normal receber propina no exercício de cargos públicos.

A situação está, de tal modo comprometedora, que o justo, paga, pelo pecador; muito embora o justo, neste caso, seja o mínimo do mínimo possível. Aquele que não é corrupto ativo, o é passivo. Aquele que  não recebe a propina de maneira direta, o faz de maneira indireta.

Foi-se o tempo em que o homem só tinha uma palavra e, que, palavra de homem era o mesmo que palavra de rei: Não voltava atrás. Hoje, porém, mudar de ideia, e com a ideia também de palavra, é o que há de mais simples para alguns homens, principalmente se esses homens forem políticos.

Causa-nos náuseas observarmos, diariamente, a falta de caráter de certos políticos na Televisão, enchendo os bolsos, caixas, bolsas, pastas e outros recipientes mais, com a propina recebida para apoiarem a este ou aquele candidato, ou para facilitarem os interesses de outros. Envolvimento este que  atinge por igual a políticos homens e mulheres. O malcaratismo é sempre o mesmo, querem brigar contra o óbvio, contra a imagem gravada por uma câmara de televisão adredemente colocada à espreita, justamente para  fragar-lhes com a “mão na massa”.

E o povo, que nessas horas mais parece bois a caminho do matadouro, está sempre pronto para votar nas mesmas figuras, basta que para tanto tenha início o pleito eleitoral. Inclusive muito mais do que votar, para brigar por candidato esse ou aquele, basta que alguém fale mal do seu escolhido.

E nós, sempre nos decepcionamos, porque estamos sempre esperando que a próxima vez seja a próxima, em que o povão vai, após ver na televisão tantas falcatruas, tantas safadezas, aquela vez em que o povão vai usar a cabeça prá pensar e dizer: desta vez nenhum desses bandidos vai ter o meu voto; mas, que nada, o povão está doido prá tocar a maior arma de que dispõe, que é o voto, por um milheiro de telhas ou de tijolos, por uma caçamba de areia, por alguns sacos de cimento ou, por qualquer outro favorzinho insignificante, que nada mais representa a não ser os restos, as sobras que caem das mesas, dos banquetes daqueles que ao invés de se sentirem nossos empregados, pois para isso, nós os colocamos  lá, acham-se no direito de praticarem verdadeira bandalheira, transformando a Arte da Boa Política num covil de lobos famintos e inescrupulosos.

Mas não faz mal, haverá o dia em que o povo compreenderá o seu papel de tirar e botar a quem bem ele entender que merece, independentemente dos favores individuais.

Afinal, “Quem é mendigo, abençoa os restos que lhe atiram”!

Carlos Augusto Cruz - Médico/Advogado