Artigo - Canudos ontem e hoje

No dia 5 de outubro de 1897 (portanto há 125 anos), ocorreu o desfecho de um dos episódios mais dramáticos da história brasileira.

Tudo começou quando o recém-instaurado governo republicano, com o apoio de setores significativos da elite brasileira (notadamente a igreja Católica, os latifundiários e a imprensa), decidiu exterminar a comunidade sertaneja de Canudos, mobilizando, para tanto, mais da metade de todo o efetivo do exército, que, à época, era de aproximadamente de 20 mil homens.

Dezenas de milhares de sertanejos, incluindo seu líder máximo – Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro – foram mortos durante aquele conflito. Do lado oposto, milhares de outras pessoas, incluindo soldados do exército e integrantes das polícias estaduais, também viriam a perder a vida.

O confronto armado entre civis e militares redundou numa das maiores carnificinas da história do Brasil. 

Era a guerra fratricida de Canudos. 

Após um ano de luta renhida, em que brasileiros se bateram contra brasileiros (daí se tratar de guerra fratricida), o arraial – outrora repouso tranquilo dos pobres e injustiçados – havia sido reduzido a um amontoado de escombros e cadáveres insepultos. 

Canudos é um grito que ecoa no seio desse sertão chamado Brasil, à espera de ações concretas que façam jus ao projeto de Antônio Conselheiro e reparem de uma vez por todas todos os crimes perpetrados contra o povo brasileiro ao longo de cinco séculos de esbulho, chicote e hipocrisia. 

A tarefa é urgentíssima e há de ser concretizada por meio de políticas que sejam capazes de garantir plena cidadania à gente sertaneja (e também à gente não sertaneja). Não a cidadania da retórica fácil e oportunista, mas a cidadania do pão, do vinho, do lápis, do livro, do laptop; ou, como dizia um democrata baiano, “a cidadania do talão de cheque no bolso” – talão de cheque ou algo que o valha, digo eu. 

Quando isso de fato ocorrer (e se isso de fato ocorrer), o Brasil poderá enfim se redimir perante o sertão – o sertão valente, mas ensanguentado.    

José Gonçalves do Nascimento  

Escritor